São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

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CAMPO MINADO

Críticos dizem que os assentamentos não produzem e que a "violência" do movimento inibe os investimentos

Para ruralistas, MST prejudica produção

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA

VIRGILIO ABRANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os representantes de movimentos ruralistas e de produtores agrários no Brasil afirmam que as ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que hoje comemora 20 anos de atividade, prejudicam a produtividade agrícola do país.
Segundo o presidente da UDR (União Democrática Ruralista) Noroeste do Paraná, Marcos Prochet, a produtividade agrícola caiu em todos os municípios onde o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) se instalou. "Nestes 20 anos, eles acham que alcançaram alguma coisa? Eles tiveram 22 milhões de hectares e em nenhum assentamento deles eles produziram mais do que antes", disse Prochet.
"Quem está morrendo de rir são as grandes potências, a começar pelos Estados Unidos e Inglaterra, que continuam controlando o mercado agrícola. E o Brasil, que tem a última fronteira agrícola do mundo, que é o cerrado, fica nessa briga boba", declarou.
Prochet afirmou que a UDR está montando no interior do país uma rede de unidades municipais para organizar os produtores rurais locais e se contrapor à ação dos movimentos sociais, como o MST. Segundo ele, no Paraná já existem seis unidades montadas e há outras se organizando. Até o início de 2003, existia apenas a unidade presidida por ele. A meta é chegar a mil escritórios espalhados pelos municípios brasileiros.
"Nós [da UDR] somos a reação. Os movimentos dos sem-terra são a ação. Trabalhamos exatamente no ritmo deles. Quando eles [os sem-terra] agem pouco, diminuímos nossa estrutura porque temos custos. Quando estão mais ativos, também ficamos mais ativos", disse Prochet.
Paralelamente, a UDR vai inaugurar no final do mês um escritório nacional, em Brasília, para atuar politicamente sobre os congressistas. A idéia surgiu com o lançamento do Plano Nacional de Reforma Agrária.

Produtividade
Para o presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária no Brasil, Antônio Ernesto de Salvo, a violência das ações do movimento inibe os investimentos no campo. "Se você quer comprar um trator, mas o trator do seu vizinho foi incendiado, você não compra a máquina. Ninguém faz investimentos se existe desordem generalizada. E a queda na produtividade começa a ser notada."
Segundo Salvo, "todos os vizinhos de uma arruaça perderam o valor de seu imóvel".
Ele afirmou ainda que a forma como o MST funciona também atrapalha a gestão de alguns municípios. "Alguns assentamentos, que são feitos sem estrutura, causam danos aos tesouros municipais, porque não têm estrutura adequada e os prefeitos não conseguem investir. Isso também traz problema de ordem econômica para o município", declarou.
Para o deputado federal Ronaldo Caiado (PFL-GO), membro da bancada ruralista da Câmara e ex-presidente da UDR, "está na hora de o MST tomar juízo".
"Já que o movimento está atingindo a maioridade é bom ter mais juízo e fazer uma luta democrática, dentro da lei", afirmou. Caiado disse que o movimento precisa agir "sem fomentar a violência e a discórdia."
Salvo também criticou as atitudes do MST. "Há um desvio de um anseio legítimo que existia no começo. Hoje o movimento é político e transcende a posse de terra e vai para a ideologia", disse. "O MST usa sistematicamente da leniência da sociedade. Lamento que uma idéia legítima cause constante quebra da lei."
Para Salvo, o MST vive da ineficiência do poder público e tem motivações políticas desvinculadas da questão agrária. "O movimento vive da ineficiência do poder público. Mas quando não houver mais problemas no campo, vai migrar para outro tipo de ação. Eu não quero comparar com as Farc [guerrilha da Colômbia], mas o movimento será cada vez mais político, de um socialismo governando."


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