|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO INDÍGENA
Índio é encontrado enforcado dentro da própria casa em MS
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
O corpo do índio Valdinez
Souza, 30, foi encontrado anteontem à tarde na área de
Porto Cambira, em Dourados (MS), onde vivem cerca
de cem indígenas guaranis e
caiuás. A Polícia Civil, que só
ontem resgatou o corpo após
ser informada da morte, trabalha com a hipótese de suicídio e apreendeu uma carta
deixada por Souza.
Na carta, o índio, que foi
encontrado enforcado com
uma corda de nylon dentro
de sua casa, reclama da falta
de alimentos nas aldeias.
Apesar de a carta ter sido
divulgada por sites locais de
notícia, a Polícia Civil informou que só após perícia criminal irá confirmar a autenticidade da carta. Foi apreendido um caderno para a letra
de Souza ser comparada.
A Funasa (Fundação Nacional do Saúde) se adiantou
e divulgou um recibo no qual
aponta que, no último dia 9,
Souza recebeu uma cesta de
alimentos de 40 kg. As cestas, conforme a Funasa, foram entregues também em
novembro, dezembro e janeiro. Souza teria dois filhos
e a mulher grávida.
Em Mato Grosso do Sul, ao
menos 25 guaranis e caiuás
se mataram no ano passado.
Essa é a média anual de suicídios entre indígenas das duas
etnias no Estado.
Em Dourados, as aldeias
dos guaranis e caiuás também são atingidas pela desnutrição infantil. Há ao menos 190 crianças menores de cinco anos com desnutrição
grave ou moderada na cidade. No último dia 11, um menino de dois anos e um mês
morreu após ser internado
com desnutrição grave.
No início do mês, após 20
dias de atraso, a Funasa retomou a distribuição de cestas
básicas. O órgão diz que a
morte não teve relação com o
atraso. O governo de Mato
Grosso do Sul, porém, suspendeu a distribuição de alimentos a 11 mil famílias indígenas desde o início do ano.
Na semana passada, o governador André Puccinelli
(PMDB) assinou um acordo
com a Funasa para retomar a
distribuição das 11 mil cestas.
A área onde o corpo de
Souza foi encontrado também é alvo de disputa entre
índios e fazendeiros. No local, em abril do ano passado,
um grupo de índios matou a
tiros, facadas e pauladas dois
policiais civis e feriu outro.
A Polícia Civil disse que os
policiais estavam passando
na área à procura de uma
pessoa não índia acusada de
assassinato quando foram
atacados. Os índios argumentam que as vítimas fizeram "cavalo-de-pau" (manobra com carro) no local.
Texto Anterior: Desapropriação deixa de ser prioridade Próximo Texto: São Francisco: Bispo retoma protesto contra obras e entrega carta a Lula Índice
|