São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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Com equívocos, assunto entra na campanha

DA AGÊNCIA FOLHA

A licitação da FAB entrou na campanha eleitoral. Depois de assessores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS), na sexta-feira José Serra (PSDB) resolveu falar sobre o tema.
É uma excelente notícia para o debate numa área dominada por tecnicismos, não fosse o desconhecimento da licitação demonstrado pelos políticos.
De forma geral, todos defenderam a escolha do consórcio liderado pelos franceses da Dassault, que tem como parceira a brasileira Embraer. O consórcio oferece o Mirage 2000BR.
As manifestações foram estimuladas pelos fortes rumores de que o anglo-sueco Gripen (Saab/ BAe) teria a preferência.
O ponto é que, aparentemente, os candidatos e seus assessores acreditaram que o Mirage será feito no Brasil e que isso garantiria a transferência de tecnologias para o país. A Dassault/Embraer não se apega mais a essa propaganda para vender seu produto, porque a idéia encerra dois enganos:
1) Construção no país - Nem o Mirage nem nenhum dos outros concorrentes será feito no país. A Dassault, que faz parte do grupo europeu que detém 20% da Embraer, promete abrir uma linha de produção para a versão BR (de Brasil) do Mirage apenas se houver mercado para isso. Por mercado, entenda-se a casa das dezenas, centenas de aeronaves. E não as 12 unidades que a FAB tem condições de comprar.
2) Transferência de tecnologia -°Montar o avião aqui ou no Reino de Tonga não garante maior ou menor transferência. O que importa é a abertura de códigos-fontes dos softwares do avião, o cérebro que comanda o aparelho e seus sistemas de radar e de armas, e a integração dessa parafernália. E isso pode ser feito em qualquer lugar. Todos os concorrentes prometem a transferência.
Em seu comunicado sobre o tema na sexta, Serra acerta ao dizer que a associação entre Embraer e a italiana Aermacchi para fazer o caça tático AMX, na década de 80, garantiu o domínio de tecnologias que acabaram sendo usadas pela brasileira em seu bem-sucedido jato regional EMB-145.
Só que, na época, a Embraer era estatal, controlada pela Aeronáutica. Hoje, a tecnologia tem de ser absorvida pela FAB diretamente, independentemente de quem ganhe a licitação.
O PT e a Frente Trabalhista também se dizem favoráveis a adiar a decisão para o novo governo, o que é improvável. (IG)



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