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CAMPO MINADO
Críticos dizem que os assentamentos não produzem e que a "violência" do movimento inibe os investimentos
Para ruralistas, MST prejudica produção
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
VIRGILIO ABRANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os representantes de movimentos ruralistas e de produtores
agrários no Brasil afirmam que as
ações do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra), que hoje comemora 20 anos
de atividade, prejudicam a produtividade agrícola do país.
Segundo o presidente da UDR
(União Democrática Ruralista)
Noroeste do Paraná, Marcos Prochet, a produtividade agrícola
caiu em todos os municípios onde
o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) se
instalou. "Nestes 20 anos, eles
acham que alcançaram alguma
coisa? Eles tiveram 22 milhões de
hectares e em nenhum assentamento deles eles produziram
mais do que antes", disse Prochet.
"Quem está morrendo de rir são
as grandes potências, a começar
pelos Estados Unidos e Inglaterra,
que continuam controlando o
mercado agrícola. E o Brasil, que
tem a última fronteira agrícola do
mundo, que é o cerrado, fica nessa briga boba", declarou.
Prochet afirmou que a UDR está
montando no interior do país
uma rede de unidades municipais
para organizar os produtores rurais locais e se contrapor à ação
dos movimentos sociais, como o
MST. Segundo ele, no Paraná já
existem seis unidades montadas e
há outras se organizando. Até o
início de 2003, existia apenas a
unidade presidida por ele. A meta
é chegar a mil escritórios espalhados pelos municípios brasileiros.
"Nós [da UDR] somos a reação.
Os movimentos dos sem-terra
são a ação. Trabalhamos exatamente no ritmo deles. Quando
eles [os sem-terra] agem pouco,
diminuímos nossa estrutura porque temos custos. Quando estão
mais ativos, também ficamos
mais ativos", disse Prochet.
Paralelamente, a UDR vai inaugurar no final do mês um escritório nacional, em Brasília, para
atuar politicamente sobre os congressistas. A idéia surgiu com o
lançamento do Plano Nacional de
Reforma Agrária.
Produtividade
Para o presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária no
Brasil, Antônio Ernesto de Salvo,
a violência das ações do movimento inibe os investimentos no
campo. "Se você quer comprar
um trator, mas o trator do seu vizinho foi incendiado, você não
compra a máquina. Ninguém faz
investimentos se existe desordem
generalizada. E a queda na produtividade começa a ser notada."
Segundo Salvo, "todos os vizinhos de uma arruaça perderam o
valor de seu imóvel".
Ele afirmou ainda que a forma
como o MST funciona também
atrapalha a gestão de alguns municípios. "Alguns assentamentos,
que são feitos sem estrutura, causam danos aos tesouros municipais, porque não têm estrutura
adequada e os prefeitos não conseguem investir. Isso também traz
problema de ordem econômica
para o município", declarou.
Para o deputado federal Ronaldo Caiado (PFL-GO), membro da
bancada ruralista da Câmara e ex-presidente da UDR, "está na hora
de o MST tomar juízo".
"Já que o movimento está atingindo a maioridade é bom ter
mais juízo e fazer uma luta democrática, dentro da lei", afirmou.
Caiado disse que o movimento
precisa agir "sem fomentar a violência e a discórdia."
Salvo também criticou as atitudes do MST. "Há um desvio de
um anseio legítimo que existia no
começo. Hoje o movimento é político e transcende a posse de terra
e vai para a ideologia", disse. "O
MST usa sistematicamente da leniência da sociedade. Lamento
que uma idéia legítima cause
constante quebra da lei."
Para Salvo, o MST vive da ineficiência do poder público e tem
motivações políticas desvinculadas da questão agrária. "O movimento vive da ineficiência do poder público. Mas quando não
houver mais problemas no campo, vai migrar para outro tipo de
ação. Eu não quero comparar
com as Farc [guerrilha da Colômbia], mas o movimento será cada
vez mais político, de um socialismo governando."
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