São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS CORREIOS

Em depoimento fechado, Alberto Youssef afirmou que dava dinheiro a diretores do banco para enviar até US$ 15 mi diários para o exterior

Doleiro diz ter pago propina ao Banestado

RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O doleiro paranaense Alberto Youssef disse ontem, em depoimento reservado na CPI dos Correios, que pagou propina semanal para diretores do Banestado em troca de favorecimentos do banco para poder enviar até US$ 15 milhões diários para o exterior por meio de contas CC-5. Youssef teria dito, conforme parlamentares que participaram da sessão, que o esquema ocorreu de 1996 a 2000.
O doleiro, que cumpre pena em regime semi-aberto sob acusação de evasão de divisas, disse ter enviado para fora do país US$ 2 bilhões no período 1996-2000. Parlamentares estimam que US$ 25 milhões ficaram com Youssef.
Segundo as investigações da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da CPI do Banestado, Youssef e dezenas de doleiros mandavam ao exterior, por meio de contas CC-5 (para residentes no exterior) abertas em nome de laranjas, recursos provenientes de caixa dois e corrupção.
Segundo o doleiro, o Banco Central autorizava o Banestado a fazer operações com CC-5 até um limite de US$ 15 milhões diários. Com o pagamento da propina, Youssef disse que conseguia monopolizar as remessas, atingindo praticamente sozinho o limite.
Parlamentares da CPI disseram que o valor pago por Youssef a diretores do Banestado era de US$ 7.000 semanais -Youssef não citou claramente esse valor.
Youssef foi chamado à CPI porque outro doleiro, Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, havia dito que o paranaense apresentara o deputado José Janene (PP-PR) aos donos da corretora Bônus-Banval, de São Paulo. Supostamente relacionada ao PT e ao PP, a corretora foi o destino de R$ 6,5 milhões das operações financeiras montadas pelo PT e pelo publicitário Marcos Valério de Souza para dar dinheiro a parlamentares.
Youssef negou ter feito a apresentação, mas disse conhecer os donos da corretora e admitiu ser "amigo e compadre" de Janene. Negou ter operado para o deputado e conhecer Valério e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Uma hora de todo o depoimento -que começou às 14h20 e terminou às 19h15- foi aberta à imprensa. Youssef definiu-se como um doleiro que entre 1993 e 2003 apenas operou para outros doleiros sem saber os nomes dos verdadeiros donos do dinheiro.
Na função de "doleiro de doleiros", Youssef disse que foi orientado por um colega, identificado apenas como "Juca", a fazer operações que, segundo o Ministério Público Estadual de São Paulo, estão relacionadas a Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo.
Youssef disse que "Juca" orientou-o a transferir "US$ 1 milhão ou US$ 2 milhões" (a PF tem registrado US$ 1 milhão) de uma conta sua no Banestado de Nova York para uma conta de Maria Rodrigues, gerente da agência do banco UBS na Suíça onde Maluf manteria recursos, segundo a acusação de PF e Ministério Público -o que o ex-prefeito nega.
Além disso, "Juca" também teria determinado a Youssef que recebesse cerca de US$ 2 milhões depositados por empresas subcontratadas por empreiteiras que executaram a obra da avenida Roberto Marinho, ex-Água Espraiada, na gestão de Maluf.


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