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SISTEMA FINANCEIRO
Economista mostra conhecer detalhes de sua antiga empresa
Depoimento de Lopes à
PF não elimina dúvidas
da Sucursal de Brasília
O ex-presidente do Banco
Central Francisco Lopes demonstrou, em
seu depoimento
à Polícia Federal, ter conhecimento de detalhes da administração da empresa de consultoria Macrométrica, embora tenha afirmado não ser mais um dos sócios.
Outro ponto que deixa dúvidas
no depoimento de Lopes à PF é sua
afirmação de que só soube pelos
jornais que o banqueiro Salvatore
Cacciola, do Marka, remeteu dólares ao exterior -o BC, porém, informou à CPI dos Bancos ter tido
conhecimento prévio da operação.
A relação entre Lopes e a Macrométrica ganhou importância depois que se divulgou a hipótese de
a empresa -hoje administrada
pelos irmãos Sérgio e Luiz Augusto
Bragança- estar envolvida em
eventual passagem de informações
privilegiadas ao mercado.
No depoimento que prestou à PF
na sexta, Lopes disse estar desligado da Macrométrica, mas confirmou que sua mulher, Araci Bentes
dos Santos Pugliese, é sócia.
Segundo o termo do depoimento, obtido pela Folha, Lopes foi capaz de responder a perguntas bastante específicas sobre a empresa
que fundou em 1984 e da qual se
afastou oficialmente antes de ingressar no governo, em 95.
Lopes disse que a Macrométrica
não prestou nem presta consultoria aos bancos Marka e FonteCindam (que receberam ajuda do BC
após a desvalorização do real, em
janeiro) e que não opera nem operou no mercado futuro de câmbio.
Sempre de acordo com o documento da PF, ele chegou a afirmar
que a Macrométrica -assim como ele próprio- declara regularmente o Imposto de Renda.
Lopes não citou os irmãos Bragança, seus ex-sócios, no depoimento. Na sexta-feira ainda não
era conhecida a reportagem da revista "Época" segundo a qual ambos teriam passado informações
recebidas de Lopes aos bancos
Marka, FonteCindam e Boavista.
Mas Lopes discorreu sobre outras relações com pessoas envolvidas no episódio. Disse conhecer
Rubem Novaes, apontado em outras versões como o intermediário
entre Cacciola, do Marka, e o BC.
Lopes e Novaes se conheceram e
mantiveram contatos "esporádicos" ao longo dos anos 70 na Fundação Getúlio Vargas. Mais recentemente, segundo Lopes, só tiveram um contato na delegacia do
BC no Rio -o ex-presidente do
BC não soube precisar a data.
Com Eduardo Modiano, seu ex-sócio na Macrométrica e que hoje
se encontra no FonteCindam, Lopes disse estar com relações estremecidas.
Além da defesa já conhecida do
socorro ao Marka e ao FonteCindam e de sua versão para a desvalorização do real, Lopes disse que
não soube, durante a sua curta
passagem pela presidência do BC,
que Cacciola remeteu US$ 13,12
milhões ao exterior enquanto seu
banco era socorrido com dinheiro
público.
Mas a versão do diretor de Fiscalização do BC, Luiz Carlos Alvarez,
para o caso põe a de Lopes em dúvida. Segundo Alvarez, as remessas ocorreram em duas etapas.
Em 14 de janeiro, foram remetidos US$ 2 milhões por Cacciola.
Em 18 de janeiro, houve outras
duas remessas, somando US$ 11,12
milhões.
Ainda que se admita que Lopes
não sabia da primeira remessa, é
estranho que não tenha sido informado das de 18 de janeiro, quando
as operações do Marka já eram
acompanhadas de perto pelo BC.
Uma única frase de Lopes é reproduzida integralmente pelo documento da PF. Sobre a legalidade
do socorro ao Marka e ao FonteCindam, respondeu: "Se não tivesse convicção absoluta da legalidade dessas operações, as mesmas
não seriam realizadas".
As operações, disse, foram respaldadas pelo Departamento Jurídico do BC, com uma consulta ao
procurador Francisco Siqueira e a
outros dois procuradores.
Lopes disse considerar que as
operações não deram prejuízo ao
BC, uma vez que utilizaram cotações superiores às praticadas pela
Bolsa de Mercadorias & Futuros.
Lopes voltou a repetir que o presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro Pedro Malan
(Fazenda) não foram informados
do socorro aos dois bancos.
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