São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA

Diretora do colégio municipal diz que não autorizou entrada do ex-prefeito; para ele, estado das salas é "sórdido e lastimável"

Maluf invade escola para fazer campanha

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

KELLY CRISTINA
DA FOLHA ONLINE

O candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PP, Paulo Maluf, causou confusão ontem ao fazer uma visita inesperada à escola de lata Gonzaga do Nascimento, em Parelheiros (zona sul de São Paulo). Sem autorização oficial, o ex-prefeito entrou na escola, conversou com algumas crianças e fez imagens para a campanha eleitoral.
"A intenção era mesmo dar uma incerta", afirmou Maluf, que chegou ao local com cerca de 15 pessoas, entre assessores, jornalistas e funcionários da gravadora contratada por ele.
"Foi uma invasão", rebateu a diretora da escola, Marta Fernandes Teixeira Gonçalves. "Nem ele nem a imprensa poderiam entrar. Ele sabia que a entrada não tinha sido autorizada e não respeitou."
A passagem de Maluf pelo portão da escola foi consentida por um porteiro, que abriu o cadeado assim que avistou o ex-prefeito. Em seguida, Maluf e a comitiva aguardaram em um andar intermediário uma permissão oficial.
Cerca de dez minutos depois, o porteiro disse que ninguém estava autorizado a entrar.
"Nem eu?", indagou o candidato do PP. "Não. Não era para eu ter aberto o portão, mas eu não sabia", respondeu o funcionário da escola.
A conversa foi interrompida pelo assessor do candidato a vereador Elias Xavier (PP), Antonio Cavalcanti, que se colocou como intermediário na negociação entre a diretora e o ex-prefeito -ele chegou à escola com Maluf. "Ela autorizou a entrada só do senhor", disse Cavalcanti.
O ex-prefeito conversou com a diretora e foi ao refeitório, onde falou com algumas crianças -no local, há uma placa de inauguração com o nome do então prefeito, Celso Pitta (1997-2000), ex-afilhado político de Maluf.
Ao sair, Maluf disse que os jornalistas foram "censurados" pela prefeita Marta Suplicy (PT), reclamou da merenda ("doce de leite com mexerica") e do estado "sórdido e lastimável" da escola.
"A diretora me disse que não pode mostrar a escola porque o estado é lastimável, está toda enferrujada. Quando tem sol, ela disse, fica uma sauna. Quando chove, não se pode ouvir porque [a lata] amplifica o barulho [da chuva]", disse o candidato.
Ao escutar a declaração gravada de Maluf, a diretora chorou. "Eu não falei nada disso. Disse apenas que ele não poderia entrar. Eu me sinto enganada", disse Marta.
Segundo ela, o portão da escola foi aberto por ingenuidade do porteiro. "Ele [Maluf] subiu para falar comigo por iniciativa própria. Maluf também me pediu para entrar e beijar as crianças. Eu disse que não gostaria, mas mesmo assim ele o fez. Eu não poderia fazer uma barreira humana para impedir", afirmou Marta.
O coordenador de Educação da Subprefeitura de Parelheiros, Paulo César Deloroso, disse que, sem autorização da Secretaria da Educação, é vedada a entrada de pessoas que não sejam parentes dos alunos -hoje estudam na escola visitada por Maluf cerca de 900 crianças de quatro a seis anos.
A Secretaria da Educação informou que Marta assumiu a prefeitura com 61 escolas de lata -10 foram substituídas por prédios de alvenaria, 34 estão em obras e 17 ainda serão substituídas.
No mês passado, Paulo Maluf causou polêmica ao entrar na UTI de um hospital de São Paulo para fazer campanha.


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