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ENTREVISTAS DA 2ª
Para Pedro Rezende, professor da UnB, apuração dos votos tornou-se "privada" e o TSE é o "dono das urnas"
"Voto eletrônico amplia chance de fraude"
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O professor do Departamento
de Ciência da Computação da
Universidade de Brasília Pedro
Rezende, 49, diz que a urna eletrônica criou riscos de novos tipos de
fraude, antes impensáveis, e que a
adulteração de votos agora é possível "por atacado". Crítico da segurança do sistema eletrônico,
em uso desde 1996, Rezende afirma que a nova modalidade de voto tornou a apuração "privada" e
chama o TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) de "o dono da urna".
Em entrevista à Folha, ele sugere a possibilidade de o próprio
TSE promover a fraude e sustenta
que o órgão não assegura a transparência necessária para dissipar
as dúvidas sobre a confiabilidade
desse sistema. Para dar explicações sobre a segurança da urna
eletrônica, o presidente do TSE,
Nelson Jobim, e o ministro-chefe
do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso,
vão na terça ao Congresso.
Rezende coordena um programa de extensão em criptografia e
segurança computacional da
UnB. Ele é doutor em matemática
pela própria Universidade de Brasília e PhD em matemática aplicada pela Universidade da Califórnia, em Berkeley. Na entrevista,
Rezende critica a participação do
Cepesc (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança
das Comunicações), ligado à Abin
(Agência Brasileira de Inteligência), na preparação do sistema do
voto informatizado.
O órgão é responsável pelos sistemas criados para impedir a violação dos disquetes retirados das
urnas e inseridos nos computadores da Justiça Eleitoral, mas, segundo ele, o TSE não permite que
fiscais dos partidos fiscalizem esses programas. Leia os principais
trechos da entrevista à Folha:
Folha - O sistema da urna eletrônica foi criado para afastar o risco
de fraude. Por que, seis anos após a
sua estréia, o eleitor deve ficar
alerta quanto à falta de segurança?
Pedro Rezende - A tecnologia digital cobra um preço para acabar
com algumas fraudes em papel.
Esse preço é o risco de novas formas de fraude, antes impensáveis.
Com a urna eletrônica do TSE, o
escrutínio [apuração de votos" se
tornou privado. Os votos saem da
urna já somados, tabulados e codificados por programas de computador só conhecidos por quem
os fez. Estamos sendo convidados
a acreditar na palavra dos que respondem por esses softwares.
A apuração manual é demorada
porque a queremos confiável. Em
uma junta apuradora atual, os fiscais só vêem disquetes entrando
em gretas e luzinhas piscando. A
velocidade do computador tende
a tornar o processo opaco.
Se o dono da urna [o TSE" quiser abusar de sua posição privilegiada para trafegar influência por
atacado, nunca poderemos provar que houve fraude a ponto e a
tempo de impedir seu efeito.
Isso é muito diferente dos erros
intencionais de varejo na totalização em papel, impostos no grito
em juntas apuradoras nos antigos
currais eleitorais. Curral eleitoral
agora é cercado pelo software.
Folha - Quais são as fraudes possíveis na urna eletrônica?
Rezende - Há várias formas de
embuste [impostura] por meio do
software instalado na urna ou do
uso indevido dessas urnas. Por
exemplo, o boletim enviado ao
tribunal em disquete pode ser gerado em uma urna clonada, que
funcionaria escondida na mão do
mesário. Mas as fraudes mais perigosas são as que podem ser
montadas dentro da urna.
Esse embuste pode ser feito inserindo uma cláusula condicional
no trecho do programa que registra a contagem dos votos. Numa
eleição majoritária em segundo
turno, poderia ser usada uma
condicional que somasse um voto
ao total de um candidato sempre
que a sua votação atingisse um
determinado múltiplo, subtraindo-o do outro candidato. Um voto desviado a cada 40 distorceria o
resultado em 5%.
Folha - Há insegurança quanto à
participação indireta da Abin, por
meio do Cepesc, na preparação da
urna. Alberto Cardoso compara o
Cepesc ao fabricante de um cofre
que perde o controle sobre o produto depois que o cliente cria o segredo para abri-lo. Para o sr., há o
risco de manipulação do Planalto?
Rezende - Nenhum crítico sério
do nosso sistema eleitoral condena a participação da Abin simplesmente por se tratar da Abin. A
comparação do general está correta, mas não para o contexto em
que é suscitada. A questão que
merece atenção não é com quem
estará o controle do cofre quando
em uso, mas que a ninguém, além
dos envolvidos no negócio, é permitido saber como foi construído
o cofre e que tipo de coisa se instala na urna como se fora um cofre.
E se esse cofre for na verdade
uma caixa de mágico? A manutenção na urna de um só programa inauditável, como o do Cepesc, pode servir como álibi para
a ocultação de embustes por trás
de toda a transparência no resto.
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