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DESCOBRIMENTO
Ministro será coordenador, mas confusão sobre divisão de tarefas continua
Greca assume festejos dos 500 anos
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
A um ano de
seu início, as comemorações
pelo quinto centenário do Brasil
têm novo coordenador executivo, o ministro
do Turismo, Rafael Greca, mas
continuam em clima de confusão
no governo.
O Ministério das Relações Exteriores, ao qual a coordenação dos
eventos estava subordinada até
sexta-feira passada, diz que houve
apenas uma "divisão de tarefas".
O ministro Luiz Felipe Lampreia
afirmou, em nota à Folha, que a divisão atribuiu a Greca "toda a responsabilidade pelos aspectos de
infra-estrutura na região de Cabrália e Porto Seguro" (Bahia).
"O Itamaraty continuará a ter
responsabilidade primordial, com
o Ministério da Cultura, pela coordenação de eventos acadêmicos e
culturais, que não serão interrompidos nem modificados", disse.
Mas Greca, em entrevistas à Folha ontem e no domingo, declarou
que o principal projeto cultural da
Comissão Nacional do Quinto
Centenário, a série de exposições
"Descobrindo o Brasil", programada para percorrer 12 países, não
irá mais ser realizada.
"Não vou reeditar o casamento
de Maria de Médicis (com Henrique 4º, em 1600), ao qual mandamos tupinambás para dançarem
para os franceses. Não posso consentir que se negue informação ao
nosso povo e se façam tertúlias nas
embaixadas para poucos", disse.
Greca afirmou que as exposições
do quinto centenário serão realizadas no próprio país. "Por que
perder a chance de divulgar o Brasil para os brasileiros para nos exibirmos na Europa?"
Lampreia, Greca e o porta-voz da
Presidência, Sergio Amaral, afirmam que há acordo e concordância gerais no governo em relação à
nova estrutura, com Greca como
coordenador do comitê.
Mas a Folha testemunhou muitas manifestações de desapontamento com ela, feitas, sob condição de anonimato, por pessoas envolvidas com as comemorações.
Greca recusa objeções dos críticos. Acha que há tempo suficiente
para organizar: "Não temos que temer o prazo de um ano, pois teremos depois outro ano inteiro para
realizar os festejos".
Sobre a falta de infra-estrutura e
de verbas no seu ministério, afirma que a Casa Civil da Presidência
lhe prometeu os recursos necessários. "Além disso, posso nomear
gerentes para cada projeto."
Sobre o trabalho já realizado pela
comissão liderada pelo embaixador Lauro Moreira, diz que não
quer "castrar boas idéias nem entrar em polêmicas", mas não havia
"funcionalidade administrativa"
na estrutura anterior: "O embaixador não é ministro; como ele podia
coordenar as ações de ministros?".
A Comissão Nacional para as Comemorações do Quinto Centenário da Descoberta do Brasil foi
criada em maio de 1993, no âmbito
do Ministério da Educação, pelo
presidente Itamar Franco.
Em fevereiro de 1996, o presidente Fernando Henrique Cardoso a
transferiu para o âmbito do Ministério das Relações Exteriores, que
designou o chefe de seu Departamento Cultural para presidi-la. No
dia 5 de abril, FHC comunicou a
Lampreia que Greca iria assumir.
O orçamento previsto da comissão para 1999 era de R$ 51 milhões.
Acabou reduzido para R$ 12,7 milhões, dos quais R$ 700 mil foram
liberados mas ainda não usados.
A mudança não afeta a co-presidência brasileira da comissão bilateral Brasil-Portugal das comemorações, instituída em 1991 por protocolo assinado pelos dois países.
Segundo ele, o Itamaraty responde
pela co-presidência brasileira.
A Folha apurou que poderá haver protesto português caso Greca
seja nomeado para co-presidir a
comissão bilateral dos festejos.
Uma das decisões que Greca antecipou à Folha é não construir o
monumento concebido pelo arquiteto baiano Wilson Reis para
ser edificado no mar da Bahia: "O
monumento foi implodido pelo
meu olhar de engenheiro e pela sua
inapropriação ambiental".
Mas metade do custo do monumento já foi pago pelo governo de
Portugal e a outra metade será custeada pela comunidade portuguesa no Brasil. "Se já está pago, aceito. Mas coloco o monumento em
terra firme", disse Greca.
O ministro afirma que quer realizar "uma comemoração que não se
esgote em si, mas que seja o início
de um processo para melhorar a
sociedade, a cultura, o ambiente, e
para gerar empregos".
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