São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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Brasileiro teria negociado dossiê com Brizola

e de Nova York

O brasileiro Jamil Degan, que mora em Nova York, teria procurado o PDT do Rio para conversar sobre o suposto dossiê sobre uma conta bancária da cúpula tucana em um paraíso fiscal.
O ex-governador do Rio Leonel Brizola, presidente do PDT, nega conhecer alguém com esse nome e ter tentado, na véspera do primeiro turno, negociar o dossiê.
Mas a Folha apurou que o advogado Nilo Batista, que foi incumbido pelo PDT de acompanhar o caso, falou com Degan pelo telefone.
Procurado pela reportagem, Batista se negou a comentar o caso alegando sigilo profissional -ele é advogado do pastor Caio Fábio, o elo de ligação entre as pessoas que conheciam a existência do suposto dossiê e a frente de oposição.
Brizola negou também que Degan, ou qualquer outra pessoa, tenha financiado sua estadia em Nova York, quando esteve exilado durante o regime militar.
Caio Fábio afirmou no sábado passado que a pessoa que exigiu dinheiro pelos supostos documentos lhe informou ter falado com Brizola sobre o assunto.
O pastor disse desconhecer a identidade dessa pessoa com quem, segundo ele, só se encontrou uma única vez, num hotel em West Palm Beach, em setembro.
A Folha procurou ontem o pastor, pelo telefone, em sua casa e no escritório em Miami, mas não o encontrou. Seu assessor, Robin Glass, afirmou que o pastor não quer mais falar sobre o assunto.
Glass também informou que a viagem de Caio Fábio para o Brasil, marcada para ontem à noite, foi adiada -informação confirmada pela secretária do pastor no Rio.
O empresário Paulo Sergio Rosa, amigo de Caio Fábio e uma das pessoas com quem o pastor conversou sobre o assunto, também não foi encontrado em Miami, onde reside.
No escritório de sua empresa em Miami -a Nova Gestão-, um funcionário que não se identificou informou que Rosa viajou anteontem à noite para a Califórnia e que só voltaria à cidade na segunda-feira.
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"Folclórico" "Vou para a Flórida e depois volto para Curitiba. Vou gastar um pouco dos milhões que consegui graças ao presidente." Assim Jamil Degan teria se despedido na semana passada, em Nova York, segundo conhecidos brasileiros.
Segundo pessoas que o conhecem, Degan é de Araraquara, tem estatura média e cabelos brancos. Foi descrito como uma pessoa "folclórica" e brincalhona.
Degan seria proprietário de um escritório na rua 46 (a chamada "rua dos brasileiros"), número 45, entre a Quinta e a Sexta avenidas. A Folha esteve no prédio ontem. O local estava com a porta trancada.
O vendedor Jorge Lay, da loja vizinha Microstar Computers, disse que Degan havia voltado para Curitiba. Desde sexta-feira ele não aparece por lá. A informação foi confirmada por outro lojista, que não quis se identificar.
O escritório de Degan não é registrado na Associação Brasileira de Comércio (AB), em Nova York. Segundo o vice-presidente da entidade, José Matias, Degan nunca procurou o órgão. Matias disse conhecê-lo só "de vista".
A atividade de Degan é desconhecida, segundo pessoas com as quais a Folha falou. Seu último emprego foi na loja Brasil Som, como vendedor, há um ano e meio.
"Depois, ele abriu este escritório, que, para ser sincera, não sei o que faz", disse Lea Felzen, dona da loja.
Foi na Brasil Som que Degan esteve sexta-feira, anunciando que iria viajar. "Ninguém levou muito a sério as palavras dele porque ele é muito folclórico, muito brincalhão", afirmou.
Segundo o dono da loja Tom Brasil, também na rua 46, Wellington Silva, Degan realmente conhecia Leonel Brizola, a quem supostamente teria tentado vender o dossiê. Mas Silva diz que todos na rua conhecem o político.
"Ele vem sempre aqui fazer compras, fala com todo mundo. Já os vi várias vezes juntos, mas não posso dizer que são amigos", disse.
Degan tem uma mesa reservada no restaurante Via Brasil, mas também não tem ido almoçar lá, como de costume.
Os conhecidos dizem que Degan está há cerca de 20 anos nos Estados Unidos, é casado com uma brasileira de nome Maria Ângela e já teve vários negócios no país.
Entre 1974 e 1976, por exemplo, ele foi co-proprietário de um jornal chamado "Brazilian Change". Seu sócio era Gutemberg Monteiro, 82. "Degan sempre foi uma pessoa honesta e acho difícil que ele esteja envolvido com chantagem", disse à Folha.



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