São Paulo, terça, 20 de janeiro de 1998.



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SÃO PAULO
Ex-prefeito atende a apelo de Lula; Renato Simões, da 'esquerda' petista, reafirma que vai às prévias do PT
Palocci desiste de concorrer com Marta

CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local


A deputada federal Marta Suplicy é desde ontem a pré-candidata oficial das correntes moderadas do PT ao governo paulista. Antonio Palocci, ex-prefeito de Ribeirão Preto, retirou sua postulação e passa a apoiar Marta.
Palocci, atual presidente do PT de São Paulo, foi convencido a desistir por Luiz Inácio Lula da Silva, patrocinador da campanha de Marta. A deputada vai enfrentar em prévia, no dia 29 de março, o deputado estadual Renato Simões, da "esquerda" do PT.
"Espero que o gesto do Palocci sirva de exemplo para outros candidatos e setores do partido", afirmou Lula. O recado, obviamente endereçado a Simões, foi inútil.
"O que está se pedindo é a adesão incondicional, sem discutir a linha programática da campanha, e isso eu não farei", disse Simões.
A cúpula do PT, com Lula e José Dirceu (presidente nacional da legenda) à frente, queria transformar Marta já na candidata à sucessão de Mário Covas.
Palocci explicou a desistência como uma aposta no potencial eleitoral da deputada. "A Marta tem uma abordagem diferente do ângulo político tradicional numa eleição carregada de projetos tradicionais", declarou.
A maneira "diferente" de Marta atuar na política também foi realçada por Lula, que, paradoxalmente, é criticado por setores da esquerda por supostamente estar preso a dogmas.
Lula disse que, em seu entender, a deputada petista tem condições de atrair a juventude e pessoas desmotivadas para o debate político. "As coisas boas da Marta são exatamente as polêmicas", acha.
O virtual candidato petista à Presidência da República recorreu a uma frase curiosa para frisar a importância de um discurso renovado no partido: "A Marta tem coragem de discutir na TV o que muitos só discutem no banheiro".
Favorita na disputa interna com Simões, a deputada não perdeu o mote do discurso inusitado. "Existe uma parcela do eleitorado que está enfastiada com os políticos tradicionais", afirmou. "A população está cheia de números. Ela quer saber como um programa de governo vai afetar sua vida", acrescentou.
Apesar do aparente consenso dos grupos moderados em torno de Marta, existe em setores da cúpula do PT o temor de que a deputada faça uma campanha excessivamente independente do partido.
O fantasma recorrente, aí, é a campanha derrotada de Luiza Erundina (hoje no PSB) à Prefeitura de São Paulo em 1996.

Simões
Mesmo sabendo que tem chance mínima de vencer Marta na prévia (a "esquerda" controla cerca de 25% do partido em São Paulo), Simões se disse disposto a "pagar o preço" de um eventual desgaste.
"Não se pode reeditar campanhas em que o programa ficou em segundo plano", declarou.
Simões criticou a desistência da Palocci. "De repente, substituiu-se o discurso do consenso, que o Palocci vinha fazendo, pelo discurso da adesão."
Aos 35 anos, Simões cumpre seu primeiro mandato de deputado estadual. Formado em filosofia e católico praticante, o parlamentar integra no PT a corrente "Fórum Socialista", de pequena expressão numérica e praticamente restrita ao Estado de São Paulo.
Antes de ser deputado, Simões atuou como assessor de sindicatos da região de Campinas, cidade em que tem sua base eleitoral.



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