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VIAGEM À AMÉRICA
Reunião de cúpula em Washington é a primeira entre os dois países
Lula e Bush se reúnem hoje e lançam comissões bilaterais
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os presidentes do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva, e dos Estados
Unidos, George W. Bush, se encontram hoje na Casa Branca para a primeira reunião de cúpula
entre os dois países.
O encontro vai resultar na criação de comissões bilaterais nas
áreas de energia, agricultura,
ciência e tecnologia e deve ser
pautado pela disposição americana de concluir a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) dentro do prazo, em janeiro de 2005.
Uma das principais decisões será a criação da Comissão de Comércio Agrícola, com o objetivo
de aparar as diferenças entre Brasil e EUA que estão emperrando
as negociações da Alca.
Segundo definição da embaixadora dos EUA no Brasil, Donna
Hrinak, "Lula e Bush parecem
não ser parceiros prováveis, mas
eles têm uma mesma visão dos
problemas a enfrentar".
O embaixador do Brasil em
Washington, Rubens Barbosa,
afirmou que o encontro, "histórico", definirá uma "agenda positiva para as prioridades dos dois
países em várias áreas".
Lula e Bush estarão juntos por
quase três horas hoje. A partir das
10h50 (11h50 em Brasília), terão
uma reunião fechada de meia hora seguida de encontro que reunirá dez ministros brasileiros e seus
correspondentes americanos.
Ao meio-dia, haverá um almoço
que vai marcar o encerramento
da reunião e o anúncio das parcerias entre Brasil e EUA.
O secretário de Comércio norte-americano, Donald Evans, anunciou ontem, durante seminário, o
envio de uma missão oficial dos
EUA ao Brasil em novembro para
aprofundar as negociações da Alca, onde os dois países são co-presidentes.
Usando o mesmo mote da campanha eleitoral de Bush em 2000
-o "conservadorismo com compaixão"-, Evans defendeu o que
chamou de "livre comércio com
compaixão" como saída para "reduzir a pobreza".
Impasse
Sobre o atual estágio de impasse
nas negociações, Evans disse que,
"quando dois parceiros comerciais estão no mesmo barco e um
dá um tiro para baixo, é melhor
que o outro não faça o mesmo,
pois mais água vai entrar".
Em fevereiro passado, os EUA
apresentaram aos outros 33 negociadores da Alca sua oferta de
acesso ao mercado americano. Na
prática, o Mercosul ficou com o
pior cenário possível em relação
aos outros participantes.
Os EUA não só colocaram o
Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai no fim da fila para serem beneficiados com um redução tarifária americana, como também tiraram das negociações a discussão de barreiras não-tarifárias, como cotas a produtos da região.
A reação brasileira foi reavaliar
as negociações e dar mais ênfase
apenas à área agrícola, onde os
EUA têm se mantido irredutíveis
-o que torna o prazo de janeiro
de 2005 difícil de ser atingido.
Presente ao mesmo encontro,
Ellen Terpstra, responsável pela
área externa do Departamento de
Agricultura dos EUA, afirmou
que a comissão de comércio que
os dois países devem criar tende a
resolver diferenças na discussão
de acesso a mercados para produtos como suco de laranja e açúcar.
Brasil e EUA devem procurar
também um acordo na área agrícola para negociarem unidos contra outros países no âmbito da
OMC (Organização Mundial de
Comércio), onde também há dificuldades para atingir um acordo
mundial de comércio até 2005.
O ministro do Desenvolvimento do Brasil, Luiz Fernando Furlan, se disse "otimista" com a Alca. "Ninguém fecha negócio com
uma primeira oferta", disse.
Furlan procurou enfatizar que o
Brasil vem aumentando o comércio com outros países do mundo,
como a China, Índia e Turquia
-reduzindo, portanto, a dependência no mercado americano.
Furlan se disse "impressionado", no entanto, com os números
da evolução comercial entre o
México e os EUA após a assinatura, em 1994, do Nafta (área de livre
comércio da América do Norte).
Os EUA respondem hoje por
25% das exportações brasileiras e
são o maior mercado individual
do país, com vendas na faixa de
US$ 15 bilhões em 2002. Para os
EUA, o Brasil é o 15º maior mercado, com exportações próximas
a US$ 12,4 bilhões ao ano.
Para a embaixadora Hrinak,
"mais importante que tudo, será o
que Lula e Bush conversarem
quando estiverem apenas os dois,
sozinhos".
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