São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

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Aeronauta readmitida pela Vasp foi indenizada em R$ 1,2 milhão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A comissária de vôo Marisa de Cássia Sella tinha três anos de idade quando ocorreu o golpe militar de 1964. Participou de uma greve na então estatal Vasp em 1986, após o fim da ditadura, e, por isso, foi demitida da empresa, para a qual retornou nove meses depois. Mas por ter sido anistiada pelo Ministério do Trabalho em 1994, Marisa obteve uma indenização de R$ 1,2 milhão, aprovada pela Comissão da Anistia.
Como no caso dos ex-funcionários da Petrobras, os aeronautas que participaram da greve têm obtido altas indenizações. O Ministério do Trabalho enxergou motivação política para as demissões, e Marisa, como conseqüência do ato ministerial que atendeu a outros 53 aeronautas, recebia aposentadoria excepcional de R$ 923 mensais. Com a decisão da comissão, de junho de 2004, passará a receber R$ 6.900 por mês.
Procurada pela Folha por meio do sindicato dos aeronautas, em São Paulo, não foi localizada. No processo, Marisa anexou uma petição citando a existência do relatório final do Trabalho de outubro de 1988: "A empresa e o governo julgaram haver por trás da situação dos grevistas uma motivação política com o objetivo de derrubar o Plano Cruzado".
Como em outros processos, a comissão anotou: "A requerente já se encontra anistiada pelo Ministério do Trabalho, razão pela qual não se cogita de investigação de motivação política do ato prejudicial à carreira e vida pessoal da postulante".
Outro aviador, Walter Paul Hermann Seiffert, 79, disse ter sofrido perseguições e passou 25 dias preso. "Eu trabalhava para organizar o pessoal. Me considerava um "porra-louca'", contou. "Acho que [a indenização] é uma das coisas mais dignas que tem. Todos fomos presos políticos. Eu defendia a classe de qualquer jeito, não admitia que viessem tripudiar sobre minha situação."
Ele admitiu ter pedido demissão do posto de comandante de vôos da Varig nos anos 60, tendo que ir trabalhar numa empresa pequena, no Norte do país. Sua indenização é uma das mais altas da comissão, R$ 1,89 milhão de retroativos e R$ 14,6 mil mensais. Seus advogados anexaram no processo da comissão depoimentos de aeronautas dizendo que Seiffert "militava como ativista do sindicato nacional dos aeronautas".
De acordo com a decisão da comissão, "está devidamente provada a motivação exclusivamente política que fez com que o requerente pedisse demissão do cargo". (RV)


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