São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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CAMPO MINADO

Em programa de rádio, presidente pede que os movimentos sociais evitem radicalizar as manifestações

Lula cobra mais responsabilidade do MST

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou seu programa quinzenal de rádio para cobrar responsabilidade dos movimentos sociais e, ao mesmo tempo, pedir que evitem a radicalização das manifestações. O recado do presidente foi para sindicalistas, servidores públicos e lideranças do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Lula disse que protestos populares são inerentes à democracia. "Quem quiser fazer manifestações, este é um país democrático, um país livre, as pessoas podem fazer. O que não podem é perder o senso de responsabilidade."
Em relação ao MST, o presidente afirmou que a reforma agrária será feita de forma "tranqüila" e "pacífica" porque "eles [o dirigentes do MST] sabem que este país tem lei, regras. E ela vale para o presidente da República, para o sem-terra e para o "com-terra"."
Ele usou sua experiência como sindicalista para dizer que, quando liderou manifestações e radicalizou, não foi bem sucedido. "Se quiserem radicalizar, as pessoas sabem que isso não as ajuda. Já fui dirigente sindical, radicalizei muitas vezes e tive bom senso em outras vezes. E toda vez que prevaleceu o bom senso, eu ganhei. Toda vez que prevaleceu o radicalismo, eu perdi", afirmou.
Lula pediu aos líderes de movimentos sociais cuidado com o que falam. "Se posso dar um conselho aos meus companheiros do movimento social, é: ajam com a maior responsabilidade possível, porque todos nós seremos vítimas das nossas palavras."
O governo vem sofrendo pressão de várias categorias de servidores públicos que exigem aumento salarial. Uma parte dos servidores federais, por exemplo, decidiu anteontem entrar em greve por tempo indeterminado a partir de 10 de maio.
A greve é uma resposta à proposta do governo de promover reajustes diferenciados por categoria e com índices menores para os aposentados. A proposta do governo prevê reajustes diferenciados que vão de 13,22% a 32,07% para funcionários públicos em atividade e de 9,94% a 28,95% para os aposentados.
Prometendo "infernizar" o governo, o MST também aumentou as invasões em março e abril.
Lula também disse, sobre passeatas de sem-terra e ameaças de greve, que governantes não podem se contentar só com elogios.
"Ele [o governante] tem que ter a mesma sensibilidade para as pessoas que o elogiam, mas também para as pessoas que o criticam. Até porque, às vezes, quando criticam o governo, estão mais certos do que os que elogiam", afirmou no programa de rádio.

Investimentos no campo
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem à noite que as invasões de terras promovido pelo MST são algo "preocupante e desestabilizador das possibilidades de investimento no campo". De acordo com Rodrigues, a onda de invasões deflagrada pelos sem-terra é objeto de inquietação no governo. "O governo está operando peremptoriamente, sistematicamente e será feita a reforma agrária no Brasil. Porém, dentro do império da lei."
Indagado pelos jornalistas se o governo estaria sendo desastrado ao tratar do tema, o ministro usou como argumento que as respostas às invasões têm que ser amparadas por instrumentos legais.
"Quando há uma invasão, o governo tem poucas condições porque há uma série de impedimentos burocráticos. É preciso fazer o pedido de reintegração de posse, há todo um processo jurídico até que a área invadida seja reintegrada. Estamos colocando recursos à disposição [dos órgãos responsáveis], promovendo desapropriações diárias e colocando em prática as medidas para promover a reforma agrária dentro de um programa legal."
(GABRIELA ATHIAS)


Colaborou JOSÉ ALAN DIAS, da Reportagem Local


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