São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ROMBO AMAZÔNICO

Depoente disse sentir-se ameaçado e que só falaria sob proteção

Depoimentos teriam levado a pedido de prisão de Jader

LUCIO VAZ
ENVIADO ESPECIAL A PALMAS

Dois depoimentos prestados à Polícia Federal levaram o Ministério Público Federal e a Justiça Federal a concluir pela necessidade de decretação da prisão preventiva do ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e de mais dez acusados de fraudar a Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia).
Um dos depoimentos, prestado pelo empresário Aluisio Pollmeier, não chegou a ser citado na decisão do juiz Alderico Rocha Santos, da 2ª Vara de Justiça Federal em Tocantins, porque incluía o nome do deputado José Priante (PMDB-PA), sobrinho de Jader, que tem imunidade parlamentar.
Pollmeier disse à PF que foi pressionado a pagar uma "comissão" que seria dividida entre Priante e Jader. Um assessor de Priante, Irlendes Rodrigues, conhecido como Alemão, teria dito ao empresário que o deputado já havia tomado dinheiro emprestado para pagar Jader, porque "Jader não perdoa".
De acordo com o depoimento, no início de 2000, ao descer no aeroporto de Altamira (PA), o empresário foi levado a um hotel por um integrante do grupo acusado de fraudar a Sudam. Foi informado de que o cheque dado por sua empresa (JCA Agroindustrial) para pagar uma comissão de R$ 400 mil a Priante não havia sido descontado por não ter fundo.
Naquele momento, Alemão, que estaria escondido no banheiro do quarto, teria aparecido e chamado o empresário de "moleque". Em seguida, teria informado que Jader não perdoaria a dívida e acrescentado que, se não fosse paga a parte de Priante, não haveria mais liberações da Sudam.
A pedido de Alemão, Pollmeier teria informado Carlos Antonio de Oliveira, que era seu sócio no projeto da Sudam, sobre o que estava ocorrendo.

"Ameaça"
O juiz Alderico Santos utilizou na sua decisão apenas o depoimento prestado por Oliveira à Polícia Federal. O ex-sócio de Pollmeier afirmou em seu depoimento que se sentia "ameaçado" e que não tinha "coragem para revelar nomes de pessoas importantes envolvidas no esquema de corrupção da Sudam".
E disse que, se incluído no Programa de Proteção às Testemunhas, se comprometeria a "revelar nomes e valores de propinas".
Para o juiz, "a posição econômica e política dos requeridos, principalmente no Pará, onde Jader sempre teve domínio político, tem imposto às testemunhas o receio de colaborar com a Justiça".
Informado ontem de que o ex-senador pretende processá-lo, Santos afirmou: "É uma faculdade dele. Ganhar é outra história, outro departamento".

Crimes
A Justiça Federal em Tocantins já identificou pelo menos seis crimes que teriam sido cometidos pelos acusados de fraudar a autarquia: formação de quadrilha, estelionato, falsificação de documentos, uso de documentos falsos, peculato e lavagem de dinheiro.
Os 59 denunciados pelo Ministério Público deverão ser agrupados em vários processos. Serão abertos processos contra pelo menos 11 deles, mas esse número poderá ser ampliado.
A Justiça Federal em Tocantins informou ontem que a assessoria do presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Tourinho Neto, pediu informações sobre a decisão de Santos por volta das 16h de sábado, antes de ser impetrado o habeas corpus em favor de Jader. Isso demonstraria o interesse de Tourinho em tomar uma decisão rapidamente.
Às 9h da manhã, a assessoria de Santos recebera um telefonema de um dos advogados de Jader, Edson Messias. O advogado queria saber o número do telefone celular de Santos e disse que o juiz Tourinho Neto já havia informado o número do telefone de uma juíza de Tocantins.



Texto Anterior: Janio de Freitas: Quem é quem
Próximo Texto: Delegado diz que pedirá indenização
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.