São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

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Bolívia e Colômbia travam duelo ideológico

Morales critica relação colombiana com os EUA e escuta de Uribe que a "luta na Colômbia é muito diferente da luta na Bolivia"

Chávez intervém e diz que Uribe teve uma reação "superdimensionada'; colombiano afirma que tem direito de rebater crítica


CLÁUDIA DIANNI
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

RAPHAEL GOMIDE
PEDRO SOARES

DA SUCURSAL DO RIO

Uma discussão protagonizada pelos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia, de um lado, com Álvaro Uribe, da Colômbia, do outro, resumiu a divisão do bloco ao final do encontro.
A origem do bate-boca foi a fala de Morales sobre o suposto mau resultado econômico da Colômbia, apesar dos investimentos dos Estados Unidos no país, "a pretexto de combater o narcotráfico".
"Se olharmos o crescimento econômico na América Latina, os que mais vivem sua identidade e soberania, os antiimperialistas, cresceram economicamente. Em 2005, o primeiro foi Cuba, depois vieram a Argentina e a Venezuela. Tenho lido sobre a Colômbia, onde os Estados Unidos, a pretexto do combate ao narcotráfico, investiram milhões de dólares, mas a Colômbia teve déficit comercial e fiscal", disse o boliviano.
Uribe esperou pela sua vez. Iniciou sua fala se mostrando surpreso. "Na longa conversa que tive com o presidente Morales, não tive a oportunidade de ouvir dele as críticas que ele fez à Colômbia."
Em seguida, Uribe começou um longo discurso em que explicou os resultados econômicos do país, comentou o relacionamento com os países da região e apontou a diferença entre o movimento social boliviano e a guerrilha colombiana, que qualificou de "movimento terrorista". Também lembrou que no ano passado a Colômbia exportou pouco mais de US$ 5 milhões à Bolívia, mas importou US$ 173 milhões.
"Na Colômbia, assassinavam 160 líderes sociais por ano. A política tinha que se submeter à guerrilha ou aos paramilitares. Tivemos que passar por três processos eleitorais até recuperar a liberdade. A luta na Colômbia é muito diferente da luta na Bolívia", afirmou Uribe.
Ao final de sua fala, Uribe pediu desculpas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que antes havia chamado a atenção de Chávez por ele ter extrapolado o tempo de seu discurso. Ele disse que se desculpava, mas havia passado dos 13 minutos permitidos a cada presidente "por culpa de Morales". Foi quando o clima esquentou.

"Superdimensionada"
Chávez saiu em defesa do colega boliviano e criticou Uribe por ter "superdimensionado" as declarações de Morales. "Só um comentário, presidente Uribe: sua reação foi superdimensionada", afirmou. "Superdimensionada, com respeito ou sem respeito?", perguntou Uribe. "Somente superdimensionada", respondeu Chávez.
"Desculpe presidente, mas quando a Colômbia foi mencionada, você tem de reconhecer o meu direito legítimo de esclarecer", reagiu Uribe.
Depois do bate-boca com Uribe, Chávez disse que a resposta do presidente colombiano ao colega da Bolívia, Evo Morales, foi "superdimensionada", o que motivou sua reação e sua defesa ao boliviano.
"Eu creio que o Uribe respondeu, mas superdimensionou a resposta. Dedicou quase toda a sua intervenção [na reunião] ao Evo", disse.
Na avaliação de Chávez, o presidente da Bolívia é um "índio", um "homem puro e autêntico", que sempre fala "com o coração". Diante de tais características, disse, ele "não falou por maldade nem com má-fé". "Fez apenas um comentário."
Lacônico, o presidente da Colômbia fez apenas uma breve comentário sobre o episódio ao sair da reunião: "Discussões fazem parte da democracia".


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