São Paulo, quarta, 20 de janeiro de 1999

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PRIVATIZAÇÃO
Desvalorização torna Banespa mais atrativo aos bancos estrangeiros

RICARDO GRINBAUM
VANESSA ADACHI

da Reportagem Local

A desvalorização do real deve acirrar a disputa pela compra do Banespa, no leilão previsto para maio.
Ficou mais barato para os estrangeiros fazer um lance pelo sexto maior banco brasileiro, em volume de ativos.
"O número de interessados em levar o banco deve crescer", acredita o presidente do Banespa, João Alberto Magro.
O modelo de privatização ainda não está definido e ninguém sabe qual será a cotação do real no dia do leilão. Mas a desvalorização dos últimos dias já possibilitou aos bancos montar exercícios para ter uma idéia do potencial da queda do preço em dólares.
O mercado financeiro estima que se o banco fosse integralmente vendido o valor corresponderia a aproximadamente o dobro de seu patrimônio.
Um dia antes da desvalorização, essa conta batia em US$ 6,8 bilhões. Com o dólar cotado em R$ 1,53 (última cotação de segunda-feira), o valor cai para US$ 5,3 bilhões. Em uma semana, o preço do Banespa caiu 21,3% em dólares.
"Os bancos brasileiros devem enfrentar agora maior concorrência dos estrangeiros", diz Rodrigo Bresser Pereira, administrador de fundos do banco Matrix.
Os bancos estrangeiros ganharam outra facilidade nos últimos tempos. Enquanto eles levantam recursos na Europa e nos Estados Unidos a um custo relativamente baixo (6% ao ano), as instituições financeiras brasileiras têm encontrado dificuldade para levantar capital no exterior.
"Ficou muito mais difícil para os bancos brasileiros levantar capital no exterior com a crise no Brasil", diz Roberto Dotta Filho, da administradora de recursos Tudor.
Bancos brasileiros como o Itaú, o Bradesco e o Unibanco têm grande interesse no Banespa porque fortalecem sua posição em relação à concorrência internacional.
Segundo o diretor de um grande banco brasileiro, o interesse dos estrangeiros pelo Banespa aumentou, mas a médio prazo os possíveis lucros remetidos para o exterior devem cair devido à desvalorização do real, o que, em parte, poderia compensar a redução no preço.
"O Banespa é uma excelente plataforma para expansão dos negócios no Brasil", diz Magali Bim, analista do banco BBA. "Como o Banespa adotou nos últimos tempos uma política conservadora, tem muito espaço para aumentar seu volume de empréstimos."
Nas contas da analista do BBA, o Banespa poderia aumentar seu volume de empréstimos 230% até bater no limite do Acordo de Basiléia, que dita as regras de segurança que devem ser observadas pelo sistema financeiro.
Outro grande atrativo do banco é a possibilidade de trabalhar com a conta dos servidores estaduais. Nas privatizações anteriores, os compradores de bancos estaduais ganharam entre três e cinco anos de garantia de que teriam as contas dos servidores públicos.
O Banespa tem ainda a vantagem de estar espalhado pelo interior do Estado mais rico do país. Isso pode servir de ponte não só para a abertura de contas e oferta de crédito, mas distribuição de outros produtos, como seguros.



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