São Paulo, Domingo, 19 de Dezembro de 1999


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QUESTÃO AGRÁRIA
Dono de cinco fazendas quer processar FHC e Jungmann; "estou cheio", diz
Fazendeiro nega ter terra grilada

ROBERTO SAMORA
da Agência Folha, em Campo Grande

Arthur José Hofig Júnior, dono de cinco fazendas em Mato Grosso do Sul cujos cadastros no Incra foram cancelados pela portaria do governo federal, afirmou que, "se possível", vai processar o ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) e o presidente da República.
"Não vou brincar mais, estou cheio, vou consultar os melhores advogados e, se tiver chance, vou processar até o Fernando Henrique." O fazendeiro também tem propriedades em São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
Hofig Júnior, 60, disse que "é o maior absurdo do mundo" a inclusão de suas fazendas (Antares, Vista Alegre, Canivete, Karima e Córrego Azul), distribuídas em cerca de 76 mil hectares, no "Livro Branco sobre a Grilagem de Terras no Brasil".
Ele disse que seu pai, Arthur Hofig, comprou a área na região de Brasilândia (MS) em 1949, em leilão promovido pela União. As terras, pertencentes a alemães, teriam sido encampadas durante a Segunda Guerra Mundial.
"Meu pai simplesmente comprou em leilão do governo federal. Se o governo vendeu terras griladas, o país está acabado."
Dono da maior criação de porcos do Brasil e proprietário de uma das maiores plantações de café do país, Hofig Júnior afirmou que a inclusão de pessoas que não são grileiros no livro "ou é incompetência do governo ou uma forma de desestabilizar o proprietário rural".
Orley Saravy Trindade, um dos sócios da Agropecuária Ás de Ouro, proprietária de duas fazendas na região de Corumbá (MS), a Anacã do Corixão e a Anacã da Baía Verde, disse possuir escritura definitiva das propriedades que tiveram cadastro cancelado.
"Nós compramos de Italino Pereira há 20 anos, a escritura é centenária. Para mim, não existe grilo, isso é novidade", afirmou Trindade. "Se as terras são griladas, não sei mais o que vai virar o direito à propriedade."
Ele contestou também informação do governo de que as duas fazendas têm mais de 130 mil hectares. "A Corixão tem 16 mil hectares, e a Baía Verde, 11 mil hectares." A pecuária é a principal atividade na área.

Portaria
Na quinta-feira passada, o ministro Raul Jungmann divulgou portaria cancelando o cadastro no Incra de 93,6 milhões de hectares que teriam sido grilados, com títulos de propriedade fraudulentos. A área corresponde a 11% do território nacional ou a 3,8 vezes o Estado de São Paulo.
Pela portaria, os pretensos proprietários de 3.065 imóveis atingidos pela medida terão 120 dias para comprovar a legalidade dos títulos. Do contrário, as terras poderão ser transferidas para o patrimônio da União e dos Estados por meio de ação judicial.


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