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QUESTÃO AGRÁRIA
"Ocupar terra não é reforma agrária', diz
José Rainha quer
Seligman ministro
em Teodoro Sampaio
O líder do MST no Pontal do Paranapanema José Rainha Júnior,
que, na opinião de Raul Jungmann
(ministro da Política Fundiária),
perdeu a credibilidade, afirmou
ontem estar disposto a dialogar e
até firmar um pacto com o governo, mas quer que o ministro deixe
o cargo.
"É a opinião do ministro. Acho
que o Milton Seligman (presidente
do Incra) é mais preparado que ele
e deveria assumir o cargo", afirmou Rainha, ao comentar declarações de Jungmann publicadas ontem pela Folha.
Ao contrário do que disse o ministro, o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) afirma que nunca esteve enfraquecido na organização e que
continua "radical por natureza".
Disse também ser favorável ao
fim dos litígios. "Ocupar terra
não é reforma agrária." Leia a seguir trechos de usa entrevista.
Agência Folha - O sr. está sem
prestígio junto ao ministro?
Rainha - O ministro toma as
posições do governo, que tem uma
lógica diferente da do MST. Se eu
fosse ele, faria o mesmo.
Agência Folha - O ministro afirma que o sr. não tem envergadura
para ser líder.
Rainha - Também tenho opiniões. O Milton Seligman (presidente do Incra) é mais preparado
para ser ministro e deveria assumir. Tem mais jogo de cintura.
Agência Folha - Como é seu relacionamento com o governo?
Rainha - Sempre falei com o
ministro e acho que ele foi fiel nos
telefonemas, em caso de litígios.
Também falo com o Seligman e
outros assessores.
Agência Folha - Em algum desses
telefonemas o sr. alertou o governo sobre a infiltração de um grupo
armado no MST do Pontal?
Rainha - Nunca falei com o general Alberto Cardoso (chefe da
Casa Militar do Palácio do Planalto, que fez a denúncia).
Agência Folha - O sr. confirma ter
convidado o presidente a vir ao
Pontal durante a campanha?
Rainha - A conversa que tive
com o Jungmann e com o Seligman era de que viriam os dois
inaugurar nossa fábrica de fécula
de mandioca.
Disse também que o presidente
seria bem recebido, como autoridade. Faço um convite aberto para
que FHC venha ao Pontal ver a experiência da reforma agrária.
Agência Folha - Mas existe a versão de que o sr. retirou aquele convite por pressão do MST.
Rainha - A direção nacional
nem sabia e nem precisa saber. Temos posições contrárias às do governo, mas tratava da política de
reforma agrária, e o governo investiu na nossa indústria.
Agência Folha - O que o sr. pensa
sobre a proposta de municipalização da reforma agrária, feita pelo
ministro?
Rainha - As prefeituras estão
quebradas, demitindo pessoal. De
onde vai sair o dinheiro? E tem a
questão política. Nas regiões mais
atrasadas, as prefeituras são dominadas pelos latifundiários. O prefeito ficaria obrigado a desapropriar a terra dele mesmo.
Agência Folha - O sr. disse a assessores do ministério que radicalizou no Pontal para não perder espaço no MST?
Rainha - Isso é uma análise de
declarações pontuais e conjunturais que fiz. Em determinadas conjunturas, você tem uma postura e
uma opinião. No momento em
que for preciso radicalizar, vamos.
Agência Folha - O sr. está enfraquecido no MST?
Rainha - De forma alguma. Sou
radical por natureza e quero lutar,
mas temos que acabar com os litígios. Ocupar terra não é reforma
agrária. A reforma agrária é o governo desapropriar e assentar.
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