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ECOS DO REGIME
Nota do Exército sobre fotos que seriam de jornalista e declaração de general sobre Kerry irritam o presidente
Caso Herzog abre crise entre Lula e Defesa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A divulgação de fotos que supostamente mostram o jornalista
Vladimir Herzog momentos antes de sua morte provocou ontem
uma crise entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Defesa.
A nota oficial sobre as fotos em
que o jornalista, apresentado como suicida em 25 de outubro de
1975, aparece nu em uma cela sob
custódia do Exército fez crescer
um mal-estar que já havia sido desencadeado na semana passada.
Na sexta-feira, o comandante da
Missão da ONU de Estabilização
no Haiti, o general brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, relacionou a onda de violência em
Porto Príncipe a declarações do
candidato democrata John Kerry
em favor do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, que deixou o
país em fevereiro após protestos e
um levante armado.
Ontem, antes de embarcar para
Curitiba, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva convocou o ministro
José Viegas (Defesa) para pedir
explicações. Segundo assessores
do presidente, ele avalia que os
dois casos passam a impressão de
que Viegas não tem autoridade
sobre o Exército.
Lula ficou particularmente irritado com o teor da nota do Exército, que em sua avaliação tem um
estilo elogioso às práticas adotadas durante o regime militar contra militantes de esquerda.
Segundo Lula, o tipo de manifestação do general Heleno não
poderia ser dada sem consultas ao
governo brasileiro, especialmente
ao ministro da Defesa. O comandante se retificou ontem, dizendo
que foi mal interpretado.
Depois da cobrança de Lula,
Viegas informou que iria conversar com o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, para saber quem havia decidido publicar a nota sobre Herzog. Viegas estava disposto a divulgar outra nota, dessa vez da
Defesa, mas não o fez ontem.
O texto do Exército, divulgado
em resposta à notícia publicada
no domingo pelo "Correio Braziliense" sobre as fotos de Herzog
ainda vivo e em condições humilhantes, diz que "as medidas tomadas pelas Forças Legais foram
uma legítima resposta à violência
dos que recusaram o diálogo, optaram pelo radicalismo e pela ilegalidade e tomaram a iniciativa de
pegar em armas e desencadear
ações criminosas".
Assessores de Lula avaliaram
que esse trecho foi elaborado como se o país ainda estivesse sendo
comandado pelos militares, o que
ele considera inadmissível. Outro
trecho do texto divulgado que irritou o presidente é o que afirma
que "o movimento de 1964, fruto
de clamor popular, criou, sem dúvidas, condições para a construção de um novo Brasil, em ambiente de paz e segurança".
A situação de Viegas no governo é delicada. Sua demissão é tida
como certa na reforma ministerial que Lula deve promover após
o segundo turno das eleições.
Os dois episódios envolvendo o
Exército podem apenas reforçar a
decisão do presidente de tirá-lo
do ministério, ainda que ele não
tenha tido participação direta nos
episódios. Viegas pode ser substituído pelo ministro Aldo Rebelo
(Coordenação Política).
Hoje, na reunião da Comissão
de Direitos Humanos da Câmara,
o deputado Chico Alencar (PT-SP) pretende propor que o Comando do Exército seja interpelado sobre o teor da nota oficial, que
ele considera "obscurantista".
(VALDO CRUZ E KENNEDY ALENCAR)
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