São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

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NOVELA MINISTERIAL

Todas as secretarias são de petistas; para assessores de Lula, se Olívio Dutra deixar pasta, haverá resistência

Na mira da reforma, Cidades é reduto do PT

JULIA DUAILIBI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cotada para entrar na dança das cadeiras da reforma ministerial, a pasta de Cidades, conhecida na Esplanada dos Ministérios como "bunker" do PT, causa arrepios em partidos postulantes ao cargo de ministro. Todas as secretarias e a maioria das diretorias estão com filiados petistas.
O exemplo do loteamento dos cargos no governo federal salta aos olhos quando se coloca em pauta o Ministério das Cidades, do petista Olívio Dutra (RS), amigo de Lula há mais de 20 anos.
Das quatro secretarias nacionais do ministério (Habitação, Saneamento Ambiental, Programas Urbanos e Transporte-Mobilidade Urbana), todas são geridas por integrantes do partido.
O mesmo acontece com diretorias e órgãos subordinados à pasta, como a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) e a Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre). Dos 34 cargos de chefia do ministério, pelo menos 22 são de petistas. Outros três estão com pessoas ligadas ao PPS, PC do B e PMDB.
Com os cargos de comissão nas mãos do PT, os próprios assessores do presidente Lula admitem que outros partidos encontrarão resistências internas se forem parar no ministério. Estão cotados para o cargo a senadora licenciada Roseana Sarney (PFL-MA) e o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Ao mesmo tempo em que o PT briga nos bastidores para ficar com a pasta, Lula resiste a demitir o colega. A demissão, em fevereiro, do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Luiz Carlos Bueno de Lima, é citada como exemplo de como pode acabar mal o confronto entre partidos.
Indicado pelo PP, Lima era desafeto de Humberto Costa e saiu acusando-o de ignorar alerta sobre crise no abastecimento de medicamentos contra Aids.
Entre os petistas, estão filiados do Rio Grande do Sul, principalmente no gabinete do ministro, e de São Paulo.
Dirceu Silva Lopes (PT-RS), chefe-de-gabinete de Dutra, foi secretário do Interior na gestão do petista no Rio Grande do Sul (1998-2002), enquanto Iria Charão Rodrigues, assessora especial de relações com a comunidade, foi coordenadora do Gabinete de Relações Comunitárias.
Os cargos de Cidades, que antes era Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano, ligada à Presidência, foram criados por decreto do presidente Lula no primeiro semestre de 2003.

Passado
Com um Orçamento de R$ 730 milhões neste ano, o ministério abriga algumas "estrelas" do PT na área de planejamento urbano.
Muitos trabalharam no governo da ex-petista Luiza Erundina (PSB) na Prefeitura de São Paulo (1989-1992). A secretária-executiva do ministério, Ermínia Maricato (PT-SP), por exemplo, foi secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano de Erundina.
O arquiteto e urbanista Jorge Hereda (PT-SP), que foi presidente da Cohab no governo Marta Suplicy (2001-2004) e hoje é secretário Nacional de Habitação, também participou do governo Erundina, assim como Raquel Rolnik (PT-SP), atual secretária nacional de Programas Urbanos.
A forte presença de petistas em Cidades fez com que a pasta fosse vista pelos próprios integrantes da sigla como um dos últimos redutos do PT fiéis às tradicionais políticas públicas. Daí a pressão para que a pasta não mude de legenda na reforma ministerial.


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