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AGENDA PETISTA
Em reunião com líderes, petista sugere que mudará órgãos reguladores
Lula vê país "terceirizado" e ataca agências da era FHC
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva atacou as agências reguladoras criadas no governo FHC e
prometeu mudar o papel dos órgãos. "O Brasil foi terceirizado. As
agências mandam no país", disse
ontem, em almoço com líderes
congressuais na Granja do Torto,
segundo relato dos presentes.
Lula criticou as agências ao dizer aos líderes que fica sabendo
dos aumentos decididos por elas
pelos jornais. "As decisões que
afetam o dia-a-dia da população
não passam pelo governo."
O presidente afirmou que "tudo
isso [as decisões tomadas pelas
agências sem interferência do governo] vai ser mudado, mas que é
preciso tempo para mudar".
Ou seja: no entendimento dos
líderes que narraram a intervenção de Lula à Folha, ele sinalizou
que desmontará ou, no mínimo,
alterará o papel de órgãos criados
por Fernando Henrique Cardoso.
A justificativa de FHC para criar
as agências foi dar a setores da
economia regras mais estáveis para que os investidores pudessem
ter mais segurança de longo prazo. Ou seja, a política de preços
não ficaria sujeita aos humores do
governo de plantão, que pode
mudar a cada quatro anos.
Desde a eleição, Lula avalia que
as agências têm independência
demais, funcionando mais em benefício dos interesses dos setores
econômicos do que a favor dos interesses do país. Foi nesse contexto que o presidente, ao falar que
ficava sabendo dos aumentos pelo jornais, reclamou especificamente de reajustes de energia elétrica, telefone e combustíveis.
Lula disse que o governo já interviera, com sucesso, no recente
aumento de energia. Dilma Roussef (Minas e Energia) pressionou
por um aumento escalonado, evitando reajustes superiores a 40%.
Para reajuste imediato, foi fixado
teto, que, em geral, varia de 28% a
30%. O percentual excedente foi
escalonado em quatro anos.
A ação de Dilma fora planejada
desde a equipe de transição. A Folha revelou em novembro que,
entre medidas de impacto para
tentar marcar diferenças com
FHC, estava em estudo algum tipo de intervenção no preço da
energia e das tarifas telefônicas
que não significasse ruptura de
contrato. Essa será a linha de Lula.
Agora, há a revisão quadrienal
dos preços de energia. E os contratos das operadoras de telefonia
fixa estão em processo de consulta pública, para eventual revisão.
O ministro das Comunicações,
Miro Teixeira, tentará influenciar
essa revisão, a exemplo de Dilma.
Na reunião, Lula brincou, dizendo que descobriu novos problemas após tomar posse. Segundo ele, assumir o governo era como "casar com viúva": com o
tempo, vai se descobrindo "manias e defeitos" que antes não
eram sabidos. Detalhe: Lula se casou com uma viúva, a primeira-dama, Marisa.
Dólar e confusão
Lula, porém, fez confusão, ao
dizer aos líderes: "Dolarizaram o
álcool". As agências que fixam
preços são a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a
Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). A ANP (Agência Nacional de Petróleo) não fixa
nem o preço dos derivados de petróleo. Só monitora o mercado.
Liberado, o preço do álcool sofre influência da cotação do açúcar no mercado internacional.
Com o preço em alta, os usineiros
preferem produzir açúcar.
Na reunião, líderes lembraram
que a Constituição não prevê a
convocação de diretores das
agências para falar no Congresso.
O governo deve bancar projeto
prevendo a convocação, que é diferente de convite: é obrigatória.
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