São Paulo, segunda, 20 de abril de 1998

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PERSONALIDADE
Aos 57, ministro morreu de insuficiência respiratória às 23h45 depois de insucesso no combate à infecção
Motta morre após 12 dias de internação

Juca Varella 15.out.97/Folha Imagem
O ministro das Comunicações Sérgio Motta, que faleceu às 23h45 de ontem, de insuficiência respiratória


da Reportagem Local

O ministro das Comunicações Sérgio Motta, 57, morreu ontem às 23h45, depois de 12 dias de internação no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, devido à insuficiência respiratória.
Engenheiro industrial, casado, pai de três filhas, paulistano, foi um dos fundadores do PSDB e coordenador de campanha em 94 do presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem era amigo e sócio. Era o responsável, até sua internação, pelo programa de privatização da área de telefonia.
Ontem o quadro de Sérgio Motta se agravou ainda mais. Segundo boletim médico divulgado às 13h15, o ministro apresentava "piora da função renal" e "insuficiência respiratória grave, necessitando de altas frações inspiradas de oxigênio, próximo de 100%".
Cinco dias atrás, quando Motta havia apresentado uma ligeira melhora, sua capacidade pulmonar estava em 35%.
O quadro febril não cedia à medicação adotada, o que demonstrava que a infecção resistia. A situação era crítica havia dias e com poucas possibilidades de reversão.
O processo inflamatório dos pulmões, na região entre os alvéolos, dificultava a difusão do oxigênio, provocando hipóxia (queda da taxa de oxigênio no sangue).
Com a saturação de oxigênio muito baixa, órgãos como os rins e o fígado começam a se debilitar e o coração tem aumentada a chance de isquemia, que acaba provocando arritmia cardíaca, seguida então de parada cardíaca.
Há quase dois meses, Motta foi a Denver (EUA) fazer exames num dos mais conceituados centros de estudo de pulmões do mundo. O pneumologista que o atendeu constatou que o ministro necessitava de um transplante de pulmões para combater a fibrose. Mas seu quadro clínico geral desaconselhava a medida.
O problema de Motta era no interstício pulmonar, o tecido que fica entre os alvéolos, onde o oxigênio inspirado é trocado por gás carbônico.
O ministro tinha fibrose (espécie de cicatrização) no interstício, o que o tornava enrijecido e dificultava a troca gasosa.
Então, Motta voltou ao Brasil com a recomendação de evitar andar de avião -devido à refrigeração do ar- e frequentar ambientes com muitas pessoas, pois estava com sua resistência debilitada.
O ministro não cumpriu nenhuma das duas determinações. Viajou para Brasília de avião para a posse de José Serra no Ministério da Saúde em 31 de março e participou ainda de duas audiências públicas, que reuniram mais de 50 pessoas cada uma.
O estado de Motta na sexta-feira já era tão complicado que assessores de FHC afirmaram que a visita do presidente ao ministro foi em tom de despedida.



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