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NOVELA MINISTERIAL
Todas as secretarias são de petistas; para assessores de Lula, se Olívio Dutra deixar pasta, haverá resistência
Na mira da reforma, Cidades é reduto do PT
JULIA DUAILIBI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cotada para entrar na dança das
cadeiras da reforma ministerial, a
pasta de Cidades, conhecida na
Esplanada dos Ministérios como
"bunker" do PT, causa arrepios
em partidos postulantes ao cargo
de ministro. Todas as secretarias e
a maioria das diretorias estão com
filiados petistas.
O exemplo do loteamento dos
cargos no governo federal salta
aos olhos quando se coloca em
pauta o Ministério das Cidades,
do petista Olívio Dutra (RS), amigo de Lula há mais de 20 anos.
Das quatro secretarias nacionais do ministério (Habitação, Saneamento Ambiental, Programas
Urbanos e Transporte-Mobilidade Urbana), todas são geridas por
integrantes do partido.
O mesmo acontece com diretorias e órgãos subordinados à pasta, como a CBTU (Companhia
Brasileira de Trens Urbanos) e a
Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre). Dos 34
cargos de chefia do ministério,
pelo menos 22 são de petistas. Outros três estão com pessoas ligadas ao PPS, PC do B e PMDB.
Com os cargos de comissão nas
mãos do PT, os próprios assessores do presidente Lula admitem
que outros partidos encontrarão
resistências internas se forem parar no ministério. Estão cotados
para o cargo a senadora licenciada Roseana Sarney (PFL-MA) e o
ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Ao mesmo tempo em que o PT
briga nos bastidores para ficar
com a pasta, Lula resiste a demitir
o colega. A demissão, em fevereiro, do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do
Ministério da Saúde, Luiz Carlos
Bueno de Lima, é citada como
exemplo de como pode acabar
mal o confronto entre partidos.
Indicado pelo PP, Lima era desafeto de Humberto Costa e saiu
acusando-o de ignorar alerta sobre crise no abastecimento de medicamentos contra Aids.
Entre os petistas, estão filiados
do Rio Grande do Sul, principalmente no gabinete do ministro, e
de São Paulo.
Dirceu Silva Lopes (PT-RS),
chefe-de-gabinete de Dutra, foi
secretário do Interior na gestão do
petista no Rio Grande do Sul
(1998-2002), enquanto Iria Charão Rodrigues, assessora especial
de relações com a comunidade,
foi coordenadora do Gabinete de
Relações Comunitárias.
Os cargos de Cidades, que antes
era Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano, ligada à Presidência, foram criados por decreto do presidente Lula no primeiro semestre de 2003.
Passado
Com um Orçamento de R$ 730
milhões neste ano, o ministério
abriga algumas "estrelas" do PT
na área de planejamento urbano.
Muitos trabalharam no governo
da ex-petista Luiza Erundina
(PSB) na Prefeitura de São Paulo
(1989-1992). A secretária-executiva do ministério, Ermínia Maricato (PT-SP), por exemplo, foi secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano de Erundina.
O arquiteto e urbanista Jorge
Hereda (PT-SP), que foi presidente da Cohab no governo Marta
Suplicy (2001-2004) e hoje é secretário Nacional de Habitação, também participou do governo Erundina, assim como Raquel Rolnik
(PT-SP), atual secretária nacional
de Programas Urbanos.
A forte presença de petistas em
Cidades fez com que a pasta fosse
vista pelos próprios integrantes
da sigla como um dos últimos redutos do PT fiéis às tradicionais
políticas públicas. Daí a pressão
para que a pasta não mude de legenda na reforma ministerial.
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