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Bolívia e Colômbia travam duelo ideológico
Morales critica relação colombiana com os EUA e escuta de Uribe que a "luta na Colômbia é muito diferente da luta na Bolivia"
Chávez intervém e diz que Uribe teve uma reação "superdimensionada'; colombiano afirma que tem direito de rebater crítica
CLÁUDIA DIANNI
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
RAPHAEL GOMIDE
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Uma discussão protagonizada pelos presidentes Hugo
Chávez, da Venezuela, e Evo
Morales, da Bolívia, de um lado,
com Álvaro Uribe, da Colômbia, do outro, resumiu a divisão
do bloco ao final do encontro.
A origem do bate-boca foi a
fala de Morales sobre o suposto
mau resultado econômico da
Colômbia, apesar dos investimentos dos Estados Unidos no
país, "a pretexto de combater o
narcotráfico".
"Se olharmos o crescimento
econômico na América Latina,
os que mais vivem sua identidade e soberania, os antiimperialistas, cresceram economicamente. Em 2005, o primeiro foi
Cuba, depois vieram a Argentina e a Venezuela. Tenho lido
sobre a Colômbia, onde os Estados Unidos, a pretexto do
combate ao narcotráfico, investiram milhões de dólares, mas a
Colômbia teve déficit comercial e fiscal", disse o boliviano.
Uribe esperou pela sua vez.
Iniciou sua fala se mostrando
surpreso. "Na longa conversa
que tive com o presidente Morales, não tive a oportunidade
de ouvir dele as críticas que ele
fez à Colômbia."
Em seguida, Uribe começou
um longo discurso em que explicou os resultados econômicos do país, comentou o relacionamento com os países da
região e apontou a diferença
entre o movimento social boliviano e a guerrilha colombiana,
que qualificou de "movimento
terrorista". Também lembrou
que no ano passado a Colômbia
exportou pouco mais de US$ 5
milhões à Bolívia, mas importou US$ 173 milhões.
"Na Colômbia, assassinavam
160 líderes sociais por ano. A
política tinha que se submeter
à guerrilha ou aos paramilitares. Tivemos que passar por
três processos eleitorais até recuperar a liberdade. A luta na
Colômbia é muito diferente da
luta na Bolívia", afirmou Uribe.
Ao final de sua fala, Uribe pediu desculpas ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que
antes havia chamado a atenção
de Chávez por ele ter extrapolado o tempo de seu discurso.
Ele disse que se desculpava,
mas havia passado dos 13 minutos permitidos a cada presidente "por culpa de Morales".
Foi quando o clima esquentou.
"Superdimensionada"
Chávez saiu em defesa do colega boliviano e criticou Uribe
por ter "superdimensionado"
as declarações de Morales. "Só
um comentário, presidente
Uribe: sua reação foi superdimensionada", afirmou. "Superdimensionada, com respeito ou
sem respeito?", perguntou Uribe. "Somente superdimensionada", respondeu Chávez.
"Desculpe presidente, mas
quando a Colômbia foi mencionada, você tem de reconhecer o
meu direito legítimo de esclarecer", reagiu Uribe.
Depois do bate-boca com
Uribe, Chávez disse que a resposta do presidente colombiano ao colega da Bolívia, Evo
Morales, foi "superdimensionada", o que motivou sua reação e sua defesa ao boliviano.
"Eu creio que o Uribe respondeu, mas superdimensionou a resposta. Dedicou quase
toda a sua intervenção [na reunião] ao Evo", disse.
Na avaliação de Chávez, o
presidente da Bolívia é um "índio", um "homem puro e autêntico", que sempre fala "com o
coração". Diante de tais características, disse, ele "não falou
por maldade nem com má-fé".
"Fez apenas um comentário."
Lacônico, o presidente da
Colômbia fez apenas uma breve comentário sobre o episódio
ao sair da reunião: "Discussões
fazem parte da democracia".
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