São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
O banco francês suspendeu o negócio para não ter o nome associado ao da instituição socorrida pelo BC
BNP desiste de comprar FonteCindam

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local


O banco francês Banque Nationale de Paris (BNP) cancelou ontem a operação de compra do FonteCindam para evitar que seu nome permaneça ligado ao banco carioca socorrido pelo BC durante a crise cambial.
A compra havia sido anunciada em 12 de março, mas ainda não estava formalizada. Os procedimentos de formalização estavam suspensos há cerca de uma semana.
O BNP aguardava os desdobramentos do caso para se posicionar.
Na quinta e sexta-feira da semana passada, as diretorias dos dois bancos se reuniram para discutir a suspensão. Nada ficara definido, esperando a palavra final da matriz do BNP, em Paris.
Hoje, o BNP publica nos jornais um comunicado em que informa a suspensão da operação, justificando que "o contexto atual, decorrente das diversas investigações em curso, inviabiliza o prosseguimento das negociações".
O banco tem o cuidado de dizer que a decisão "não expressa nenhum julgamento diante dos fatos estranhos ao BNP."
Segundo a Folha apurou, o BNP, maior banco francês, avaliou que sua ligação com um banco sob investigação no Brasil poderia ter repercussão negativa no mercado internacional.
Quando foi anunciada a compra, a operação ainda não havia sido revelada. Não era de conhecimento público que o FonteCindam haviam recebido ajuda do BC para liquidar seus contratos de câmbio no mercado futuro. Nesse tipo de mercado, comprador e vendedor acertam hoje o preço de uma dada mercadoria que será comercializada em data futura.
Àquela altura, sabia-se apenas que o FonteCindam havia apostado na manutenção do câmbio, tendo, com isso, amargado prejuízos durante a desvalorização.
Pelo acordo que havia entre os dois bancos, o BNP assumiria os negócios do FonteCindam. Seria formada uma nova empresa, não-financeira, com sede no Rio de Janeiro, que concentraria a administração de fundos e a área de fusões e aquisições do BNP.
O valor do negócio não havia sido revelado, mas sabia-se que os quatro principais sócios do FonteCindam -Luiz Antonio Gonçalves, Eduardo Modiano, Roberto Steinfeld e Fernando Cesar Carvalho- ficariam com 20% da nova empresa e embolsariam ainda o patrimônio líquido do banco, que não entraria na operação.
Graças ao socorro do BC, o patrimônio do FonteCindam não foi reduzido a zero. Após uma perda de R$ 25 milhões com a desvalorização, ainda restaram R$ 61 milhões.

O socorro
Em 14 de janeiro, o BC assumiu 7.900 contratos de venda de dólar para entrega em 1º de fevereiro que pertenciam ao FonteCindam. Esses contratos equivaliam a US$ 790 milhões. Na época, o BC assumiu os contratos a uma cotação de R$ 1,322 para cada dólar, o que equivalia a uma dívida de R$ 1,04 bilhão. Em 1º de fevereiro, entretanto, o dólar foi a R$ 1,98 e o compromisso do BC saltou para R$ 1,56 bilhão, causando um prejuízo de R$ 520 milhões aos cofres públicos.


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