|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
O "Kama Sutra" do PT pede atenção
O "Kama Sutra" da corrupção petista (na cruel
definição do semanário inglês
"The Economist") deve ser estudado com a mesma atenção que
merecem as gravuras da conhecida obra da cultura indiana.
Às vezes, a delicadeza de um detalhe distrai a atenção do observador, levando-o a perder o significado da cena.
Esse é o cuidado que se deve
tomar com a obra dos companheiros. Quanto mais atenta for
a observação do "Kama Sutra"
do PT-Federal, mais aguçada
será a percepção do que se mostra aos contribuintes. Cor de
turbante, intenções de Delúbio,
braço da moça ou versão do
Marcos Valério são coisas irrelevantes. Assim como as tolices de
Lula. Quando ele diz que "as
pessoas não pensaram direito
no que estavam fazendo" revela
apenas que parou de pensar naquilo que está dizendo.
A turma que Lula manteve no
governo e na direção do PT produziu dois fenômenos. Um é o
"mensalão", pelo qual pagavam-se até R$ 30 mil a deputados da base aliada. Estima-se
que sejam cem e admite-se que
nem todos os mensalistas receberam seus jabaculês regularmente. Assim, a caixa do "mensalão" pode ter chegado, no máximo a R$ 40 milhões/ano (com
13º). Dando-se um desconto, pode-se dizer que custava ao menos R$ 20 milhões/ano.
A bancada petista ficou fora
do "mensalão". Como as investigações e o depoimento do doutor Valério mostraram, inúmeros afortunados companheiros
passavam direto no caixa. Um
dos guichês ficava no Banco Rural, em Brasília. Esse era um
propinoduto ligado diretamente ao orçamento de alguns petistas legislativos e executivos. Um
cidadão foi convidado para
uma destacada função com o
argumento sedutor da complementação permitida pelo "mesadão" , também chamado de
"mensalinho".
É coisa que vem de longe. A repórter Renata Lo Prete revelou
que uma das primeiras intervenções do doutor Marcos Valério deu-se depois da eleição de
2002, no ocaso do tucanato, antes da posse de Lula. Em apenas
48 horas ele arrumou R$ 4 milhões para custear despesas e
mudanças de grão-petistas para
Brasília. Nada a ver com caixa
de campanha, pois ela tinha terminado.
Delúbio chama esses recursos
de "dinheiro não contabilizado". A polícia carioca chama esse tipo de contabilidade de "gibi". Ele pagou mudanças e permanências. Era o dinheiro que
assessores, madames e doutores
iam buscar no Banco Rural.
Disfarçado de ajuda para manutenção de escritórios encheu
dispensas, custeou charutos Cohiba e sabe-se lá quantas cuecas
encheu. Não tem nada a ver
com caixa de campanha. Em
Ribeirão Preto, ao tempo em
que o doutor Antonio Palocci
era prefeito da cidade, ocorreu
pelo menos um caso de complementação salarial, com o dinheiro saindo de uma empreiteira. Quem contou foi o cidadão que o recebeu.
Lula e os hierarcas do PT querem reciclar as cloacas das campanhas eleitorais transformando-as num grande Lava-Tudo e,
se possível, Lava-Rápido. É o
lance do turbante. Olha-se para
os braços da moça e perde-se a
simplicidade do tema. Lula não
percebeu que algo de anormal
estava acontecendo com o PT
quando, em dezembro de 2003,
o TRE paulista rejeitou por unanimidade a prestação de contas
de José Genoino, candidato derrotado ao governo paulista. Na
melhor das hipóteses, confundiu-se com um turbante e não
captou a cena do "Kama Sutra".
É a velha história, nas suas palavras: "A desgraça da mentira
é que, ao você contar a primeira,
passa a vida inteira contando
mentiras para justificar a primeira"."
Texto Anterior: Grupo protesta contra corrupção Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Novas versões: Silvio pode ter tido carro pago por empresa Índice
|