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Brasileiro teria negociado dossiê com Brizola
e de Nova York
O brasileiro Jamil Degan, que
mora em Nova York, teria procurado o PDT do Rio para conversar
sobre o suposto dossiê sobre uma
conta bancária da cúpula tucana
em um paraíso fiscal.
O ex-governador do Rio Leonel
Brizola, presidente do PDT, nega
conhecer alguém com esse nome e
ter tentado, na véspera do primeiro turno, negociar o dossiê.
Mas a Folha apurou que o advogado Nilo Batista, que foi incumbido pelo PDT de acompanhar o caso, falou com Degan pelo telefone.
Procurado pela reportagem, Batista se negou a comentar o caso
alegando sigilo profissional -ele é
advogado do pastor Caio Fábio, o
elo de ligação entre as pessoas que
conheciam a existência do suposto
dossiê e a frente de oposição.
Brizola negou também que Degan, ou qualquer outra pessoa, tenha financiado sua estadia em Nova York, quando esteve exilado durante o regime militar.
Caio Fábio afirmou no sábado
passado que a pessoa que exigiu
dinheiro pelos supostos documentos lhe informou ter falado com
Brizola sobre o assunto.
O pastor disse desconhecer a
identidade dessa pessoa com
quem, segundo ele, só se encontrou uma única vez, num hotel em
West Palm Beach, em setembro.
A Folha procurou ontem o pastor, pelo telefone, em sua casa e no
escritório em Miami, mas não o
encontrou. Seu assessor, Robin
Glass, afirmou que o pastor não
quer mais falar sobre o assunto.
Glass também informou que a
viagem de Caio Fábio para o Brasil,
marcada para ontem à noite, foi
adiada -informação confirmada
pela secretária do pastor no Rio.
O empresário Paulo Sergio Rosa,
amigo de Caio Fábio e uma das
pessoas com quem o pastor conversou sobre o assunto, também
não foi encontrado em Miami, onde reside.
No escritório de sua empresa em
Miami -a Nova Gestão-, um
funcionário que não se identificou
informou que Rosa viajou anteontem à noite para a Califórnia e que
só voltaria à cidade na segunda-feira.
²
"Folclórico"
"Vou para a Flórida e depois volto para Curitiba. Vou gastar um
pouco dos milhões que consegui
graças ao presidente." Assim Jamil
Degan teria se despedido na semana passada, em Nova York, segundo conhecidos brasileiros.
Segundo pessoas que o conhecem, Degan é de Araraquara, tem
estatura média e cabelos brancos.
Foi descrito como uma pessoa
"folclórica" e brincalhona.
Degan seria proprietário de um
escritório na rua 46 (a chamada
"rua dos brasileiros"), número 45,
entre a Quinta e a Sexta avenidas.
A Folha esteve no prédio ontem. O
local estava com a porta trancada.
O vendedor Jorge Lay, da loja vizinha Microstar Computers, disse
que Degan havia voltado para Curitiba. Desde sexta-feira ele não
aparece por lá. A informação foi
confirmada por outro lojista, que
não quis se identificar.
O escritório de Degan não é registrado na Associação Brasileira
de Comércio (AB), em Nova York.
Segundo o vice-presidente da entidade, José Matias, Degan nunca
procurou o órgão. Matias disse conhecê-lo só "de vista".
A atividade de Degan é desconhecida, segundo pessoas com as
quais a Folha falou. Seu último
emprego foi na loja Brasil Som, como vendedor, há um ano e meio.
"Depois, ele abriu este escritório,
que, para ser sincera, não sei o que
faz", disse Lea Felzen, dona da loja.
Foi na Brasil Som que Degan esteve sexta-feira, anunciando que
iria viajar. "Ninguém levou muito
a sério as palavras dele porque ele é
muito folclórico, muito brincalhão", afirmou.
Segundo o dono da loja Tom
Brasil, também na rua 46, Wellington Silva, Degan realmente conhecia Leonel Brizola, a quem supostamente teria tentado vender o
dossiê. Mas Silva diz que todos na
rua conhecem o político.
"Ele vem sempre aqui fazer compras, fala com todo mundo. Já os vi
várias vezes juntos, mas não posso
dizer que são amigos", disse.
Degan tem uma mesa reservada
no restaurante Via Brasil, mas
também não tem ido almoçar lá,
como de costume.
Os conhecidos dizem que Degan
está há cerca de 20 anos nos Estados Unidos, é casado com uma
brasileira de nome Maria Ângela e
já teve vários negócios no país.
Entre 1974 e 1976, por exemplo,
ele foi co-proprietário de um jornal chamado "Brazilian Change".
Seu sócio era Gutemberg Monteiro, 82. "Degan sempre foi uma pessoa honesta e acho difícil que ele
esteja envolvido com chantagem",
disse à Folha.
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