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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA
Diretora do colégio municipal diz que não autorizou entrada do ex-prefeito; para ele, estado das salas é "sórdido e lastimável"
Maluf invade escola para fazer campanha
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
KELLY CRISTINA
DA FOLHA ONLINE
O candidato à Prefeitura de São
Paulo pelo PP, Paulo Maluf, causou confusão ontem ao fazer uma
visita inesperada à escola de lata
Gonzaga do Nascimento, em Parelheiros (zona sul de São Paulo).
Sem autorização oficial, o ex-prefeito entrou na escola, conversou
com algumas crianças e fez imagens para a campanha eleitoral.
"A intenção era mesmo dar
uma incerta", afirmou Maluf, que
chegou ao local com cerca de 15
pessoas, entre assessores, jornalistas e funcionários da gravadora
contratada por ele.
"Foi uma invasão", rebateu a diretora da escola, Marta Fernandes
Teixeira Gonçalves. "Nem ele
nem a imprensa poderiam entrar.
Ele sabia que a entrada não tinha
sido autorizada e não respeitou."
A passagem de Maluf pelo portão da escola foi consentida por
um porteiro, que abriu o cadeado
assim que avistou o ex-prefeito.
Em seguida, Maluf e a comitiva
aguardaram em um andar intermediário uma permissão oficial.
Cerca de dez minutos depois, o
porteiro disse que ninguém estava autorizado a entrar.
"Nem eu?", indagou o candidato do PP. "Não. Não era para eu
ter aberto o portão, mas eu não
sabia", respondeu o funcionário
da escola.
A conversa foi interrompida pelo assessor do candidato a vereador Elias Xavier (PP), Antonio
Cavalcanti, que se colocou como
intermediário na negociação entre a diretora e o ex-prefeito -ele
chegou à escola com Maluf. "Ela
autorizou a entrada só do senhor", disse Cavalcanti.
O ex-prefeito conversou com a
diretora e foi ao refeitório, onde
falou com algumas crianças -no
local, há uma placa de inauguração com o nome do então prefeito, Celso Pitta (1997-2000), ex-afilhado político de Maluf.
Ao sair, Maluf disse que os jornalistas foram "censurados" pela
prefeita Marta Suplicy (PT), reclamou da merenda ("doce de leite
com mexerica") e do estado "sórdido e lastimável" da escola.
"A diretora me disse que não
pode mostrar a escola porque o
estado é lastimável, está toda enferrujada. Quando tem sol, ela
disse, fica uma sauna. Quando
chove, não se pode ouvir porque
[a lata] amplifica o barulho [da
chuva]", disse o candidato.
Ao escutar a declaração gravada
de Maluf, a diretora chorou. "Eu
não falei nada disso. Disse apenas
que ele não poderia entrar. Eu me
sinto enganada", disse Marta.
Segundo ela, o portão da escola
foi aberto por ingenuidade do
porteiro. "Ele [Maluf] subiu para
falar comigo por iniciativa própria. Maluf também me pediu para entrar e beijar as crianças. Eu
disse que não gostaria, mas mesmo assim ele o fez. Eu não poderia
fazer uma barreira humana para
impedir", afirmou Marta.
O coordenador de Educação da
Subprefeitura de Parelheiros,
Paulo César Deloroso, disse que,
sem autorização da Secretaria da
Educação, é vedada a entrada de
pessoas que não sejam parentes
dos alunos -hoje estudam na escola visitada por Maluf cerca de
900 crianças de quatro a seis anos.
A Secretaria da Educação informou que Marta assumiu a prefeitura com 61 escolas de lata -10
foram substituídas por prédios de
alvenaria, 34 estão em obras e 17
ainda serão substituídas.
No mês passado, Paulo Maluf
causou polêmica ao entrar na UTI
de um hospital de São Paulo para
fazer campanha.
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