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SISTEMA FINANCEIRO
Procurador afirma ter bilhete indicando que ex-presidente do BC teria US$ 1,675 milhão fora do país
CPI apura dinheiro de Lopes no exterior
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
O procurador
da República
Arthur Gueiros
informou ontem à CPI dos
Bancos que o
Ministério Público descobriu
na casa do ex-presidente do Banco
Central Francisco Lopes um bilhete indicando que o economista
possuía US$ 1,675 milhão em contas no exterior.
Segundo as informações de
Gueiros, o bilhete -datado de
agosto de 1996, quando Lopes ocupava a diretoria de Política Monetária do BC- foi enviado por Sérgio Bragança, da empresa de consultoria Macrométrica, a Araci
Bentes dos Santos Pugliese, mulher de Lopes.
Não há indicação sobre quando o
dinheiro teria sido obtido.
O bilhete, segundo Gueiros, estava em um envelope lacrado, com
uma recomendação escrita com
um teor parecido com: "Ciça, abra
apenas na minha falta".
Procurada no Rio, Araci Pugliese
disse desconhecer o bilhete. "Toda
essa história tem tido muita surpresa para mim", afirmou, pelo interfone do prédio onde o casal mora, em Copacabana. Francisco Lopes não foi encontrado ontem pela
Folha.
O procurador fez as revelações
aos senadores da CPI em reunião
fechada realizada ontem à noite. A
Folha obteve um relato detalhado
do teor da reunião com seis participantes que pediram anonimato.
O bilhete apreendido pelo Ministério Público na sexta-feira passada tem, segundo quem o leu, um
tom de confissão, como se Araci
-tratada pelo apelido de Ciça-
não soubesse das contas de Lopes.
No documento, Bragança diz
que o dinheiro, de Lopes, estava
sob a custódia dos demais sócios
da Macrométrica e disponível assim que Araci precisasse dele.
Duas pessoas seriam relacionadas como testemunhas: um genro
de Lopes e uma pessoa chamada
Ivo, ainda não identificada.
O relator da CPI, João Alberto
(PMDB-MA), confirmou, depois
da reunião, parte do relato de
Gueiros. Alberto disse que o procurador revelou a existência de
"documentos terríveis, que comprometem o Chico Lopes e podem
ruir os pilares da nação".
Lopes foi um dos fundadores da
Macrométrica, empresa da qual se
desligou antes de ingressar no governo. Araci, com quem não tem
relação de casamento civil, se
manteve como sócia da empresa,
ao lado dos irmãos Sérgio e Luiz
Augusto Bragança.
Em depoimento à Polícia Federal
na última sexta-feira, Lopes não
mencionou a existência de contas
em seu nome no exterior.
O ex-presidente do BC disse apenas possuir as contas correntes
976130-6 e 5458-5 no Banco do
Brasil, em Brasília e no Rio, respectivamente, além de uma conta no
Itaú, também no Rio, de cujo número disse não se lembrar.
Fora isso, Lopes declarou possuir uma caderneta de poupança
no Banco Real e uma aplicação em
um fundo de renda fixa do Banco
Prosper, no Rio.
Gueiros relatou ter encontrado
um "calhamaço" de informações
nas diligências que o Ministério
Público fez na semana passada.
Afirmou que ainda não foi possível definir com precisão a qualidade de tudo o que foi encontrado
(leia texto abaixo).
A reunião começou às 19h55. Até
as 20h30, os procuradores eram
pressionados pelos senadores. Um
senador, em tom ríspido, pediu
explicação sobre o vazamento de
documentos à imprensa.
Esse tom de crítica acabou no
momento em que os procuradores
relataram um pouco do conteúdo
do material apreendido. Ao final
da reunião, às 21h40, os senadores
votaram moção de apoio da CPI ao
Ministério Público.
As informações de Gueiros fizeram a CPI adiar o depoimento do
ex-diretor de Fiscalização do BC
Cláudio Mauch, marcado inicialmente para hoje. A nova data é o
dia 26, a mesma de Lopes.
Na reunião foi pedida a quebra
do sigilo bancário de Lopes. No
entanto, o senador Jader Barbalho
(PA), presidente nacional do
PMDB e mentor da CPI, pediu vista e impediu que a quebra fosse
aprovada. Ainda ontem, os procuradores iniciariam um exame grafotécnico do bilhete citando o suposto dinheiro de Lopes.
Colaboraram a Sucursal de Brasília
e a Sucursal do Rio
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