São Paulo, quarta-feira, 20 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REFORMA

Substituto será Márcio Fortes, amigo de Severino, que exigiu o Ministério das Cidades

Lula demite Olívio, mas adia anúncio por pressão do PT

EDUARDO SCOLESE
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na seqüência de sua segunda reforma ministerial, que se arrasta há semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cedeu ontem às pressões do PP, demitiu Olívio Dutra (PT-RS) do Ministério das Cidades e ofereceu a pasta ao secretário-executivo do Desenvolvimento, Márcio Fortes, amigo do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).
A demissão ocorreu em uma conversa reservada entre Lula e Olívio. Oficialmente, o Planalto não informou que o ministro estava demitido.
Um movimento de ministros e tendências petistas contrárias à saída do petista fez com que Lula, por ora, adiasse o anúncio da mudança para amanhã à tarde. Até lá, Dilma Rousseff (Casa Civil) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), ambos do PT gaúcho e ex-dirigentes do governo de Olívio no Rio Grande do Sul (1998-2002), vão tentar demover Lula da decisão.
Caso o presidente mantenha sua posição, Fortes, que esteve ontem pela manhã no Planalto, assumirá a pasta sem o apoio da bancada do PP no Congresso, que preferiu não integrar oficialmente o primeiro escalão do governo no momento em que Lula enfrenta a pior crise política de sua gestão. Fortes, mesmo não sendo filiado ao PP, seria efetivado como uma escolha de Severino.
"O Márcio Fortes já conversou hoje [ontem] com o presidente Severino Cavalcanti e disse que aceitou [o convite de Lula]. Da parte do Severino ficou tudo certo, tanto o nome [de Márcio Fortes] como a pasta [Cidades]", disse o líder do PP na Câmara, deputado José Janene (PR).
Anteontem à noite, em reunião no Planalto, Lula ofereceu a Previdência a Severino, sempre com o nome de Fortes como o indicado do Planalto. O presidente da Câmara, porém, exigiu Cidades.
Apesar de sua resistência em mexer em Cidades, ministério montado com representantes de diferentes tendências petistas (com as mais radicais, inclusive), Lula convocou Olívio para uma conversa ontem pela manhã no Planalto. O presidente disse que precisava do cargo para agregar o PP ao governo e, com isso, aprimorar o trabalho da base aliada no Congresso.
Na tentativa de preservar o amigo no governo, Lula ainda ofereceu a Olívio o Ministério da Previdência e a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária). O ministro rejeitou a oferta e, assim que retornou ao seu gabinete, reuniu os assessores mais próximos para comunicar sua demissão.
Anteontem, Lula havia recebido Olívio em café da manhã no Planalto, quando prometeu a ele não retirá-lo do governo. O presidente, porém, não contava com a exigência do PP pela pasta -feita horas mais tarde.
Ontem, a demissão de Olívio Dutra causou reação imediata, principalmente de ministros petistas do Rio Grande do Sul e de parlamentares e movimentos ligados à questão da moradia. Rossetto, por exemplo, telefonou para a ministra Dilma Rousseff, que ligou em seguida para o Ministério das Cidades ordenando que nada fosse divulgado até amanhã -quando, definitivamente, Lula promete anunciar a finalização das mudanças no primeiro escalão de governo.
A preocupação de Rossetto também tem um cunho eleitoral. Com sua eventual saída das Cidades, Olívio poderá mudar de idéia sobre seu futuro político e reunir forças no PT gaúcho para se lançar candidato ao governo do Rio Grande do Sul no ano que vem. Já o ministro do Desenvolvimento Agrário, pré-candidato declarado no Estado, sairá do governo somente em abril do ano que vem, com menos tempo para articular sua campanha às prévias petistas.
Amanhã, além da mudança na pasta das Cidades, Lula pretende dar posse ao novo ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende (PSB), e divulgar quem ocupará a vaga de Romero Jucá (PMDB) na Previdência. Com as recusas de Joaquim Levy (Tesouro) e até do ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), ganhou força o nome de Helmut Schwarzer, atual secretário de Previdência Social.


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