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JANIO DE FREITAS
As alturas de Lula e os baixios de Cesar
A idéia de seus poderes elevou-se a tais alturas que Lula já se permite até decidir sobre o direito alheio à vida
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A IDÉIA DE SEUS PODERES elevou-se a tais alturas que Lula
já se permite até decidir sobre
o direito alheio à vida. No outro extremo, o desprestígio de Cesar Maia
desceu a tais baixios, que suas péssimas conseqüências forçam uma
reação positiva, e um exemplo, no
abandonado Rio.
Na recente viagem à Bolívia, Lula
viu o seu ministro da Justiça, Tarso
Genro, desabar de repente como
uma estátua, sem sentidos, por efeito dos quase 4.000 metros de altitude em La Paz. Ainda assim, Lula
compromete-se a ajudar os bolivianos a derrubar a proibição de jogos
internacionais de futebol a mais de
2.750 metros. Há muito tempo considerada, a proibição pela Fifa efetivou-se, no ano passado, com o estímulo das evidências de risco à vida
sofrido por jogadores brasileiros -
os do Flamengo, que em disputa da
Taça Libertadores precisaram, quase todos, ser socorridos por bombas
de oxigênio, inclusive durante o jogo.
Evidência mais recente é a de que
tudo, na Bolívia de hoje, está sob influência do confronto entre, de uma
parte, Evo Morales e La Paz, e, de
outra, as regiões baixas do país, fronteiriças com o Brasil. Obter a continuação dos jogos internacionais na
altitude seria uma vitória popularesca de Morales sobre a oposição
que lhe faz a quase planície boliviana.
Comprovadas as razões médicas
que condenam jogos internacionais
no ar rarefeito dos Andes, a atitude
de Lula é uma irresponsabilidade
presunçosa, e tão mais inadmissível
quanto é certo o seu conhecimento
das razões da proibição. Mas a irresponsabilidade tem ainda uma extensão política: intromete-se em
disputas internas e até agora legítimas na Bolívia. Isso, depois de Lula
repetir, mais uma vez, que "o Brasil
não se envolve em assuntos internos
de nenhum outro país".
Fora do Altiplano boliviano e do
Planalto brasileiro, o novo movimento é incipiente, ainda não oferece indicações de sua tendência. Mas
dá o sinal animador de uma disposição de protesto real, com a prática
da desobediência civil, contra a administração pública inepta e negligente. Nada a ver com os desfiles
adondocados na orla de Ipanema. O
movimento surgiu entre pessoas de
classe média, e um pouco menos, em
bairros fora da zona sul -classes e
bairros em que Cesar Maia teve numeroso eleitorado.
A proposta do movimento é a recusa a pagar o IPTU antes de novembro, quando o Rio terá novo prefeito eleito, ou fazê-lo nos prazos hábeis por depósito judicial. Até ontem, quando estavam previstas mais
ações de cooptação, já eram 12 bairros cujas associações representativas, algumas da zona sul, aderiram e propalam a onda.
Cesar Maia, de reconhecida competência, abdicou do exercício da
administração tão logo tomou posse. Nestes quatro anos, só se interessou, de fato, pelas obras do Pan, cujo custo verdadeiro até hoje não se sabe. Mas sabe-se que a Prefeitura do
Rio estourou o seu cofre para colher,
como previsto pelos que não tinham
interesses envolvidos, um desastre
financeiro e físico. A previsão de que
o Rio teria o saldo de R$ 1,4 bilhão ficou como idiotice ou como vigarice
de organizadores. A par do problema financeiro, o saldo físico são estádios, pistas e piscinas sem meios
de conservação, e com raríssimo ou
nenhum uso. Abandono idêntico ao
restante da cidade, de ruas repletas
de buracos, calçadas sujas, iluminação mal conservada, canteiros sem
conservação, serviços de saúde lastimáveis, e IPTU caríssimo e aumentado para este ano. Cidade, porém,
com um blogueiro muito atento,
sarcástico e dedicado em tempo integral à internet: Cesar Maia, um caso estranho.
Se o movimento difundir a disposição de protestos efetivos, com o
uso do direito de desobediência civil,
a omissão de Cesar Maia deixará um
presente ao Rio. E, tomara, uma sugestão a outras cidades também
muito necessitadas de despertar,
neste país de cordeiros e ovelhas.
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