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SUCESSÃO PRESIDENCIAL
Candidato se define como nacionalista e diz que PSDB e PT são "faces da mesma moeda"
Enéas quer retomar estatais privatizadas
WILSON TOSTA
da Sucursal do Rio
Romper com
o FMI (Fundo
Monetário Internacional),
frear a globalização e anular
as privatizações
são algumas das principais propostas do cardiologista Enéas Carneiro, 59, em sua terceira tentativa
de chegar à Presidência da República pelo Prona (Partido de Reedificação da Ordem Nacional).
Em entrevista em que cita idéias
de Lyndon Larouche, líder de extrema direita nos EUA, Enéas critica PSDB e PT, segundo ele "duas
faces da mesma moeda", por supostamente se submeterem à atual
ordem mundial. Diz ainda que a
distinção entre direita e esquerda
perdeu o sentido. Leia a seguir os
principais trechos da entrevista.
Folha - A sua campanha em 98
vai ser basicamente o senhor falando na televisão? Na sua primeira campanha, seu tempo era de
apenas 15 segundos, não era suficiente nem para dizer "bom dia"...
Enéas Carneiro - Não, não, dizer "bom dia" leva dois segundos.
Por favor.
Folha - O senhor já cronometrou?
Enéas - Claro. Eu não sou oligofrênico. Durante 15 segundos, 14
eu usava: dava para dizer 56 palavras. "Meu nome é Enéas", a expressão toda, leva dois segundos.
Então, eu dizia muita coisa. Só que
a maioria, inclusive dos jornalistas, grande parte deles com hipóxia (baixa oxigenação) cerebral, só
ouvia "meu nome é Enéas". Aí espalhou-se que só dizia meu nome,
o que é uma absoluta inverdade.
Folha - O que o senhor critica no
processo brasileiro?
Enéas - Não é uma coisa, é um
leque. A abertura indiscriminada
da economia aos produtos industrializados lá fora: isso destrói o
parque industrial brasileiro. Na
mesma ordem de idéias, a abertura
indiscriminada ao ingresso de
produtos agrícolas, o que é um dos
maiores fatores para a destruição
do pequeno e do médio agricultor.
Terceiro, a valorização artificial do
real, mantida no sentido de conseguir que a inflação esteja sempre
em níveis baixos. As taxas de juros
mantidas em um nível que chega a
ser, de quando em quando, o
maior do planeta. Uma carga tributária gigantesca, que leva a
maior parte daqueles que produzem a trabalhar com níveis de sonegação que são conhecidos...
Folha - Devo deduzir então que o
senhor faria...
Enéas - Exatamente o oposto de
tudo o que está aí.
Folha - Por exemplo?
Enéas - Eu digo isso com clareza: só há uma saída, ruptura com o
sistema financeiro internacional.
Quando digo sistema financeiro
internacional, estou falando de
um conjunto de órgãos. Isso engloba Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio etc. Eu
não acredito que haja outro caminho. E, para colorir o que estou dizendo para o senhor, há uma entrevista interessante aqui (na revista "Executive Intelligence Review"), do senhor Lyndon Larouche, falando da necessidade de caminharmos para um novo acordo
de Bretton Woods. Então, o que o
senhor professor Lyndon Larouche está propondo é um novo modelo mundial, um modelo em que
não circulem por dia US$ 3 trilhões em um mercado financeiro
absolutamente artificial.
Folha - O senhor reveria as privatizações?
Enéas - Sem dúvida. Por exemplo, há um trabalho extraordinariamente sério do senador Amir
Lando, (feito) na época das privatizações, muito antes de a Vale do
Rio Doce ter sido doada... Eles dizem vendida, mas foi doada. Esse
trabalho mostrou que houve, sem
dúvida, questões que, no mínimo,
podem ser tratadas como inconstitucionalidades, por ocasião da
venda das estatais. Quando o senhor pergunta, eu digo que, em
chegando (à Presidência), volta
tudo (todas as ex-estatais). Tudo,
tudo, tudo, tudo. Sem exceção.
Como pagaria? Com os mesmos
papéis com os quais elas foram entregues. Eles vieram e voltam. Terei do meu lado a lei, sem dúvida.
Folha - Por que o senhor exclui
PSDB e PT do seu campo de alianças e diz que representam posição
diametralmente oposta à sua?
Enéas - Porque são as duas estruturas políticas mais atreladas a
tudo aquilo de que me queixei. Vamos tomar um documento chamado Diálogo Interamericano.
Foi fundado em 82. É fundador o
presidente Fernando Henrique.
Do Diálogo Interamericano emergem muitas considerações postas
em prática a posteriori. Mais à
frente, por exemplo, o Consenso
de Washington tem delineadas as
vigas mestras do que se chama hoje globalização. O PT tem o seu líder maior, o senhor Luiz Inácio
(Lula da Silva), indo em 92 assinar
o Diálogo Interamericano. Então,
do ponto de vista das questões
maiores, PSDB e PT estão juntos.
São duas faces da mesma moeda.
Folha - O senhor daria um freio à
globalização no Brasil?
Enéas - O processo como está
aí, do jeito que está, sim.
Folha - Como o senhor se define
politicamente?
Enéas - Eu sou um nacionalista,
um homem preocupado com a minha nação. A nação está caminhando para um abismo. O senhor
Larouche diz que está se aproximando um período, para a humanidade, parecido com o da peste
negra, com a Idade das Trevas.
Não há mais, a meu ver, condições
de falar em esquerda e direita, no
mundo atual. Miscigenaram-se os
conceitos.
Folha - Quando o senhor começou a tomar essas precauções em
relação à imprensa?
Enéas - Depois de distorções,
após 94. A revista "Veja", após a
eleição, escreveu: "Cacareco Criou
Asas". Pelo amor de Deus, vamos
ter respeito. Então um professor
de medicina, respeitado... Há poucos dias, eu me irritei quando o
dono do seu jornal escreveu "O
Nome de Enéas" e fez considerações. O senhor deve ter visto, em
um programa ao vivo, de televisão, eu disse que ele deveria estudar. Ele escreveu "adequa", que o
meu discurso não se "adequa" à
população. O verbo é defectivo, ele
já se retratou, disse que errou, é
normal. Não é nada demais. Aquilo eu disse apenas porque (ele)
precisa ter respeito. Esse senhor
precisa aprender a respeitar.
Folha - Se não der desta vez, o
senhor deve ser candidato na próxima eleição?
Enéas - Não sei. Se não chegarmos, tenho muita tristeza pelo
meu país, muita tristeza pelo que
se avizinha.
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