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Caso sobre Ministério Público tende a ter
solução meio-termo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A exemplo do que ocorreu no
julgamento da cobrança da contribuição previdenciária de servidores inativos e pensionistas, o
STF (Supremo Tribunal Federal)
tende a adotar uma solução meio-termo também na decisão sobre o
poder do Ministério Público de
promover investigações criminais, no início de setembro.
Nos dois casos, a saída intermediária tem sido estimulada pelo
presidente do STF, Nelson Jobim.
Ex-deputado, ex-ministro da Justiça e o mais político dos 11 integrantes do tribunal, ele tem promovido intensas articulações com
as partes interessadas em cada
ação. Amanhã irá se reunir em
Florianópolis com promotores de
Justiça para discutir o poder de
atuação deles.
A Folha apurou que, em relação
ao Ministério Público, a tendência
é admitir que ele promova determinados tipos de investigação,
mas impor restrições à forma como ele atua hoje.
Por exemplo, o Supremo poderá condicionar o reconhecimento
do poder de investigação criminal
de promotores de Justiça e procuradores da República à aprovação
de regras internas de conduta para conter abusos, o que já está em
discussão tanto no Ministério Público Federal quanto no Ministério Público dos Estados.
Essa solução agradaria de um
lado ao governo, que se sente exposto à sanha investigatória de
procuradores, e de outro aos próprios integrantes do Ministério
Público, para quem a perda do
poder de fazer investigações implicará um grande retrocesso no
combate à corrupção.
Interesses
"Se a decisão for nesse sentido,
atenderá aos interesses da sociedade, sem atingir as competências
constitucionais", disse o ex-presidente da Conamp (Associação
Nacional dos Membros do Ministério Público), Marfan Vieira.
Outra possibilidade é o STF permitir que promotores e procuradores complementem auditorias
do fisco e sindicâncias de outros
órgãos públicos, mas desautorizá-los a interrogar pessoas suspeitas
de praticar crime, porque essa seria uma tarefa típica do inquérito
policial, que deve ser conduzido
por delegado. Nessa hipótese, a
perda de poder será parcial.
Tanto nesse caso quanto no da
contribuição dos inativos, o julgamento foi suspenso por pedido de
vista de algum ministro e foi seguido por forte articulação posterior. No julgamento de anteontem, o governo conseguiu reverter a perspectiva de derrota. No
futuro julgamento, o Ministério
Público aposta na virada.
Inquérito
O STF examina um inquérito
específico, em que o deputado Remi Trinta (PL-MA) foi acusado de
desviar R$ 700 mil do SUS (Sistema Único de Saúde) em clínica
médica de sua propriedade.
O deputado pede o arquivamento, alegando que a Procuradoria da República não poderia
tê-lo acusado apenas a partir de
auditoria do Ministério da Saúde
e apurações complementares de
um procurador, sem que tenha
havido inquérito policial.
O plenário iniciou esse julgamento em outubro de 2003. O relator, Marco Aurélio de Mello,
disse que só a polícia pode realizar
investigações criminais e, por isso, votou pelo arquivamento. Jobim o acompanhou, e Joaquim
Barbosa pediu vista.
Gestões do procurador-geral da
República, Claudio Fonteles, no
próprio STF evitaram a retomada
do julgamento em junho, quando
a solução intermediária ainda não
havia sido construída. O caso servirá de referência para decisões
em processos semelhantes.
(SILVANA DE FREITAS)
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