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TEORIA E PRÁTICA
Proposta para cooperativas não saiu do papel
Reuniões de Lula não se traduzem em ações
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Muita reunião e pouca ação
têm caracterizado os encontros ministeriais do governo
Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda não saiu do papel uma das
medidas anunciadas na primeira das reuniões de Lula
com seus ministros após a posse: a concessão de microcrédito por cooperativas, que deveria estimular o crescimento
econômico.
Só o aperto nos gastos superou as expectativas: tema da
segunda reunião ministerial, o
corte de investimentos se revelou mais radical na prática do
que no discurso.
Lula reuniu a equipe pela
primeira vez dois dias após a
posse. Na ocasião, pediu ao
ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) que acelerasse
os estudos para ampliar as
cooperativas populares de crédito. Elas poderiam oferecer
empréstimos a juros até três
vezes menores que os cobrados por financeiras tradicionais, o que ajudaria a compensar o efeito recessivo das duas
altas seguidas das taxas de juros e dos cortes de R$ 14 bilhões nos gastos públicos.
Em 20 de fevereiro, Lula reuniu a área econômica com os
presidentes dos bancos oficiais, mas até hoje os resultados não apareceram. As cooperativas estão limitadas a emprestar a seus associados e a
sua abertura ao público depende de autorização do BC.
Na reunião seguinte, Lula
discutiu com os ministros os
cortes nos gastos, que comprometeriam 72% dos investimentos neste ano. Para cumprir a meta de superávit primário (economia para pagamento de juros) acertada com
o FMI, de 4,25% do PIB, alguns
ministérios perderam mais de
80% do dinheiro disponível no
ano. As pastas da Integração
Nacional, Cidades e Esportes
foram as mais prejudicadas.
Nem mesmo o Fome Zero foi
poupado.
Uma análise dos pagamentos indica que os ministérios,
pelo ritmo registrado nos quatro primeiros meses do ano,
nem chegarão a gastar os 28%
liberados do total de R$ 14,1 bilhões de investimentos previstos para 2003. Até 10 de maio,
só foi pago 0,75% desse valor,
segundo dados do Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais).
Alguns setores do governo
não gastaram nenhum tostão
da verba de investimento: o
Siafi registra gasto zero nas
áreas de habitação, saneamento, assistência social e organização agrária. A dimensão do
corte só foi divulgada oficialmente no dia seguinte à reunião ministerial. Ao final do
encontro, Lula mandou o porta-voz André Singer anunciar
um pacote de medidas. Algumas não haviam virado realidade até a tarde de ontem,
mais de três meses depois.
Exemplo: a instalação de
4.200 computadores em 3.800
agências dos Correios, em
mais de 3.000 municípios pobres, para uso gratuito da internet. As primeiras 120 unidades só deverão começar a funcionar em julho.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário, embora não
tenha desembolsado o dinheiro para investimentos do Orçamento de 2003, contabiliza o
assentamento de 7.230 famílias em 63 projetos de assentamentos em 11 Estados. Mas esses projetos já teriam sido iniciados no governo passado.
Com pouco mais de um mês
de atraso, a proposta de recriação da Sudene ficou pronta há
poucos dias. Na terceira reunião com a equipe, Lula começou a discutir com sua equipe
o PPA (Plano Plurianual de Investimentos), que deverá dar
cara ao governo Lula. Na ocasião, não foi revelado aos ministros que, nos próximos três
anos, eles terão de lidar com o
mesmo aperto nos gastos públicos de 2003.
Colaborou HUMBERTO MEDINA, da
Sucursal de Brasília
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