São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2002

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SUL

Com dois meses praticamente sem chuvas, Rio Grande do Sul é o Estado em pior situação, onde prejuízos já somam R$ 140 mi

Seca deixa 162 cidades em emergência

FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA

MARCELO FLACH
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A paisagem do oeste catarinense e do oeste do Rio Grande do Sul está seca desde novembro. São 162 cidades -números de anteontem- em situação de emergência e prejuízos de R$ 235 milhões no campo.
A seca no Sul contrasta com os reservatórios do Nordeste que apresentavam níveis alarmantes em dezembro e agora já se recuperam por causa das chuvas.
A situação mais grave ocorre no Rio Grande do Sul: 89 municípios gaúchos decretaram situação de emergência. A situação de emergência é decretada pelo município e homologada pela Defesa Civil do Estado com o objetivo de facilitar a liberação de verbas pelo governo federal.
Os dois meses praticamente sem chuvas na região provocam prejuízo acima de R$ 140 milhões nas culturas de soja, milho e feijão, conforme levantamento realizado pela Emater (órgão estadual de apoio técnicos a produtores rurais). A produção gaúcha de grãos apresenta queda de 2,76%, com a perda de 460,8 mil toneladas. Nos últimos cinco anos a maior seca, de acordo com dados da Defesa Civil gaúcha, foi registrada em 1997. Foram cinco meses de estiagem, com 197 municípios em situação de emergência.
O produtor Felice Zago, há sete anos plantando em São Miguel das Missões, disse que nunca enfrentou uma seca semelhante nesse período. Dos 70 hectares cultivados com soja, milho e pastagens, cerca de 20% estão perdidos. Além disso, a produtividade da soja, mesmo que chova, está prejudicada. No ano passado foram colhidas 45 sacas por hectare. Na safra atual o rendimento deve despencar a um terço.
A pecuária também contabiliza as perdas. A produção leiteira caiu 5,5% em relação a janeiro do ano passado, informa Ernesto Krug, presidente da Associação Gaúcha dos Laticinistas. A redução das pastagens e o excesso de calor prejudicam o rendimento do gado leiteiro.
A falta de água para consumo humano está restrita nas zonas rurais sem rede de abastecimento, informa Defesa Civil do Rio Grande do Sul. Poços e fontes superficiais secaram, o que obriga a utilização de caminhões-pipa para abastecer propriedades. Municípios da região das Missões pretendem começar a perfurar poços para garantir água na zona rural.
O diretor da Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento), Adinaldo Soares de Fraga, teme que a estiagem possa afetar o abastecimento das cidades se o nível dos rios não subir nos próximos 15 dias.

Santa Catarina
Em Santa Catarina, 73 cidades já declararam situação de emergência devido à estiagem. Os principais problemas são as perdas na agricultura e o abastecimento de água na zona rural.
O Icepa (Instituto de Planejamento em Economia Agrícola de Santa Catarina) calcula em R$ 95 milhões os prejuízos nas lavouras de feijão e milho. Na lista das cidades que estão sofrendo com a estiagem estão Chapecó, Joaçaba e Coronel Freitas.
Segundo o engenheiro agrônomo Simão Brugnago, do Icepa, a perda na safra de milho na região foi de 15%, o que corresponde a 11% do Estado, e na de feijão, 50%, o que representa 17% da safra de Santa Catarina.
"Em dezembro choveu 97,10 mm aqui, enquanto a média dos últimos 30 anos é de 165,6 mm. Em novembro a precipitação foi de 122,5 mm, sendo que o normal é 164,1 mm", disse o diretor de Desenvolvimento Rural da Secretaria de Agricultura de Chapecó, Ernesto Martinez.
O maior problema, porém, é a irregularidade das chuvas, de acordo com ele. "Além do volume de água ter sido menor, as chuvas não têm sido bem distribuídas ao longo do mês".
No último final de semana algumas cidades da região tiveram chuvas esparsas. No entanto, para resolver o problema, segundo o meteorologista Rodrigo Pereira, do Climerh-SC (Centro de Meteorologia e Recursos Hídricos), seria necessário chover constantemente durante três dias.
Em Chapecó, a população rural está dependendo de quatro carros-pipa cedidos pela Prefeitura e pelo Corpo de Bombeiros para o abastecimento de água. "Estamos recebendo em média 20 pedidos de fornecimento de água diariamente. Temos distribuído 64 mil litros por dia", afirmou Martinez.


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