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Requião critica "mídia paga" e Judiciário
Governador, para quem decisão judicial o obriga a fazer campanha contra censura prévia, diz que pode provar tudo o que disse na TV
Proibido de usar programa de canal estatal para atacar adversários e se promover,
o governador do Paraná foi multado em R$ 50 mil
DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Após ser proibido pela Justiça de usar a TV Educativa do
Paraná para promoção pessoal,
ofensas à imprensa, a adversários e instituições, o governador Roberto Requião (PMDB)
disse, em entrevista à Folha,
que não pode ficar "ao sabor da
opinião da mídia paga, da mídia
subsidiada pelo capital".
A entrevista foi feita na sexta-feira, horas antes de ele ser
multado em R$ 50 mil por desrespeitar a decisão -terça passada, em seu programa semanal "Escola de Governo", Requião cortou o som da própria
voz e colocou um carimbo de
"censurado" sobre a imagem.
Durante os 50 minutos de
conversa em seu gabinete, ele
ficou irritado ("Você não existe, rapaz, como jornalista").
Antes de iniciar, apontou para um gravador. Depois, disse
que colocaria a gravação na íntegra na TV Educativa se a publicação não fosse fiel a suas
palavras. Até ameaçou suspender a entrevista. Mas continuou para dizer que trabalha
para ser "o melhor governador
da história do Paraná". O ranking de avaliação dos governadores do Datafolha, do final de
novembro, apontou Requião
como 5º mais bem avaliado entre dez pesquisados.
FOLHA - A Justiça proibiu o sr. de
usar a TV Educativa para promoção
pessoal e ofensas. A decisão será
cumprida?
ROBERTO REQUIÃO - Nunca fiz
propaganda pessoal. Quando
vou à "Escola de Governo", coloco uma idéia e estou me expondo. Não vou lá dizer que sou
rei da cocada preta.
FOLHA - O sr. diz que é vítima de
censura, mas já processou meios de
comunicação e jornalistas que publicaram algo que o desagradou.
REQUIÃO - Se alguém não gostar
do que eu digo, me processe.
Posso provar que o que eu disse
era exatamente o que acontecia. Censura prévia é um crime
contra a Constituição.
FOLHA - Mas como o sr. lida com a
situação antagônica?
REQUIÃO - Não há situação antagônica. [Só] na sua cabeça. E
me perdoe a franqueza: está
funcionando mal sua cabeça. Se
você me difama, eu te processo,
eu não te censuro. Não difamei
ninguém. Tudo o que eu disse
na "Escola de Governo" eu posso provar. E não tem nenhuma
ação contra mim.
FOLHA - Como o sr. avalia a programação da estatal do Paraná?
REQUIÃO - É a comunicação do
governo com a população. Não
posso ficar com o governo inteiro ao sabor da opinião da mídia paga, subsidiada pelo capital e pelos interesses. Não é o
fato de eu ter me elegido governador que me tira o direito de
opinião. Esperava que a censura contra a liberdade de opinião
tivesse acabado no Brasil. Parece que não acabou. Só houve esse raio dessa ação [da Procuradoria] no dia em que expus os
salários do Ministério Público.
FOLHA - Há ainda a questão do nepotismo no seu governo.
REQUIÃO - Quando eu me candidatei, eu disse na televisão,
no horário do PMDB, que nomearia meu irmão Maurício
como secretário da Educação.
E não existe impedimento
constitucional para se nomear
pessoas competentes, sejam
quais forem. Você não pode
cercear uma pessoa pelo fato de
ser seu parente. O nepotismo é
uma coisa mais ampla: é nomear [pessoa] inadequada por
um protecionismo de qualquer
sentido em um lugar importante onde ela prejudica a administração pública.
FOLHA - O vínculo familiar não
atrapalha as cobranças?
REQUIÃO - Não. Ajuda. Ele é
meu parceiro político mais do
que parente. O Maurício é o
melhor secretário da Educação
do Brasil. E outro irmão meu
[Eduardo Requião], que está no
porto de Paranaguá, transformou um porto falido no primeiro porto do país.
FOLHA - O sr. se recusa a conceder
reajustes nos pedágios, que acabam
sempre determinados pela Justiça.
Vai continuar com essa oposição?
REQUIÃO - Evidente que vou
continuar. A Justiça assumiu a
administração do pedágio no
Paraná. Agora, depois da licitação em que o governo federal licitou o pedágio 10, 11 vezes
abaixo do preço do Paraná, você nem devia me fazer essa pergunta. Você devia me perguntar se eu acho que a Justiça vai continuar dando esse absurdo
de aumentos absolutamente
indevidos. Reverta a pergunta
que fica melhor.
FOLHA - Governador, os contratos
estão registrados.
REQUIÃO - Que maravilha. Acho
que eu vou interromper essa
conversa. Esse tipo de cabeça
não existe. Você não existe, rapaz, como jornalista. Contratos
estão registrados. Um governo
corrupto faz um contrato absurdo, o povo é roubado, eu sou
o governador do Paraná, eu tenho que dizer que o governo fez
o contrato absurdo e o povo
tem que continuar pagando.
Não, tem que contestar isso.
FOLHA - Qual é o seu projeto político para o futuro?
REQUIÃO - Gostei da palavra. Eu
trabalho por projeto. O meu
projeto é fazer o melhor governo da história do Paraná outra
vez porque eu já fiz na legislação passada. Eu não vou dizer a
você que o Ministério Público
Federal e o Judiciário não estejam me lançando nacionalmente e me obrigando a fazer
uma campanha nacional contra a censura prévia e que isso
não me promova no Brasil.
Mas, ao mesmo tempo, dizer
que ao lado dessa promoção
quem está sendo agredido é o
país, a democracia, a liberdade
de expressão.
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