São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2002

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Tucano não escolheu marqueteiro, não definiu estratégia e não sabe como se descolar de FHC sem ofendê-lo

Marketing é primeiro problema de Serra

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A definição de uma estratégia de marketing político é uma das dificuldades imediatas do pré-candidato tucano à Presidência, o ministro da Saúde, José Serra.
Além de hesitar entre escolher um único marqueteiro ou formar um conselho de publicitários para atendê-lo, Serra tem dúvida sobre como apresentar suas características pessoais na campanha e sobre como se diferenciar do presidente Fernando Henrique Cardoso sem ofendê-lo.
Um dos quatro marqueteiros com os quais Serra tem conversado nos últimos meses diz que o candidato não pode querer se mostrar simpático demais, transformando-se num beijoqueiro de crianças e eleitores. Soaria falso.
No entanto, afirma que, dentro de certos limites, o ministro precisa tentar diminuir o carimbo de antipático e procurar melhorar a aparência física.
No lançamento da candidatura, na quinta, Serra seguiu o roteiro à risca. Cortou cabelo, fez sauna um dia antes para limpar a pele, maquiou-se, usou teleprompter para passar a impressão de que fazia um discurso de improviso, mas foi contido. Não abusou dos sorrisos nem dos abraços. E usou, ao discursar, um tom solene, meio professoral. O problema é que a cerimônia aceitava um figurino sóbrio. Para tentar tirar votos da "simpática" governadora do Maranhão e pré-candidata do PFL, Roseana Sarney, Serra não sabe se a receita deve ser a mesma.
Em relação a FHC, o problema é o discurso econômico. Serra sempre criticou a política econômica muito mais do que o PFL. Mas, por necessitar do governo para crescer nas pesquisas e tentar superar a pefelista, o ministro da Saúde precisa ser o candidato mais identificado com o governo.
Serra, porém, teme que a identificação imponha um teto para o crescimento e que Roseana, apesar de estar politicamente mais distante do presidente, acabe por abocanhar um segmento do dito eleitorado governista -aquela fatia de 20% a 25% que aprova os dois governos de FHC.
O próprio presidente desconfia de que, caso Serra decole nas pesquisas, venha a sofrer um bombardeio maior do ministro. FHC não gostou da menção de Serra ao governador Itamar Franco (PMDB-MG) no discurso de lançamento. O ministro relacionou Itamar ao Plano Real.
Ou seja, Serra precisa de FHC para crescer, mas também precisa de alguma liberdade de crítica ao governo para se viabilizar.
A relação de Serra com os marqueteiros sempre foi para lá de complicada. Nizan Guanaes (ex-DM9), que fez a campanha derrotada de Serra à prefeitura paulistana em 1996, costuma dizer que o tucano não aceita determinadas orientações. Ambos saíram brigados da campanha de 96.
Um exemplo, segundo um publicitário, foi o slogan que Serra lançou para seu eventual governo: "Nada contra a estabilidade, tudo contra a desigualdade". Do ponto de vista publicitário, devido às negativas, é considerado infeliz.
Eterno insatisfeito com a opinião de um só marqueteiro, Serra namora a idéia de montar uma equipe deles. Detalhe: esse tipo de coisa não costuma funcionar.
Ainda mais se Nizan, que não gosta de dividir poder, estiver no time. Em 1998, Nizan boicotou a colaboração de Fernando Barros (Propeg) para a campanha da reeleição de FHC. Fernando Barros, aliás, é um dos marqueteiros que têm aconselhado Serra.
Dos cotados para a campanha, Nelson Biondi é o que tem estado mais próximo a Serra. Ex-parceiro de Duda Mendonça nas campanhas malufistas, Biondi é bem visto por Serra. Traria ainda a vantagem de conhecer bem Duda, que fechou com Luiz Inácio Lula da Silva.

Público feminino
Durante evento realizado ontem em Jaçanã (RN), Serra destacou a importância das mulheres nos programas de saúde. Na opinião do ministro, que foi beijado por fãs, "o governo reconhece que a mulher é a melhor fiscal. Ela não vai desviar o dinheiro para deixar de dar comida para os filhos".


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