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Dirceu interfere no Legislativo e
inaugura rolo compressor petista
RAYMUNDO COSTA
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na última terça-feira, o ministro
José Dirceu (Casa Civil), percorreu a pequena distância que separa o Palácio do Planalto do Congresso e foi ao gabinete do senador Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA). O natural seria ACM ir
ao Planalto. Dirceu quis evitar um
constrangimento para o governo.
Aos poucos, o chefe da Casa Civil desenha um novo estilo na articulação política do governo com
o Congresso. Um estilo que até
mesmo alguns aliados consideram de alto risco. A relação com
ACM, expoente da oligarquia
nordestina, seria um exemplo.
As digitais de Dirceu ficaram nitidamente impressas em pelo menos três operações no Congresso:
o "enquadramento" da senadora
Heloísa Helena (PT-AL), que chorou ao ser obrigada a engolir o nome de Henrique Meirelles para a
presidência do Banco Central, a
desastrada articulação para cooptar o PMDB em troca de ministérios e a operação para eleger José
Sarney (PMDB) presidente do Senado. As três revelaram um mesmo estilo, do rolo compressor.
Dirceu começou as conversas
sobre ministério com a cúpula do
PMDB antes mesmo da posse do
novo governo.
Chegou com dois nomes que, tinha certeza, os peemedebistas recusariam. As conversas ficaram
em banho-maria. Mais adiante,
fechou com o partido os ministérios das Minas e Energia e da Integração Nacional.
Lula tinha -e tem- outros
planos. Convencido de que nunca
terá o PMDB inteiro, o presidente
joga na tomada da direção pelo
grupo dissidente do partido. Dirceu teve de voltar atrás e ver arranhado o prestígio de superministro do novo governo.
Para a oposição, especialmente
o PMDB, foi um erro. Argumento: cumprir o acertado é pedra angular das negociações no Congresso. Não é à toa que os dirigentes do partido dizem que o ministro "não é confiável".
Dirceu defende-se dizendo que
informou aos dirigentes peemedebistas que iria levar a proposta
acertada a Lula. O presidente é
que daria a palavra final.
Por essa época, o governo já
emitia sinais de que não cumpriria outro acordo feito por Dirceu
com o PMDB, pelo qual os dois
partidos combinaram apoiar os
candidatos das bancadas majoritárias nas eleições para as presidências da Câmara (PT) e do Senado (PMDB).
O que Dirceu não disse para a
cúpula do PMDB é que o Planalto
apoiaria o candidato indicado pela bancada do partido no Senado
desde que o nome escolhido fosse
o de José Sarney.
Enquanto pôde, o ministro disse que o governo não interferiria.
Mas quando Calheiros, o candidato vetado por ACM, convocou
a bancada, não hesitou em passar
o rolo compressor.
Riscos
A avaliação é recorrente nos
partidos da oposição, mas encontra guarida também na situação:
ao chamar alguns senadores ao
Palácio do Planalto e telefonar para outros tantos, pressionando
em favor de Sarney, o chefe da Casa Civil expôs o governo. Se perdesse, seria a primeira derrota de
Lula no Congresso.
O risco, segundo aliados do governo, é o de que Dirceu esteja
criando problemas para o futuro.
Por enquanto, com o governo
fortalecido por altos índices de
popularidade, ele não teria muito
com o que se preocupar. Mas, ao
primeiro sinal de dificuldades do
novo governo, as vítimas do rolo
compressor estarão à espreita.
E podem se articular num grupo de oposição estruturado e perigoso, por causa da escassa maioria do governo.
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