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Jobim ignora FAB e prioriza transferência de tecnologia de caças
Aeronáutica diz que ministro se baseou no relatório oficial e não deve se opor à escolha do francês Rafale
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, desconsiderou o ranking da Aeronáutica em que o
caça sueco Gripen NG ficou em
primeiro lugar para renovar a
frota da FAB e mandou de volta
aos militares um relatório sucinto desqualificando as possibilidades de transferência de
tecnologia tanto do caça sueco
quanto do norte-americano
F-18 e afunilando a escolha para o francês Rafale.
A base da justificativa do ministro, conforme a Folha antecipou em 4 de fevereiro, é que o
F-18 é americano e o Gripen
NG tem componentes dos
EUA, como o motor, e ambos
deixariam o Brasil vulnerável.
Os EUA, que têm regras peculiares de transferência de tecnologia, já impediram a Embraer de vender os aviões Super Tucano à Venezuela por terem peças americanas.
Argumentando que a avaliação de Jobim foi a partir de informações objetivas pinçadas
do próprio relatório da FAB, o
comandante da Aeronáutica,
Juniti Saito, respondeu anteontem ao ministro que o Alto
Comando (integrado pelos brigadeiros de mais alta patente)
não tinha nada a opor. Com isso, Jobim tem o caminho livre
para finalmente anunciar o caça francês, o último no ranking
oficial da Aeronáutica. O pacote do Rafale deve ficar em cerca
de R$ 18 bilhões.
Trata-se de mais um ritual
para dar argumentos formais a
uma decisão política que já foi
tomada desde o ano passado e
ratificada num encontro a portas fechadas de Jobim com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, no início do mês passado.
Para completar esse ritual,
Lula pretende reunir o Conselho de Defesa Nacional antes
de anunciar publicamente a
opção. Como os reis da Suécia,
Carl Gustaf e Sílvia, virão a Brasília na próxima semana, a expectativa é que esse anúncio só
ocorra em abril.
No relatório da FAB, o sueco
ficou em primeiro, o americano, em segundo e o francês, em
terceiro. Apesar de se basear
formalmente nele para garantir a escolha dos franceses, Jobim desconsiderou os sete
itens analisados minuciosamente pelos técnicos da Aeronáutica e se concentrou exclusivamente nas dificuldades de
transferência de tecnologia.
O curioso é que, conforme a
Folha já divulgou, a FAB não
considerou o Rafale como melhor opção em nenhum dos
itens e deu o primeiro lugar ao
Gripen NG mesmo em "transferência de tecnologia". Neste
caso, o Rafale ficou em segundo, e o F-18, em terceiro.
Jobim, porém, já tem o discurso pronto: dirá que os critérios de avaliação técnica da
FAB são anteriores à Estratégia
Nacional de Defesa e, por isso,
estariam defasados diante das
prioridades estabelecidas pelo
atual governo.
A novela do FX, o programa
de renovação dos caças da FAB,
vem desde o governo Fernando
Henrique Cardoso, atravessou
todo o primeiro mandato de
Lula e está para ser encerrada
no último ano do segundo mandato. O Gripen foi o primeiro
colocado na FAB tanto na primeira avaliação, ainda com
FHC, quanto na de agora, já
com Lula, mas o Rafale foi o
preferido político desde o início da seleção do atual governo.
O risco é os EUA e a Suécia
denunciarem, publicamente ou
nos bastidores, que o processo
de seleção não era para valer,
mas apenas para justificar uma
decisão já previamente tomada
a favor dos franceses.
Em nome de uma "aliança estratégica" com o governo de Nicolas Sarkozy, o Brasil já assinou contrato de R$ 22 bilhões
com a França para a fabricação
de helicópteros, submarinos
convencionais e um submarino
de propulsão nuclear.
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