|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Dono de cinco fazendas quer processar FHC e Jungmann; "estou cheio", diz
Fazendeiro nega ter terra grilada
ROBERTO SAMORA
da Agência Folha, em Campo Grande
Arthur José Hofig Júnior, dono
de cinco fazendas em Mato Grosso do Sul cujos cadastros no Incra
foram cancelados pela portaria
do governo federal, afirmou que,
"se possível", vai processar o ministro Raul Jungmann (Política
Fundiária) e o presidente da República.
"Não vou brincar mais, estou
cheio, vou consultar os melhores
advogados e, se tiver chance, vou
processar até o Fernando Henrique." O fazendeiro também tem
propriedades em São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
Hofig Júnior, 60, disse que "é o
maior absurdo do mundo" a inclusão de suas fazendas (Antares,
Vista Alegre, Canivete, Karima e
Córrego Azul), distribuídas em
cerca de 76 mil hectares, no "Livro
Branco sobre a Grilagem de Terras no Brasil".
Ele disse que seu pai, Arthur
Hofig, comprou a área na região
de Brasilândia (MS) em 1949, em
leilão promovido pela União. As
terras, pertencentes a alemães, teriam sido encampadas durante a
Segunda Guerra Mundial.
"Meu pai simplesmente comprou em leilão do governo federal. Se o governo vendeu terras
griladas, o país está acabado."
Dono da maior criação de porcos do Brasil e proprietário de
uma das maiores plantações de
café do país, Hofig Júnior afirmou
que a inclusão de pessoas que não
são grileiros no livro "ou é incompetência do governo ou uma forma de desestabilizar o proprietário rural".
Orley Saravy Trindade, um dos
sócios da Agropecuária Ás de Ouro, proprietária de duas fazendas
na região de Corumbá (MS), a
Anacã do Corixão e a Anacã da
Baía Verde, disse possuir escritura definitiva das propriedades
que tiveram cadastro cancelado.
"Nós compramos de Italino Pereira há 20 anos, a escritura é centenária. Para mim, não existe grilo, isso é novidade", afirmou
Trindade. "Se as terras são griladas, não sei mais o que vai virar o
direito à propriedade."
Ele contestou também informação do governo de que as duas fazendas têm mais de 130 mil hectares. "A Corixão tem 16 mil hectares, e a Baía Verde, 11 mil hectares." A pecuária é a principal atividade na área.
Portaria
Na quinta-feira passada, o ministro Raul Jungmann divulgou
portaria cancelando o cadastro
no Incra de 93,6 milhões de hectares que teriam sido grilados, com
títulos de propriedade fraudulentos. A área corresponde a 11% do
território nacional ou a 3,8 vezes o
Estado de São Paulo.
Pela portaria, os pretensos proprietários de 3.065 imóveis atingidos pela medida terão 120 dias para comprovar a legalidade dos títulos. Do contrário, as terras poderão ser transferidas para o patrimônio da União e dos Estados
por meio de ação judicial.
Texto Anterior: Lanterna na Popa - Roberto Campos: As leis da política Próximo Texto: MST anuncia invasão de fazendas com transgênicos Índice
|