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São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2003

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VIAGEM À AMÉRICA

Reunião de cúpula em Washington é a primeira entre os dois países

Lula e Bush se reúnem hoje e lançam comissões bilaterais

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, George W. Bush, se encontram hoje na Casa Branca para a primeira reunião de cúpula entre os dois países.
O encontro vai resultar na criação de comissões bilaterais nas áreas de energia, agricultura, ciência e tecnologia e deve ser pautado pela disposição americana de concluir a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) dentro do prazo, em janeiro de 2005.
Uma das principais decisões será a criação da Comissão de Comércio Agrícola, com o objetivo de aparar as diferenças entre Brasil e EUA que estão emperrando as negociações da Alca.
Segundo definição da embaixadora dos EUA no Brasil, Donna Hrinak, "Lula e Bush parecem não ser parceiros prováveis, mas eles têm uma mesma visão dos problemas a enfrentar".
O embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, afirmou que o encontro, "histórico", definirá uma "agenda positiva para as prioridades dos dois países em várias áreas".
Lula e Bush estarão juntos por quase três horas hoje. A partir das 10h50 (11h50 em Brasília), terão uma reunião fechada de meia hora seguida de encontro que reunirá dez ministros brasileiros e seus correspondentes americanos.
Ao meio-dia, haverá um almoço que vai marcar o encerramento da reunião e o anúncio das parcerias entre Brasil e EUA.
O secretário de Comércio norte-americano, Donald Evans, anunciou ontem, durante seminário, o envio de uma missão oficial dos EUA ao Brasil em novembro para aprofundar as negociações da Alca, onde os dois países são co-presidentes.
Usando o mesmo mote da campanha eleitoral de Bush em 2000 -o "conservadorismo com compaixão"-, Evans defendeu o que chamou de "livre comércio com compaixão" como saída para "reduzir a pobreza".

Impasse
Sobre o atual estágio de impasse nas negociações, Evans disse que, "quando dois parceiros comerciais estão no mesmo barco e um dá um tiro para baixo, é melhor que o outro não faça o mesmo, pois mais água vai entrar".
Em fevereiro passado, os EUA apresentaram aos outros 33 negociadores da Alca sua oferta de acesso ao mercado americano. Na prática, o Mercosul ficou com o pior cenário possível em relação aos outros participantes.
Os EUA não só colocaram o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai no fim da fila para serem beneficiados com um redução tarifária americana, como também tiraram das negociações a discussão de barreiras não-tarifárias, como cotas a produtos da região.
A reação brasileira foi reavaliar as negociações e dar mais ênfase apenas à área agrícola, onde os EUA têm se mantido irredutíveis -o que torna o prazo de janeiro de 2005 difícil de ser atingido.
Presente ao mesmo encontro, Ellen Terpstra, responsável pela área externa do Departamento de Agricultura dos EUA, afirmou que a comissão de comércio que os dois países devem criar tende a resolver diferenças na discussão de acesso a mercados para produtos como suco de laranja e açúcar.
Brasil e EUA devem procurar também um acordo na área agrícola para negociarem unidos contra outros países no âmbito da OMC (Organização Mundial de Comércio), onde também há dificuldades para atingir um acordo mundial de comércio até 2005.
O ministro do Desenvolvimento do Brasil, Luiz Fernando Furlan, se disse "otimista" com a Alca. "Ninguém fecha negócio com uma primeira oferta", disse.
Furlan procurou enfatizar que o Brasil vem aumentando o comércio com outros países do mundo, como a China, Índia e Turquia -reduzindo, portanto, a dependência no mercado americano.
Furlan se disse "impressionado", no entanto, com os números da evolução comercial entre o México e os EUA após a assinatura, em 1994, do Nafta (área de livre comércio da América do Norte).
Os EUA respondem hoje por 25% das exportações brasileiras e são o maior mercado individual do país, com vendas na faixa de US$ 15 bilhões em 2002. Para os EUA, o Brasil é o 15º maior mercado, com exportações próximas a US$ 12,4 bilhões ao ano.
Para a embaixadora Hrinak, "mais importante que tudo, será o que Lula e Bush conversarem quando estiverem apenas os dois, sozinhos".



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