São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Caixa pode abrir licitação para contratar outras empresas; multinacional está envolvida no caso Waldomiro

GTech perde no STJ monopólio em lotéricas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pivô de um suposto caso de tráfico de influência no governo Luiz Inácio Lula da Silva, a multinacional GTech perdeu no STJ (Superior Tribunal de Justiça) uma longa disputa, que se arrastava havia quase quatro anos e lhe garantia o monopólio do processamento de dados das casas lotéricas do país.
Por unanimidade, a Corte Especial do STJ liberou a Caixa Econômica Federal a licitar os serviços e contratar mais de uma empresa para a captação e transmissão on-line dos dados, uma decisão que abre caminho para a saída da GTech do negócio. Em nota, o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, comemorou a decisão.
A Folha apurou, porém, que nova prorrogação do contrato com a multinacional será inevitável em maio de 2005. Embora o banco queira concluir em outubro o domínio da inteligência do processamento de dados, o tempo que resta até o vencimento do contrato é insuficiente para fazer a licitação e trocar os prestadores de serviços sem interromper os serviços das 9.000 casas lotéricas.
Estudo da Superintendência de Projetos Especiais da Caixa estimou em 18 meses o prazo mínimo para substituir todas as operações da GTech a partir do momento em que o banco fosse liberado a fazer a licitação, bloqueada pela Justiça desde 2000 a pedido da multinacional.
Desde 1997, a GTech é responsável pela captação de transmissão de dados da rede lotérica. O contrato rende cerca de R$ 25 milhões por mês à multinacional. Tornou-se polêmico sobretudo depois que o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz foi flagrado tentando fazer lobby em favor da prorrogação do contrato da GTech com a Caixa. O contrato foi prorrogado em abril do ano passado por 25 meses.
O caso rendeu à GTech uma investigação por corrupção nos Estados Unidos pelo equivalente da Comissão de Valores Mobiliários, a Securities and Exchange Commission. Para negar o suposto tráfico de influência, a Caixa insistia em que estava impedida por ações judiciais a substituir a GTech sem paralisar a operação das casas lotéricas.
O STJ deu razão à União e apontou prejuízo de R$ 232,5 milhões para sustentar a decisão. Esse seria o valor atualizado de cálculo anterior do TCU (Tribunal de Contas da União) para danos causados pela permanência da GTech no negócio ainda na gestão Fernando Henrique Cardoso.
A Caixa não divulgou detalhes da licitação, mas é certo que ela não ficará restrita a uma só empresa prestadora de serviços, como insistia a GTech. Por meio de nota, a multinacional disse que quis "apenas eliminar barreiras que impediam sua participação em processos licitatórios". A decisão do STJ não a proíbe de disputar uma fatia do negócio.

Inquérito
A Corregedoria da Polícia Federal abrirá inquérito para apurar se houve excesso na operação de busca e apreensão na sede da Caixa na semana passada. Os objetivos são: embasar punição ao delegado Antonio César Nunes, que investiga Waldomiro, e aplacar as críticas do PT à atuação da PF.
O pedido será feito pelo presidente da Caixa, Jorge Mattoso, filiado ao PT, cujas reclamações fizeram a sigla repudiar a ação. A abertura de inquérito foi negociada pelo ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) com Mattoso.
No mesmo dia da operação da PF na Caixa, a juíza Maria de Fátima Pessoa avaliou que houve "excesso" e mandou a PF devolver o material imediatamente, o que só ocorreu 28 horas depois.
(MARTA SALOMON)


Colaborou a Sucursal de Brasília

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