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ANÁLISE
Encontros tiveram apenas efeito simbólico
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os encontros do presidente Fernando Henrique Cardoso com os
quatro candidatos à sua sucessão
não alteraram absolutamente nada na cena político-econômica
nacional.
Por isso foram um sucesso. As
conversas tiveram o único efeito
que delas se esperava: o efeito
simbólico.
Produziram-se reuniões para
estrangeiro ver. Especialmente os
estrangeiros que compõem a direção do FMI.
Eles se reúnem no mês que vem
para sacramentar o acordo, por
ora apenas apalavrado, que dá ao
governo brasileiro um tônico de
US$ 30 bilhões para arrostar a crise.
Brasília prometera a Washington que o próximo presidente,
fosse quem fosse, não rasgaria o
acordo.
Fiava-se em acertos costurados
por Armínio Fraga, presidente do
Banco Central, com os presidenciáveis e suas assessorias.
Porém, declarações dúbias dos
candidatos, sobretudo de Ciro
Gomes, forçaram FHC a antecipar, muito a contragosto, uma
transição que esperava deflagrar
em novembro.
Dadas as circunstâncias, FHC
fez do limão limonada, como se
diz.
Ao receber oposicionistas no
Planalto, reconheceu-lhes as
chances de êxito eleitoral.
Mas lustrou o indesejável com
um discurso de contornos históricos. "Não nos move o interesse
eleitoral, mas a preocupação com
o país", afirma.
Os encontros de ontem só foram possíveis porque FHC dividiu os dividendos da iniciativa
com os presidenciáveis. Permitiu
que fizessem do Planalto um palanque. Exceto pelo candidato oficial José Serra, único perdedor no
jogo dos símbolos, nenhum dos
demais perdeu nada. E alguns saíram no lucro.
Lula pôde reforçar a imagem de
crítico com propostas. Para evitar
escorregões, leu texto redigido
previamente.
Medindo cada palavra, Ciro posou de responsável. No essencial,
todos puseram-se de acordo em
relação a pontos que o governo
considera básicos: vão honrar
contratos e agirão com responsabilidade fiscal.
Anthony Garotinho piou fino
entre quatro paredes e esbravejou
na saída. Mas ele só estava ali para
compor o quadro. Vistas pelo ângulo das pesquisas eleitorais, suas
bravatas soam como palavras ao
vento.
De essencial, a simbologia de
Brasília informa: a) o próximo governo irá mudar a economia; b)
manietado pelas circunstâncias e
pelo acordo com o FMI, a mudança será bem menos ambiciosa do
que a que vem sendo prometida
sobre o palanque.
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