São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2007

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Polícia diz que bicheiros são os donos dos bingos do Rio

Chefes do jogo do bicho controlam a Aberj, que seria o elo com o setor público

Vice-presidente da entidade é apontado como o maior "bingueiro" do Estado; Aberj não se manifestou sobre acusações da polícia


RAPHAEL GOMIDE
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Os três chefes do jogo do bicho presos pela Polícia Federal são os verdadeiros donos dos bingos no Estado do Rio e controlam a associação dos empresários que exploram a atividade, embora seus nomes não constem das composições societárias, afirma o Ministério Público Federal. Em seu lugar aparecem "laranjas".
Outro sócio da maioria das casas de jogos do Rio é José Renato Granado Ferreira, hoje vice-presidente e antes presidente da Associação dos Administradores de Bingos e Similares do Estado do Rio (Aberj). Granado é considerado o maior "bingueiro" do Rio e também foi preso. Ele é dono da Betec Games, empresa que foi beneficiada por decisões judiciais que liberavam caça-níqueis e alugou máquinas de empresário ligado a Carlos Cachoeira, filmado negociando propina com Waldomiro Diniz, assessor do então ministro José Dirceu.
Encaminhado à Justiça, o relatório da Procuradoria aponta que Antônio Petrus Kalil, o Turcão, Aniz Abrahão David, o Anísio, e Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, "são verdadeiramente as pessoas que comandam a organização, a quem cabe a decisão final sobre a atuação do grupo".
"Embora não apareçam formalmente como sócios ou proprietários de empresas que exploram máquinas caça-níqueis, são eles [os bicheiros] que decidem quem pode exercer a atividade e que autorizam a abertura de novas casas de bingo na região onde estão instalados", diz o relatório, assinado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.
A Associação dos Administradores de Bingos e Similares do Estado do Rio de Janeiro não se manifestou sobre a acusação de que os bicheiros seriam os reais donos dos bingos. Os advogados que defendem Aniz Abrahão David, Capitão Guimarães e Antônio Petrus Kalil não foram localizados.
O relatório diz que, "para a consecução de seus objetivos", os chefões do jogo do bicho "valem-se da Aberj, entidade instituída com a finalidade exclusiva de acobertar as atividades ilícitas dos seus integrantes".
José Renato Granado é apontado pela PF e pelo procurador-geral como "laranja". Ele e os demais subalternos da quadrilha se referem aos bicheiros como "os tios" nas conversas gravadas. Além de Granado, são citados como donos de bingos outros seis empresários que prestam contas de suas atividades aos bicheiros. Além de explorar "jogos de azar", eles são acusados de usar nas máquinas "componentes eletrônicos irregularmente importados".
A Folha apurou que, em geral, o lucro do bingo é do "dono" e administrador da loja, enquanto as máquinas caça-níqueis instaladas pertencem aos bicheiros. Seu lucro é repartido entre os proprietários do equipamento e o sócio majoritário do bingo (que recebe de 20% a 40% do bruto das máquinas).
A Aberj seria o elo corruptor entre a cúpula do jogo do bicho e os agentes públicos nas polícias, na Justiça e no Ministério Público. O relatório diz que membros da organização se beneficiam com a compra de "informações privilegiadas repassadas por policiais federal e civil, bem como tendo a atividade assegurada por decisões judiciais obtidas mediante o oferecimento de vantagens".


Colaborou a Sucursal de Brasília

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