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Virtual ministro é suspeito de fraude
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O virtual novo ministro das Cidades, Márcio Fortes, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, foi a figura central
de episódio que revelou, pela primeira vez, a indisposição do governo Lula para investigar suspeitas envolvendo indicações feitas
por partidos da base aliada.
Em fevereiro de 2003, a Folha
revelou que Fortes era suspeito de
fraude em licitação realizada em
1999, quando ocupava o mesmo
cargo na Agricultura no governo
Fernando Henrique.
O fato foi recebido em silêncio
pela cúpula, embora o perfil de
Fortes contrastasse com o rigor
do discurso ético do PT.
Diplomata de carreira, então remunerado pelo Itamaraty, Fortes
era acusado de acumular funções
numa trading privada de seu superior no governo tucano, o ministro Marcus Vinicius Pratini, a
quem acompanhou em cargos
públicos no governo militar.
Em 2002, às vésperas da eleição,
usineiros do Centro-Sul protestaram contra decisão atribuída a
Fortes, que beneficiou usineiros
nordestinos com a liberação de
cerca de R$ 400 milhões, a título
de equalização dos custos de produção da cana-de-açúcar. Para os
paulistas, tratava-se de ajuda para
campanhas no Nordeste.
Atribui-se à influência de Fortes
a indicação do filho de Severino
Cavalcanti para delegado da Agricultura em Pernambuco. O nome
do indicado teria permanecido
por muito tempo na mesa do ministro Roberto Rodrigues e só ganhou força quando o deputado
do PP foi eleito presidente da Câmara. Atribui-se a Severino, agora, a indicação de Fortes para ministro na cota de seu partido.
Em investigações do Ministério
Público Federal e em sindicância
realizada na esfera administrativa, Fortes foi acusado de direcionar a contratação, em 1999, da Poliedro Informática para prevenção do "bug do milênio", na virada do século. A empresa teria sido
beneficiada com a duplicidade de
contratos e recebido indevidamente R$ 5,3 milhões.
Na ocasião da primeira reportagem, Fortes alegou à Folha que
assinou os contratos baseado em
pareceres técnicos e jurídicos. E
que determinara a realização de
sindicâncias e a devolução pela
empresa de valores pagos.
Longe do noticiário, um forte
jogo de empurra entre ministros
travou por meses a investigação
na esfera administrativa, com reflexos nos inquéritos na Procuradoria, que não avançaram.
O Ministério da Agricultura deixou de cumprir decisão da CGU,
que, em agosto de 2004, contrariando posição do titular da Agricultura, recomendara apurar a
responsabilidade de Fortes.
A Folha apurou que essa recomendação incômoda da CGU
chegou a ser discutida, em reunião, pelos ministros José Dirceu
(Casa Civil), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Roberto
Rodrigues (Agricultura) e Waldir
Pires (Transparência).
Pires propusera a anulação de
julgamento proferido por Rodrigues, que isentara Fortes. O ministro da Agricultura entendera
que não havia indícios de que
Fortes tivesse ordenado atos ilegais. Para o titular da CGU, contudo, a decisão de Rodrigues "contrariou as provas dos autos".
Em fevereiro último, Fortes obteve uma vitória, quando o TCU,
em decisão unânime, o isentou.
Embora tenha força para esvaziar
a recomendação da CGU, a decisão do TCU não alterou o convencimento dos auditores da CGU e
não modificou as conclusões da
Procuradoria.
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