São Paulo, segunda, 19 de outubro de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
"Ocupar terra não é reforma agrária', diz
José Rainha quer Seligman ministro

em Teodoro Sampaio

O líder do MST no Pontal do Paranapanema José Rainha Júnior, que, na opinião de Raul Jungmann (ministro da Política Fundiária), perdeu a credibilidade, afirmou ontem estar disposto a dialogar e até firmar um pacto com o governo, mas quer que o ministro deixe o cargo.
"É a opinião do ministro. Acho que o Milton Seligman (presidente do Incra) é mais preparado que ele e deveria assumir o cargo", afirmou Rainha, ao comentar declarações de Jungmann publicadas ontem pela Folha.
Ao contrário do que disse o ministro, o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) afirma que nunca esteve enfraquecido na organização e que continua "radical por natureza".
Disse também ser favorável ao fim dos litígios. "Ocupar terra não é reforma agrária." Leia a seguir trechos de usa entrevista.
Agência Folha - O sr. está sem prestígio junto ao ministro?
Rainha -
O ministro toma as posições do governo, que tem uma lógica diferente da do MST. Se eu fosse ele, faria o mesmo.
Agência Folha - O ministro afirma que o sr. não tem envergadura para ser líder.
Rainha -
Também tenho opiniões. O Milton Seligman (presidente do Incra) é mais preparado para ser ministro e deveria assumir. Tem mais jogo de cintura.
Agência Folha - Como é seu relacionamento com o governo?
Rainha -
Sempre falei com o ministro e acho que ele foi fiel nos telefonemas, em caso de litígios. Também falo com o Seligman e outros assessores.
Agência Folha - Em algum desses telefonemas o sr. alertou o governo sobre a infiltração de um grupo armado no MST do Pontal?
Rainha -
Nunca falei com o general Alberto Cardoso (chefe da Casa Militar do Palácio do Planalto, que fez a denúncia).
Agência Folha - O sr. confirma ter convidado o presidente a vir ao Pontal durante a campanha?
Rainha -
A conversa que tive com o Jungmann e com o Seligman era de que viriam os dois inaugurar nossa fábrica de fécula de mandioca.
Disse também que o presidente seria bem recebido, como autoridade. Faço um convite aberto para que FHC venha ao Pontal ver a experiência da reforma agrária.
Agência Folha - Mas existe a versão de que o sr. retirou aquele convite por pressão do MST.
Rainha -
A direção nacional nem sabia e nem precisa saber. Temos posições contrárias às do governo, mas tratava da política de reforma agrária, e o governo investiu na nossa indústria.
Agência Folha - O que o sr. pensa sobre a proposta de municipalização da reforma agrária, feita pelo ministro?
Rainha -
As prefeituras estão quebradas, demitindo pessoal. De onde vai sair o dinheiro? E tem a questão política. Nas regiões mais atrasadas, as prefeituras são dominadas pelos latifundiários. O prefeito ficaria obrigado a desapropriar a terra dele mesmo.
Agência Folha - O sr. disse a assessores do ministério que radicalizou no Pontal para não perder espaço no MST?
Rainha -
Isso é uma análise de declarações pontuais e conjunturais que fiz. Em determinadas conjunturas, você tem uma postura e uma opinião. No momento em que for preciso radicalizar, vamos.
Agência Folha - O sr. está enfraquecido no MST?
Rainha -
De forma alguma. Sou radical por natureza e quero lutar, mas temos que acabar com os litígios. Ocupar terra não é reforma agrária. A reforma agrária é o governo desapropriar e assentar.



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