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Para estudioso,
indignação na rua está "difusa"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para o doutor em ciência política Jairo Marconi Nicolau, do
Iuperj (Instituto Universitário
de Pesquisas do Rio de Janeiro), existe uma "indignação difusa" da população. Para ele,
essa é uma reação ao mesmo
tempo ao caso da violação do
painel do Senado, à crise energética e à operação do governo
para abafar a CPI da corrupção.
"Houve esta semana uma escalada de indignação, mas ainda são eventos isolados. Como
não víamos manifestações há
muito tempo, isso chama a
atenção. Mas para se falar em
movimento são necessários
mais eventos", afirma.
Para ele, qualquer que seja o
resultado do processo no Senado, ACM sai dessa crise "ferido
de morte". "É um fim de carreira melancólico para um dos
políticos mais importantes da
República. Ele caiu por um delito quase juvenil", analisa.
Leia a seguir trechos da entrevista, concedida por telefone na
última sexta-feira.
(VERA MAGALHÃES)
Folha - Como o sr. analisa a escalada de protestos da última
semana? Pode-se dizer que está
nascendo um novo movimento,
como os "caras-pintadas"?
Jairo Marconi Nicolau - Esses
eventos ainda são muito pequenos e isolados para se falar
num movimento nacional.
Houve durante a semana uma
escalada de indignação, ainda
difusa. Como não víamos manifestações há muito tempo,
chama a atenção, mas para se
falar em movimento são necessários mais eventos.
Folha - Há também uma nova
forma silenciosa de protesto,
que são os e-mails, mandados às
centenas aos congressistas. Que
força isso tem?
Nicolau - A mudança do ambiente tecnológico muda a maneira de os cidadãos fazerem
política. A TV, os e-mails, as
correntes de protesto via Internet são componentes fundamentais nesse episódio. A correspondência tradicional não
tinha esse impacto. O e-mail
permite contato imediato entre
eleitor e parlamentar.
Folha - Os protestos chegaram
à Bahia. Isso ameaça o carlismo?
Nicolau - Sempre houve uma
oposição a ACM na Bahia, circunscrita a correntes de esquerda e centro-esquerda.
Agora, ela pode chegar a outros
setores. Seja qual for o resultado da investigação, ACM sai
desse episódio ferido de morte.
O fim do carlismo não será
imediato, mas há uma crise interna que começou com a morte do filho, Luís Eduardo Magalhães, que seria seu herdeiro.
Folha - Por que o caso do painel do Senado catalisou a atenção da opinião pública?
Nicolau - Porque envolveu
duas lideranças importantes,
principalmente ACM, a quem
setores da opinião pública
sempre tiveram restrição. Se
fosse só o [José Roberto] Arruda ou qualquer outro senador,
não haveria essa comoção popular. E ele [o senador baiano"
se envolveu numa coisa miúda
para uma figura da estatura dele, um delito quase juvenil. É
um fim de carreira melancólico
para uma das dez figuras mais
importantes do Brasil.
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