São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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DESCOBRIMENTO
Ministro será coordenador, mas confusão sobre divisão de tarefas continua
Greca assume festejos dos 500 anos


CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília


A um ano de seu início, as comemorações pelo quinto centenário do Brasil têm novo coordenador executivo, o ministro do Turismo, Rafael Greca, mas continuam em clima de confusão no governo.
O Ministério das Relações Exteriores, ao qual a coordenação dos eventos estava subordinada até sexta-feira passada, diz que houve apenas uma "divisão de tarefas".
O ministro Luiz Felipe Lampreia afirmou, em nota à Folha, que a divisão atribuiu a Greca "toda a responsabilidade pelos aspectos de infra-estrutura na região de Cabrália e Porto Seguro" (Bahia).
"O Itamaraty continuará a ter responsabilidade primordial, com o Ministério da Cultura, pela coordenação de eventos acadêmicos e culturais, que não serão interrompidos nem modificados", disse.
Mas Greca, em entrevistas à Folha ontem e no domingo, declarou que o principal projeto cultural da Comissão Nacional do Quinto Centenário, a série de exposições "Descobrindo o Brasil", programada para percorrer 12 países, não irá mais ser realizada.
"Não vou reeditar o casamento de Maria de Médicis (com Henrique 4º, em 1600), ao qual mandamos tupinambás para dançarem para os franceses. Não posso consentir que se negue informação ao nosso povo e se façam tertúlias nas embaixadas para poucos", disse.
Greca afirmou que as exposições do quinto centenário serão realizadas no próprio país. "Por que perder a chance de divulgar o Brasil para os brasileiros para nos exibirmos na Europa?"
Lampreia, Greca e o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, afirmam que há acordo e concordância gerais no governo em relação à nova estrutura, com Greca como coordenador do comitê.
Mas a Folha testemunhou muitas manifestações de desapontamento com ela, feitas, sob condição de anonimato, por pessoas envolvidas com as comemorações.
Greca recusa objeções dos críticos. Acha que há tempo suficiente para organizar: "Não temos que temer o prazo de um ano, pois teremos depois outro ano inteiro para realizar os festejos".
Sobre a falta de infra-estrutura e de verbas no seu ministério, afirma que a Casa Civil da Presidência lhe prometeu os recursos necessários. "Além disso, posso nomear gerentes para cada projeto."
Sobre o trabalho já realizado pela comissão liderada pelo embaixador Lauro Moreira, diz que não quer "castrar boas idéias nem entrar em polêmicas", mas não havia "funcionalidade administrativa" na estrutura anterior: "O embaixador não é ministro; como ele podia coordenar as ações de ministros?".
A Comissão Nacional para as Comemorações do Quinto Centenário da Descoberta do Brasil foi criada em maio de 1993, no âmbito do Ministério da Educação, pelo presidente Itamar Franco.
Em fevereiro de 1996, o presidente Fernando Henrique Cardoso a transferiu para o âmbito do Ministério das Relações Exteriores, que designou o chefe de seu Departamento Cultural para presidi-la. No dia 5 de abril, FHC comunicou a Lampreia que Greca iria assumir.
O orçamento previsto da comissão para 1999 era de R$ 51 milhões. Acabou reduzido para R$ 12,7 milhões, dos quais R$ 700 mil foram liberados mas ainda não usados.
A mudança não afeta a co-presidência brasileira da comissão bilateral Brasil-Portugal das comemorações, instituída em 1991 por protocolo assinado pelos dois países. Segundo ele, o Itamaraty responde pela co-presidência brasileira.
A Folha apurou que poderá haver protesto português caso Greca seja nomeado para co-presidir a comissão bilateral dos festejos.
Uma das decisões que Greca antecipou à Folha é não construir o monumento concebido pelo arquiteto baiano Wilson Reis para ser edificado no mar da Bahia: "O monumento foi implodido pelo meu olhar de engenheiro e pela sua inapropriação ambiental".
Mas metade do custo do monumento já foi pago pelo governo de Portugal e a outra metade será custeada pela comunidade portuguesa no Brasil. "Se já está pago, aceito. Mas coloco o monumento em terra firme", disse Greca.
O ministro afirma que quer realizar "uma comemoração que não se esgote em si, mas que seja o início de um processo para melhorar a sociedade, a cultura, o ambiente, e para gerar empregos".


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