|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HERANÇA MILITAR/OUTRO LADO
Para advogado, anistia já decretada dispensa nova investigação sobre sua motivação política
Comissão diz que não pode cassar anistias
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Comissão da
Anistia do Ministério da Justiça, o
advogado Marcello Lavenére Machado, disse que não tem poderes
legais para questionar anistias feitas em anos anteriores, por outros
ministérios.
"Tudo o que eu tenho a fazer
não é mais rever essa anistia dele,
a lei não me deu poderes para dizer assim: "Olha, você foi anistiado erradamente e estou cassando
sua anistia". Eu não tenho poderes
para cassar a anistia", disse Lavenére. Segundo ele, o que a comissão faz é ratificar a anistia e dar a
progressão da aposentadoria excepcional para a indenização.
"Quando chega uma pessoa já
anistiada, a gente não revê o ato
da anistia, porque já está anistiado, algum órgão do Estado já
anistiou", diz. Segundo o presidente da comissão, no entanto, já
houve alguns casos que ele "encaminhou para que fossem cassados", submetendo à análise do
Ministério da Justiça.
"Quase 50% dos processos que
tramitam na comissão agora é de
pessoas já anistiadas, que já receberam anistia a partir de 1979, que
há 20, 25 anos já estão recebendo
[aposentadoria excepcional]",
disse Lavenére.
O advogado disse que a anistia
decretada por ministérios diversos faz dispensar uma nova investigação da comissão a respeito da
motivação política. "Muitos desses processos estavam no ministério, o anistiando se habilitou, o órgão examinou e deu a anistia."
Lavenére disse que a comissão
costuma fazer diligências para
checar alegações dos requerentes
da anistia. "Estou na comissão
porque sou do lado da anistia.
Quero ajudar os anistiados, mas
quero ajudar os que têm direito à
anistia, não os que querem se
aproveitar da anistia", disse.
Negou que os processos da comissão sejam secretos. Segundo
ele, "o que faz com que se tenha
cuidado de tornar esses processos
acessíveis a qualquer um" são os
relatos, que eventualmente integram processos, de supostas situações "dramáticas", como torturas e problemas familiares.
Segundo o presidente, ele pode
ou não autorizar que jornalistas
vejam os processos, desde que faça análise anterior e decida, em
caráter pessoal, que os relatos não
afetam a intimidade do anistiado.
Lavenére contou que a comissão barrou "de 7.000 a 8.000 pedidos" de vereadores que queriam
ser indenizados, quando na verdade teriam direito apenas à contagem do tempo de serviço. "Às
vezes aparecem bolsões de requerimento. Temos identificado aqui
e acolá que tem havido pessoas
que se aproveitam dessa credibilidade [da comissão]. Associações
ditas de anistiados políticos, escritórios de intermediação de serviços, advogados", disse Lavenére.
O economista Fernando Talma
Sarmento Sampaio, 66, anistiado
pela Petrobras, disse que embora
tenha trabalhado para governadores biônicos, indicados pela ditadura, foi demitido na Petrobras
sob acusação de "atividades políticas", porque um outro trabalhador, interrogado, teria fornecido
ao Exército uma lista de petroleiros que estariam atuando para
partidos de esquerda.
Sampaio disse que se considerava "de esquerda", mas criticou,
com palavrões, o Partido Comunista. Segundo ele, os comunistas
eram "vagabundos", que "se borravam nas calças". Sampaio diz
que sentiu os efeitos do registro
da causa de sua demissão nos órgãos de segurança "ao longo da
vida", porque sempre que tentava
cargo público, alguma área do
Exército colocava objeções.
O vice-presidente da Conape
(Associação Nacional dos Anistiados da Petrobras), Antonio
Klaes Fontes, disse que nenhum
ex-petroleiro, até agora, recebeu o
pagamento dos retroativos. Ele
diz que a divulgação de que o governo está fazendo tais pagamentos é "propaganda mentirosa".
Fontes atribuiu os valores das
indenizações prometidas aos ex-petroleiros aos altos salários pagos pela Petrobras. "A empresa
sempre pagou bem, isso se reflete
nas indenizações", defendeu.
O anistiado Frederico Birchal de
Magalhães Gomes, 64, localizado
por telefone, preferiu não conceder entrevista à Folha. Ao saber
que a reportagem tinha lido seu
currículo no processo da Comissão da Anistia, disse que isso não
deveria ter ocorrido. "É uma
questão pessoal, de lei", disse.
O capitão José Wilson da Silva,
73, presidente de associação do
Rio Grande do Sul das mais ativas
na questão das anistias, a Ampla,
disse que o valor das indenizações
é de responsabilidade "do Estado
relapso, que deveria pagar desde
1988". O capitão também afirmou
que o valor das anistias da Petrobras explica-se pelo valor dos salários pagos pela empresa.
(RV)
Texto Anterior: Ministério da Justiça identificou erros, e comissão refez cálculos Próximo Texto: Saiba mais: Lei da Anistia permitiu volta de 5.000 exilados Índice
|