São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Procurador afirma ter bilhete indicando que ex-presidente do BC teria US$ 1,675 milhão fora do país
CPI apura dinheiro de Lopes no exterior


FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília


O procurador da República Arthur Gueiros informou ontem à CPI dos Bancos que o Ministério Público descobriu na casa do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes um bilhete indicando que o economista possuía US$ 1,675 milhão em contas no exterior.
Segundo as informações de Gueiros, o bilhete -datado de agosto de 1996, quando Lopes ocupava a diretoria de Política Monetária do BC- foi enviado por Sérgio Bragança, da empresa de consultoria Macrométrica, a Araci Bentes dos Santos Pugliese, mulher de Lopes.
Não há indicação sobre quando o dinheiro teria sido obtido.
O bilhete, segundo Gueiros, estava em um envelope lacrado, com uma recomendação escrita com um teor parecido com: "Ciça, abra apenas na minha falta".
Procurada no Rio, Araci Pugliese disse desconhecer o bilhete. "Toda essa história tem tido muita surpresa para mim", afirmou, pelo interfone do prédio onde o casal mora, em Copacabana. Francisco Lopes não foi encontrado ontem pela Folha.
O procurador fez as revelações aos senadores da CPI em reunião fechada realizada ontem à noite. A Folha obteve um relato detalhado do teor da reunião com seis participantes que pediram anonimato.
O bilhete apreendido pelo Ministério Público na sexta-feira passada tem, segundo quem o leu, um tom de confissão, como se Araci -tratada pelo apelido de Ciça- não soubesse das contas de Lopes.
No documento, Bragança diz que o dinheiro, de Lopes, estava sob a custódia dos demais sócios da Macrométrica e disponível assim que Araci precisasse dele.
Duas pessoas seriam relacionadas como testemunhas: um genro de Lopes e uma pessoa chamada Ivo, ainda não identificada.
O relator da CPI, João Alberto (PMDB-MA), confirmou, depois da reunião, parte do relato de Gueiros. Alberto disse que o procurador revelou a existência de "documentos terríveis, que comprometem o Chico Lopes e podem ruir os pilares da nação".
Lopes foi um dos fundadores da Macrométrica, empresa da qual se desligou antes de ingressar no governo. Araci, com quem não tem relação de casamento civil, se manteve como sócia da empresa, ao lado dos irmãos Sérgio e Luiz Augusto Bragança.
Em depoimento à Polícia Federal na última sexta-feira, Lopes não mencionou a existência de contas em seu nome no exterior.
O ex-presidente do BC disse apenas possuir as contas correntes 976130-6 e 5458-5 no Banco do Brasil, em Brasília e no Rio, respectivamente, além de uma conta no Itaú, também no Rio, de cujo número disse não se lembrar.
Fora isso, Lopes declarou possuir uma caderneta de poupança no Banco Real e uma aplicação em um fundo de renda fixa do Banco Prosper, no Rio.
Gueiros relatou ter encontrado um "calhamaço" de informações nas diligências que o Ministério Público fez na semana passada.
Afirmou que ainda não foi possível definir com precisão a qualidade de tudo o que foi encontrado (leia texto abaixo).
A reunião começou às 19h55. Até as 20h30, os procuradores eram pressionados pelos senadores. Um senador, em tom ríspido, pediu explicação sobre o vazamento de documentos à imprensa.
Esse tom de crítica acabou no momento em que os procuradores relataram um pouco do conteúdo do material apreendido. Ao final da reunião, às 21h40, os senadores votaram moção de apoio da CPI ao Ministério Público.
As informações de Gueiros fizeram a CPI adiar o depoimento do ex-diretor de Fiscalização do BC Cláudio Mauch, marcado inicialmente para hoje. A nova data é o dia 26, a mesma de Lopes.
Na reunião foi pedida a quebra do sigilo bancário de Lopes. No entanto, o senador Jader Barbalho (PA), presidente nacional do PMDB e mentor da CPI, pediu vista e impediu que a quebra fosse aprovada. Ainda ontem, os procuradores iniciariam um exame grafotécnico do bilhete citando o suposto dinheiro de Lopes.


Colaboraram a Sucursal de Brasília e a Sucursal do Rio


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