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Tucano não escolheu marqueteiro, não definiu estratégia e não sabe como se descolar de FHC sem ofendê-lo
Marketing é primeiro problema de Serra
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A definição de uma estratégia de
marketing político é uma das dificuldades imediatas do pré-candidato tucano à Presidência, o ministro da Saúde, José Serra.
Além de hesitar entre escolher
um único marqueteiro ou formar
um conselho de publicitários para
atendê-lo, Serra tem dúvida sobre
como apresentar suas características pessoais na campanha e sobre como se diferenciar do presidente Fernando Henrique Cardoso sem ofendê-lo.
Um dos quatro marqueteiros
com os quais Serra tem conversado nos últimos meses diz que o
candidato não pode querer se
mostrar simpático demais, transformando-se num beijoqueiro de
crianças e eleitores. Soaria falso.
No entanto, afirma que, dentro
de certos limites, o ministro precisa tentar diminuir o carimbo de
antipático e procurar melhorar a
aparência física.
No lançamento da candidatura,
na quinta, Serra seguiu o roteiro à
risca. Cortou cabelo, fez sauna um
dia antes para limpar a pele, maquiou-se, usou teleprompter para
passar a impressão de que fazia
um discurso de improviso, mas
foi contido. Não abusou dos sorrisos nem dos abraços. E usou, ao
discursar, um tom solene, meio
professoral. O problema é que a
cerimônia aceitava um figurino
sóbrio. Para tentar tirar votos da
"simpática" governadora do Maranhão e pré-candidata do PFL,
Roseana Sarney, Serra não sabe se
a receita deve ser a mesma.
Em relação a FHC, o problema é
o discurso econômico. Serra sempre criticou a política econômica
muito mais do que o PFL. Mas,
por necessitar do governo para
crescer nas pesquisas e tentar superar a pefelista, o ministro da
Saúde precisa ser o candidato
mais identificado com o governo.
Serra, porém, teme que a identificação imponha um teto para o
crescimento e que Roseana, apesar de estar politicamente mais
distante do presidente, acabe por
abocanhar um segmento do dito
eleitorado governista -aquela
fatia de 20% a 25% que aprova os
dois governos de FHC.
O próprio presidente desconfia
de que, caso Serra decole nas pesquisas, venha a sofrer um bombardeio maior do ministro. FHC
não gostou da menção de Serra ao
governador Itamar Franco
(PMDB-MG) no discurso de lançamento. O ministro relacionou
Itamar ao Plano Real.
Ou seja, Serra precisa de FHC
para crescer, mas também precisa
de alguma liberdade de crítica ao
governo para se viabilizar.
A relação de Serra com os marqueteiros sempre foi para lá de
complicada. Nizan Guanaes (ex-DM9), que fez a campanha derrotada de Serra à prefeitura paulistana em 1996, costuma dizer que o
tucano não aceita determinadas
orientações. Ambos saíram brigados da campanha de 96.
Um exemplo, segundo um publicitário, foi o slogan que Serra
lançou para seu eventual governo:
"Nada contra a estabilidade, tudo
contra a desigualdade". Do ponto
de vista publicitário, devido às negativas, é considerado infeliz.
Eterno insatisfeito com a opinião de um só marqueteiro, Serra
namora a idéia de montar uma
equipe deles. Detalhe: esse tipo de
coisa não costuma funcionar.
Ainda mais se Nizan, que não
gosta de dividir poder, estiver no
time. Em 1998, Nizan boicotou a
colaboração de Fernando Barros
(Propeg) para a campanha da reeleição de FHC. Fernando Barros,
aliás, é um dos marqueteiros que
têm aconselhado Serra.
Dos cotados para a campanha,
Nelson Biondi é o que tem estado
mais próximo a Serra. Ex-parceiro de Duda Mendonça nas campanhas malufistas, Biondi é bem
visto por Serra. Traria ainda a
vantagem de conhecer bem Duda, que fechou com Luiz Inácio
Lula da Silva.
Público feminino
Durante evento realizado ontem em Jaçanã (RN), Serra destacou a importância das mulheres
nos programas de saúde. Na opinião do ministro, que foi beijado
por fãs, "o governo reconhece que
a mulher é a melhor fiscal. Ela não
vai desviar o dinheiro para deixar
de dar comida para os filhos".
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