São Paulo, quarta-feira, 20 de julho de 2005

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Ex-assessor isenta irmão de Genoino

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O ex-dirigente do PT no Ceará e ex-assessor do deputado José Guimarães, José Adalberto Vieira da Silva, 39, preso no último dia 8, em São Paulo, quando tentava embarcar para Fortaleza com R$ 200 mil e US$ 100 mil disse ontem que seu único erro foi ter sido "imprudente". Ele assumiu toda a responsabilidade pelo dinheiro.
Para Adalberto, não houve crime em transportar recursos em espécie. "Qual o meu crime, de ser petista, de ser assessor de um deputado que era irmão do [José] Genoino [ex-presidente nacional do PT]?", afirmou. "Continuo me sentindo uma pessoa ética, séria, segura de que não cometi nenhum delito."
Ele afirmou que espera reaver o dinheiro apreendido logo para investir em seus negócios e poder pagar os advogados.
Adalberto concedeu ontem entrevistas individuais a diversos veículos de comunicação, usando as mesmas palavras para falar sobre a origem do dinheiro.
Essa nova versão, de que ele havia pego o dinheiro com um amigo -cujo nome não quis falar- para investir na abertura de uma locadora de veículos e de outro negócio turístico no Ceará, livra das suspeitas seu ex-chefe, o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), e um outro companheiro de partido, Kennedy Moura, que chegou a ser exonerado do cargo de assessor do BNB (Banco do Nordeste do Brasil) após aparecer como possível destinatário do dinheiro.
A explicação, porém, é refutada por seu amigo e ex-colega de trabalho, José Vicente Ferreira, com quem Adalberto estava abrindo a locadora de veículos. Para Ferreira, a história não é verdadeira, já que o amigo nunca havia falado na possibilidade de buscar dinheiro com outra pessoa para investir no negócio. Após confirmar que havia emprestado um cheque em branco a Adalberto, usado para a viagem, Ferreira foi exonerado do gabinete de Guimarães, o que já havia acontecido antes com o próprio Adalberto.
O ex-dirigente do PT cearense, por sua vez, disse que não contou nada a ninguém para não criar expectativas que poderiam não ser confirmadas.
Ele disse ainda que tinha certeza de que passaria com o dinheiro no aeroporto e que os US$ 100 mil dólares não estavam na cueca, como disse a Polícia Federal, mas na cintura, sob a calça, presos com elásticos e com o cinto. "Eu poderia ir até a Europa com esse dinheiro", afirmou, ao responder se estava confortável com a colocação das notas no corpo.

Contradição
Em entrevista e à Polícia Federal, Kennedy Moura afirmou que Guimarães o convocou para uma reunião dois dias depois da prisão de Adalberto, em São Paulo, para pedir que assumisse a responsabilidade do dinheiro.
O deputado, após passar quatro dias sem falar com a imprensa, apareceu ontem na Assembléia Legislativa do Ceará, onde contou sua versão aos deputados, em que nega tudo e toma como verdadeira a fala de Adalberto. O PSDB encaminhou à mesa diretora um pedido para a abertura de um processo disciplinar contra Guimarães, o que só será decidido no início de agosto.
Guimarães insiste em negar até que soubesse que seu então assessor estava em São Paulo, no mesmo dia em que ele participava do encontro do Diretório Nacional do PT para decidir sobre o destino de seu irmão, José Genoino, que acabou se afastando da presidência nacional do partido no dia seguinte à prisão de Adalberto.
O delegado da Polícia Federal José Pinto de Luna, que é de São Paulo, mas está em Fortaleza especificamente para investigar este caso, disse que não vai levar em conta a explicação dada por Adalberto à imprensa, porque ele preferiu não dar depoimentos à PF, enquanto estava preso. Ele já ouviu Moura e Ferreira.


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