São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Segundo presidente, acerto com FMI serve para que seu sucessor aplique "a política que lhe parecer conveniente"

Acordo "pavimenta o caminho", diz FHC

Lula Marques/Folha Imagem
O presidente Fernando Henrique Cardoso, durante entrevista após encontros com candidatos


WILSON SILVEIRA
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de se encontrar com os quatro principais candidatos à sua sucessão, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que estava satisfeito porque todos haviam assumido o compromisso de honrar o acordo acertado com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
"Todos disseram que vão honrar", disse o presidente. Ele atribuiu a falta de um apoio explícito dos candidatos ao acordo a uma "precaução correta", e não a uma restrição, "que não houve".
Segundo FHC, quem precisa dar apoio explícito é ele, a quem cabe assinar o termo de entendimento. "[Chamei os candidatos] para dizer-lhes que estamos pavimentando o caminho para que, com segurança para o Brasil, sejam aplicadas as políticas que parecerem a eles as mais convenientes no ano que vem", afirmou.
Questionado se o candidato Anthony Garotinho (PSB) havia feito críticas ao acordo, como fez em nota divulgada após o encontro, o presidente afirmou: "Não, absolutamente. Como estamos em campanha, vocês conhecem os hábitos nacionais...".
O presidente recebeu os quatro candidatos separadamente em seu gabinete, por cerca de uma hora cada um. Ele estava acompanhado dos ministros da Fazenda, Pedro Malan, e da Secretaria Geral da Presidência, Euclides Scalco, e do presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
O candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes (PPS), estava com dois assessores. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Garotinho, três. O candidato do governo, José Serra (PSDB), foi acompanhado dos presidentes do PSDB, José Aníbal, e do PMDB, Michel Temer. Pela ordem, foram recebidos Ciro, Lula, Garotinho e Serra.
Na saída, com exceção de Garotinho, os candidatos fizeram um resumo da conversa. Ciro e Lula se comprometeram com aspectos macroeconômicos definidos pelo atual governo, como a meta de superávit primário de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto), baixa inflação e respeito aos contratos.
Os dois ressaltaram que condenam o atual modelo econômico e não declararam apoio explícito ao acordo. Serra foi o único a declarar apoio incondicional ao programa. Na nota em que divulgou, Garotinho lamentou "a trágica necessidade do empréstimo".
Na entrevista que concedeu após as conversas com os candidatos, FHC estava acompanhado de Malan, Scalco e Fraga.
Sobre a reação que esperava do mercado, disse: "Não posso dizer que espero isso ou aquilo. Nós vamos com o tempo demonstrando a todos que o Brasil é um país, primeiro, que tem comando; segundo, que tem coragem, toma decisões; terceiro, que tem recursos; quarto, que está jogando esses recursos para criar um clima positivo. Quem não entender isso vai perder a oportunidade de participar mais intensamente do desenvolvimento do Brasil". Segundo FHC, o objetivo dos encontros era mostrar que o acordo com o FMI foi feito nas melhores condições.
Ele disse que o acordo não embute condição na área comercial, como noticiado nos últimos dias -uma suposta imposição da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ou da empresa sueca Grippen como vencedora da licitação de US$ 700 milhões da Força Aérea para a compra de supersônicos. "É subdesenvolvimento intelectual e colonialismo mental imaginar que um país como o Brasil se submeteria a imposições de ingerência dessa natureza."
FHC afirmou que o fato de estar recebendo candidatos de oposição não significava a admissão de que Serra poderia perder a eleição. "É uma admissão que qualquer presidente sensato faz." FHC considerou naturais as críticas ao governo feitas após os encontros.
FHC foi questionado sobre a possibilidade de editar uma medida provisória ao invés de esperar a votação do projeto que acaba com o efeito cascata do PIS/Pasep e que estabelece normas sobre o envio de proposta para acabar com esse mesmo efeito da Cofins. Ele diz que espera que o Congresso vote. "O presidente [da Câmara] Aécio Neves [candidato ao governo de Minas pelo PSDB] conversou, ontem, comigo, pelo telefone. Ele vai insistir. Se os parlamentares vierem a Brasília e se houver possibilidade de uma solução que viabilize um apoio majoritário, melhor para todo o país. Senão, verei, depois, o que fazer".
Neves fez ontem um apelo aos congressistas para que interrompam suas campanhas eleitorais e estejam em Brasília no início da próxima semana.


Colaborou a Agência Folha



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