São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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IGREJA CATÓLICA
Após 3 turnos, d. Jayme Chemello, identificado com progressistas, teve 146 votos e d. Cláudio Hummes, 122
Atual presidente vence eleição na CNBB

CLÁUDIA TREVISAN
enviada especial a Indaiatuba (SP)

GUSTAVO PORTO
free-lance para a Folha Campinas

D. Jayme Chemello, identificado com a corrente progressista da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), ganhou ontem as eleições para a presidência da entidade e apresentou um discurso moderado e conciliador na primeira entrevista coletiva que concedeu depois de escolhido.
Chemello (pronuncia-se quemelo) condenou os saques a supermercado por flagelados da seca, fez restrições a invasões de terra e foi diplomático em relação a Fernando Henrique Cardoso, que, na sexta, disse que a igreja não deveria opinar sobre economia.
A declaração de FHC foi uma reação à análise de conjuntura feita durante a 37ª Assembléia Geral da CNBB, que acontece desde o último dia 14 em Indaiatuba (SP).
No documento, a entidade condenou a interferência de organismos financeiros internacionais na economia do país. "Eu não falei com o presidente sobre esse assunto", disse Chemello, evitando comentar a declaração de FHC.
De qualquer forma, o bispo afirmou que a CNBB continuará a se manifestar sobre temas sociais e políticos sempre que julgar necessário. "A igreja vai dizer não quando constatar que alguma coisa fere a dignidade humana, mas não somos um partido de oposição."
A eleição refletiu a divisão interna da CNBB entre progressistas e moderados. Chemello, 66, obteve 146 votos no terceiro turno da eleição, contra 122 de seu concorrente, o moderado d. Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo.
Nenhum dos candidatos obteve os dois terços de votos exigidos nos dois primeiros turnos. Na primeira votação, o placar foi 131 a 121. Na segunda, 137 a 126. No terceiro turno, a maioria dos votos bastava para definir a eleição.
Bispo de Pelotas, Chemello ocupa a presidência da CNBB desde junho de 1998, quando o então presidente, o conservador d. Lucas Moreira Neves, afastou-se do cargo para assessorar o papa João Paulo 2º no Vaticano. Agora, ele presidirá a entidade até 2003.
Chemello criticou as invasões de terra, mas condenou a lentidão na realização da reforma agrária. "Eu pessoalmente gostaria que o ritmo fosse bastante mais rápido", afirmou, ao mesmo tempo em que observou que há falta de recursos para a realização de assentamentos.
"Em princípio eu não gosto de saque nem de invasão de terra. Isso ocorre porque a gente não toma as medidas necessárias. Mas, quanto menos saque e menos invasão tiver, melhor", disse Chemello, em um discurso mais identificado com moderados e conservadores.
O presidente da CNBB havia concorrido à presidência da entidade em 1995, quando perdeu por pequena diferença de votos para Neves. Em uma composição entre os dois grupos, acabou escolhido para a vice-presidência.
A mesma composição não foi feita ontem. O eleito para a vice-presidência da CNBB foi o progressista d. Marcelo Carvalheira, que ocupa o cargo atualmente. Ele obteve 157 votos e Hummes, 97.
Chemello não é visto como um típico representante do grupo progressista, mas acabou catalisando a simpatia dessa corrente por valorizar o trabalho das pastorais, por meio das quais é feito o trabalho social da igreja. Além disso, é apontado como bispo aberto ao diálogo e descentralizador.

Papa
O papa João Paulo 2º virá ao Brasil em 2001 para encerrar as comemorações dos 500 anos do Descobrimento, anunciou ontem o presidente da CNBB. A Igreja Católica iniciou o seu calendário de comemorações no sábado passado, com uma missa em Indaiatuba.


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