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TRANSIÇÃO
Segundo presidente, acerto com FMI serve para que seu sucessor aplique "a política que lhe parecer conveniente"
Acordo "pavimenta o caminho", diz FHC
Lula Marques/Folha Imagem
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O presidente Fernando Henrique Cardoso, durante entrevista após encontros com candidatos |
WILSON SILVEIRA
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de se encontrar com os
quatro principais candidatos à
sua sucessão, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que estava satisfeito porque
todos haviam assumido o compromisso de honrar o acordo
acertado com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
"Todos disseram que vão honrar", disse o presidente. Ele atribuiu a falta de um apoio explícito
dos candidatos ao acordo a uma
"precaução correta", e não a uma
restrição, "que não houve".
Segundo FHC, quem precisa
dar apoio explícito é ele, a quem
cabe assinar o termo de entendimento. "[Chamei os candidatos]
para dizer-lhes que estamos pavimentando o caminho para que,
com segurança para o Brasil, sejam aplicadas as políticas que parecerem a eles as mais convenientes no ano que vem", afirmou.
Questionado se o candidato Anthony Garotinho (PSB) havia feito
críticas ao acordo, como fez em
nota divulgada após o encontro, o
presidente afirmou: "Não, absolutamente. Como estamos em
campanha, vocês conhecem os
hábitos nacionais...".
O presidente recebeu os quatro
candidatos separadamente em
seu gabinete, por cerca de uma
hora cada um. Ele estava acompanhado dos ministros da Fazenda,
Pedro Malan, e da Secretaria Geral da Presidência, Euclides Scalco, e do presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
O candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes (PPS), estava
com dois assessores. Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) e Garotinho,
três. O candidato do governo, José
Serra (PSDB), foi acompanhado
dos presidentes do PSDB, José
Aníbal, e do PMDB, Michel Temer. Pela ordem, foram recebidos
Ciro, Lula, Garotinho e Serra.
Na saída, com exceção de Garotinho, os candidatos fizeram um
resumo da conversa. Ciro e Lula
se comprometeram com aspectos
macroeconômicos definidos pelo
atual governo, como a meta de superávit primário de 3,75% do PIB
(Produto Interno Bruto), baixa
inflação e respeito aos contratos.
Os dois ressaltaram que condenam o atual modelo econômico e
não declararam apoio explícito ao
acordo. Serra foi o único a declarar apoio incondicional ao programa. Na nota em que divulgou,
Garotinho lamentou "a trágica
necessidade do empréstimo".
Na entrevista que concedeu
após as conversas com os candidatos, FHC estava acompanhado
de Malan, Scalco e Fraga.
Sobre a reação que esperava do
mercado, disse: "Não posso dizer
que espero isso ou aquilo. Nós vamos com o tempo demonstrando
a todos que o Brasil é um país, primeiro, que tem comando; segundo, que tem coragem, toma decisões; terceiro, que tem recursos;
quarto, que está jogando esses recursos para criar um clima positivo. Quem não entender isso vai
perder a oportunidade de participar mais intensamente do desenvolvimento do Brasil". Segundo
FHC, o objetivo dos encontros era
mostrar que o acordo com o FMI
foi feito nas melhores condições.
Ele disse que o acordo não embute condição na área comercial,
como noticiado nos últimos dias
-uma suposta imposição da Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) ou da empresa sueca
Grippen como vencedora da licitação de US$ 700 milhões da Força Aérea para a compra de supersônicos. "É subdesenvolvimento
intelectual e colonialismo mental
imaginar que um país como o
Brasil se submeteria a imposições
de ingerência dessa natureza."
FHC afirmou que o fato de estar
recebendo candidatos de oposição não significava a admissão de
que Serra poderia perder a eleição. "É uma admissão que qualquer presidente sensato faz." FHC
considerou naturais as críticas ao
governo feitas após os encontros.
FHC foi questionado sobre a
possibilidade de editar uma medida provisória ao invés de esperar a votação do projeto que acaba
com o efeito cascata do PIS/Pasep
e que estabelece normas sobre o
envio de proposta para acabar
com esse mesmo efeito da Cofins.
Ele diz que espera que o Congresso vote. "O presidente [da Câmara] Aécio Neves [candidato ao governo de Minas pelo PSDB] conversou, ontem, comigo, pelo telefone. Ele vai insistir. Se os parlamentares vierem a Brasília e se
houver possibilidade de uma solução que viabilize um apoio majoritário, melhor para todo o país.
Senão, verei, depois, o que fazer".
Neves fez ontem um apelo aos
congressistas para que interrompam suas campanhas eleitorais e
estejam em Brasília no início da
próxima semana.
Colaborou a Agência Folha
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