São Paulo, terça, 20 de janeiro de 1998.



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Governador não sabe se apoiará Lula
Fora do PT, Buaiz diz estar melhor

HÉLIO SCHWARTSMAN
de Vitória

Depois de romper com o PT, partido que o levou ao governo do Espírito Santo, mas cujos deputados se tornaram sua principal força de oposição, Vítor Buaiz adotou o PV e diz que tudo melhorou, tanto emocional como politicamente. Afirma que não concorre à reeleição. Leia a seguir trechos da entrevista.

Agência Folha - Como foi sair do PT?
Vítor Buaiz -
Melhorou muito. No aspecto emocional, no aspecto político mesmo, e do ponto de vista da sociedade. Foi uma mudança radical. Foram quase dois anos e meio de conflito. E aquilo ajudou a afundar o partido e o governo.
Agência Folha - E isso não prejudicou seu apoio na Assembléia Legislativa? Afinal, a bancada já lhe fazia oposição.
Buaiz -
Na Assembléia foi mais tranquilo, mesmo porque os deputados anteriormente não aceitavam que eles, que eram de partidos conservadores, garantissem a aprovação de projetos enquanto os próprios representantes do partido do governo votavam contra.
Agência Folha - Temos agora uma corrida presidencial e o PV tende a apoiar Ciro Gomes; o senhor, porém, nunca rompeu com Lula. Como o senhor fica nessa situação?
Buaiz -
Conversei com o Lula esta semana, e ele está vindo a Vitória (no próximo dia 2). Mas o PV ainda está discutindo essa questão. A tendência do PV, hoje, é mais uma aliança de centro-esquerda.
Agência Folha - E o senhor acredita que essa aliança de centro-esquerda possa surgir?
Buaiz -
Depende das circunstâncias. Lula representa uma composição de esquerda e Ciro é mais centro-esquerda, mas como as coisas não estão definidas, o PV ainda vai fazer uma discussão nacional.
Agência Folha - E o senhor? Como amigo do Lula?
Buaiz -
Eu vou dar minha opinião quando for a hora.
Agência Folha - Mas e o coração? Fica com o Lula ou com quem o PV mandar?
Buaiz -
Aqui não tem emoção, tem razão.
Agência Folha - Política só com razão?
Buaiz -
No caso desta eleição. Porque se o Lula entrar como candidato para atender aos setores mais radicais do PT, eu não entro nessa. Nessa emoção eu não entro. Já a vivi demais e de perto e sofri bastante. Minha quota de sacrifício foi além da capacidade de entendimento da própria sociedade.
Agência Folha - E a reeleição? O senhor é candidato?
Buaiz -
Não, não. Não sou candidato.
Agência Folha - Por quê?
Buaiz -
Eu era favorável à tese da reeleição, só achava que não deveria ter sido colocada em pauta no Congresso Nacional antes de discutir as reformas e aprová-las. Hoje está tudo atrasado porque o processo foi atropelado pela reeleição.
Agência Folha - E o seu futuro? O senhor é médico (gastrenterologista). Terminado o mandato, o que vai fazer?
Buaiz -
Eu volto para os meus empregos.
Agência Folha - Quais são?
Buaiz -
Professor universitário e Previdência Social.
Agência Folha - E a situação do Estado? Dizem que o senhor pegou um Estado falido. Ao mesmo tempo, parte da população diz que o senhor fez muitas promessas eleitorais e não cumpriu. O senhor prometeu tanto, mesmo sabendo que não haveria dinheiro?
Buaiz -
Mais, 80% na folha. Olha, o inconsciente popular cria uma imagem de que político promete muito. Na verdade, o que nós nos comprometemos a fazer é tentar construir um projeto novo para o Espírito Santo, tendo como prioridade a saúde, a educação e a segurança pública. Agora, uma coisa é você ter um programa de governo e outra é quando você chega à realidade do governo. Aí você apanha. O que nós fizemos até hoje foi a reforma do Estado. Colocamos a máquina a serviço da população, tiramos privilégios, informatizando a máquina e treinando e qualificando servidores.
Agência Folha - O programa de demissões voluntárias está funcionando?
Buaiz -
Está. Entre demissões voluntárias e compulsórias foram 3.500 servidores. Funcionários da ativa no Executivo devem ser em torno de 40 mil. Daí você tem os inativos e os funcionários do Legislativo e do Judiciário. Para o Judiciário, mensalmente, eu transfiro R$ 12.159.579; para o Legislativo R$ 4,4 milhões; e para o Tribunal de Contas, R$ 1.861.000. A folha da PM, com muito mais funcionários, é de R$ 9 milhões.
Agência Folha - Falando em PM, como anda a política de segurança pública?
Buaiz -
Existem duas vertentes na segurança pública: a carcerária e o aparato policial. Nós trabalhamos no sentido de melhorar a qualidade do profissional. Nenhum militar ganha hoje menos de R$ 800. Temos a implantação da polícia interativa.
Agência Folha - Pelo que pude observar, existem duas polícias; a dos bairros ricos, onde tudo funciona muito bem, e a dos pobres. Como é isso?
Buaiz -
Mas eles (os ricos) pagam a um fundo da polícia (civil e militar), segundo projeto aprovado pela Assembléia Legislativa. Com esse dinheiro que os ricos pagam, nós compramos equipamentos para atender aos bairros mais pobres.



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