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CELSO PINTO
Tobin separa
o BC de FHC
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, fez ontem uma crítica dura a duas
idéias caras ao presidente
Fernando Henrique Cardoso:
o controle sobre capitais especulativos de curto prazo e a
proposta do economista James Tobin de que ele seja feito
pela criação de um imposto
internacional sobre a movimentação de capitais, a "Tobin tax".
Armínio concorda que o
país não pode depender de
capitais de curto prazo, mas
não acha que "se chega lá
com a força bruta do controle". Controles são uma "solução ineficaz, não transparente, trazem corrupção e não
evitam os problemas", disse
num seminário internacional
das Faculdades Ibmec, em
São Paulo. Só são aceitáveis
como mecanismos temporários.
Fernando Henrique defende controles sobre capitais de
curto prazo há anos. Na Cimeira do Rio, com a União
Européia, defendeu a adoção
da "Tobin tax".
Armínio argumenta que os
capitais de curto prazo cresceram na Ásia, México e Brasil
e levaram a crises cambiais
pela mesma razão: a "combinação perversa" entre um regime de câmbio controlado
com um sistema financeiro
mal estruturado.
A "Tobin tax" teria que ser
baixa, senão acabaria sonegada. Seria, portanto, uma
espécie de "CPMF global".
Não teria sido o bastante para desestimular as investidas
especulativas recentes.
No Brasil, a diferença entre
taxa de compra e venda de
câmbio e a volatilidade do
câmbio flutuante geram, segundo Armínio, um custo
muito maior para esses capitais do que qualquer "Tobin
tax". O câmbio flutuante desestimula o capital de curto
prazo, por reduzir sua remuneração. Ainda é preciso ter
um "pequeno colchão" de capital de curto prazo, mas
num nível não perigoso.
Previdência em crise
No mesmo seminário, cujo
tema era "Um novo enfoque
para o crescimento econômico", o professor José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Chicago, chamou a
atenção para um indicador
original e preocupante da
trajetória explosiva dos gastos com a previdência no
Brasil.
Ele olhou os gastos do governo com aposentadorias e
pensões em vários países, medido em relação ao PIB, e dividiu pela porcentagem da
população com mais de 65
anos, beneficiária do sistema.
Em todos os casos examinados, exceto o do Brasil, os
gastos com previdência têm
uma correlação próxima
com o tamanho da população beneficiada. Na Itália,
por exemplo, 17% da população tem mais de 65 anos e os
gastos com previdência equivalem a 17% do PIB. Em alguns países, como Espanha e
Suíça, a relação é um pouco
menor; em outros, como Suécia e França, é um pouco
maior.
No Brasil, contudo, os gastos do governo com previdência chegam a 10% do PIB, enquanto a população com
mais de 65 anos equivale a
5% do total, ou seja, a relação
é 2 por 1. Como a população
com mais de 65 anos cresce
mais rapidamente, em termos relativos, os gastos tendem a se tornar explosivos.
O seminário incluiu temas
pouco discutidos no Brasil.
Edward Glaeser, professor de
Harvard, lembrou da importância do crescimento das
grandes cidades e de políticas
urbanas adequadas para o
crescimento econômico.
Steven Levitt, da Universidade de Chicago, chamou a
atenção para os custos da criminalidade. Ele calcula que o
crime custa 4% do PIB ao
ano nos Estados Unidos (US$
330 bilhões) e que pode chegar a 10% do PIB no Brasil,
onde é muito maior.
Enquanto em Nova York o
número de assassinatos, em
97, foi de 10,2 por 100 mil pessoas, no Rio foi de 46,2 e em
São Paulo, de 46. Só que, enquanto os assassinatos caíram 65% entre 90 e 97 em
Nova York e 25% no Rio, subiram 31% em São Paulo.
Mantida a tendência, em
poucos anos São Paulo será
uma cidade com mais assassinatos do que Bogotá (63 por
100 mil).
A solução de Levitt é mais
prisões e mais policiais na
rua: do ponto de vista econômico, o custo é menor do que
o gerado pelos crimes. A pobreza explica crimes contra
patrimônio, mas não crimes
violentos; a desigualdade e
sistemas judiciais ineficientes
têm ligação muito mais direta com o tamanho da criminalidade.
O pano de fundo para a retomada do crescimento, contudo, continuam sendo questões básicas, tratadas por
Scheinkman e dramáticas
para o Brasil: como aumentar a poupança interna reduzindo o desequilíbrio fiscal
do governo; como melhorar o
capital humano com mais e
melhor educação; e como dar
um salto na produtividade,
com menos informalidade,
menos estatais e mais abertura.
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