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Interesses setoriais orientam financiamento de campanha
Lula recebe mais doações de grupos beneficiados pela atual política econômica
Quadro difícil de imaginar há quatro anos, bancos e
empreiteiras devem investir mais na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que no candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin.
A avaliação parte dos comandos das duas campanhas. Quase ninguém gosta de falar abertamente sobre o assunto -mais espinhoso depois do escândalo
do mensalão. Mas o mapeamento feito pela Folha entre lideranças de importantes setores da economia
revela que o pragmatismo continua orientando as
decisões empresariais também na hora de doar e
declarar (ou não) apoio a candidatos.
Para atuar no jogo eleitoral, detentoras de concessões públicas até burlam a lei que as impede de fazer contribuições a campanhas. A expectativa de vitória de cada concorrente é um dos fatores que mais
pesam na hora de pôr a mão no bolso.
Mas é equivocada a idéia preconcebida de que o
empresariado age em bloco. Pesos-pesados como o
grupo Votorantin e a CSN tendem a privilegiar
Alckmin, assim como o setor do agronegócio. Leia a
seguir levantamento sobre as preferências eleitorais de alguns setores da economia.
CATIA SEABRA
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Parceiros históricos da arrecadação do PSDB, os bancos
devem abastecer mais o caixa
da campanha de Lula. As coordenações das duas campanhas
admitem a tendência, estimulada pelos altos lucros do setor.
A migração já pôde ser verificada nas doações para as direções partidárias. Em 2002, os
bancos deram R$ 6,45 milhões
para o PSDB paulista e nacional
e R$ 520 mil para o PT nacional
e paulista. Em 2004, já sob a
gestão de Lula, o PT recebeu R$
5,7 milhões. O PSDB ficou com
pouco mais de um quinto desse
valor, R$ 1,7 milhão.
Construção civil
Embalado pelo aumento das
linhas de crédito para aquisição
de imóveis, o setor tende a
apostar suas fichas também no
candidato do PT. As linhas de
crédito para essas operações
saltaram de R$ 2,2 bilhões, em
2003, para estimados R$ 9 bilhões em 2006.
Com R$ 73 milhões, o setor
foi o maior financiador das eleições municipais de 2004, segundo estudo da ONG Transparência Brasil.
O setor criou neste ano uma
associação, a UNC (União Nacional da Construção), pela
qual leva aos candidatos os
pleitos dos empreiteiros. Eles
pedem R$ 51 bilhões anuais em
investimentos do governo federal para os próximos anos.
As entidades representativas
dizem não ter preferências,
mas, na comparação que fazem
entre as gestões Lula e FHC, a
do petista vai melhor. "O Fernando Henrique exagerou na
dose de cuidar da política monetária", diz o presidente do
Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), João Cláudio Robusti.
Siderurgia
Beneficiado pelo alto crescimento da China e da Índia, e o
conseqüente aumento de preços de seus produtos no mercado internacional, o setor de siderurgia e mineração deverá
colaborar com as duas principais campanhas. Os petistas
apostam que o desempenho do
setor renderá generosas doações ao partido. Mas a Gerdau
Açominas já se comprometeu a
ajudar o PSDB e a CSN, de Benjamin Steinbruch, teria contribuído com Alckmin.
Papel e celulose
Organizado, o setor deverá
fazer doações conforme faturamento de empresas e potencial
do candidato, segundo expectativa do PT e PSDB. Mas haverá
outras colaborações espontâneas, como as já feitas pela Votorantim a Alckmin. Segundo
tucanos, a doação foi, até agora,
equivalente à feita em 1998 para a reeleição de FHC.
Calçados e têxteis
Abalado pela política cambial
e de juros, o setor têxtil poderá
ter participação menor nessas
eleições. Presidente da Coteminas, da Abit e filho do vice-presidente José Alencar, Josué
Gomes diz que, "por pena", os
candidatos deverão poupar a
indústria têxtil neste ano.
No setor calçadista do Rio
Grande do Sul, o problema é
basicamente o câmbio, mas não
há preferências por candidaturas ou partidos.
""Isso nem chegou a ser discutido. Trabalhamos com qualquer governo. Mas é difícil alguém prometer um câmbio diferente", diz Ricardo Wirth, vice-presidente da Abicalçados
(Associação Brasileira dos Calçados).
Varejo
Preocupado com uma trajetória de desaceleração nas vendas de bens duráveis e semi-duráveis, como móveis e eletrodomésticos e tecidos, vestuário e
calçados, o comércio varejista
tenderia a apoiar a candidatura
de Alckmin. Mas Samuel Klein,
das Casas Bahia, seria um dos
maiores entusiastas de Lula.
Telecomunicações
Parte dos sócios da Telemar e
Brasil Telecom vêem com simpatia a reeleição do presidente.
Isso permitiria que fosse mantida a atual linha de gestão de
negócios dos fundos de pensão
ligados às estatais, donos de
boa parte das duas companhias. Além disso, os integrantes do governo têm bom trânsito junto à Andrade Gutierrez,
pois o presidente Lula mantém
laços de amizade com o empreiteiro Sérgio Andrade.
Outro sócio das duas teles, o
Opportunity, vai na mão contrária. O banqueiro Daniel
Dantas, que diz ser perseguido
por parte dos petistas, declarou
voto em Alckmin.
No caso da Telefônica, há clara insatisfação com o governo.
Nos bastidores, os espanhóis
consideram que o PT e o
PMDB, com poder no Ministério das Comunicações, estão
próximos às redes de televisão.
A preferência é por Alckmin.
Montadoras
Os fabricantes alegam que há
restrições legais em seus países
de origem para contribuições
de campanha. Prometem
apoiar os candidatos com o fornecimento de carros para a disputa por intermédio das concessionárias, o que costuma
acontecer só na reta final.
Usineiros
Segundo o presidente da
Unica (União da Agroindústria
Canavieira), Eduardo Pereira
de Carvalho, o setor, que passa
por "um momento excepcional", contribuirá na eleição. Em
São Paulo, diz, Alckmin adotou
medidas importantes, como a
redução da alíquota do ICMS
sobre o álcool hidratado. Mas
Lula é "o maior garoto-propaganda do setor".
Agronegócio
O setor do agronegócio talvez
seja um dos mais hostis a Lula.
O vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura e
Pecuária, Macel Félix Caixeta,
filiado ao PSDB, considera que
a política do governo Lula para
o setor foi um "desastre total".
"A agricultura está numa situação de insolvência", afirma.
Em Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, a maioria dos fazendeiros apóia a candidatura de Alckmin, segundo
lideranças da categoria.
"O Lula tinha que cumprir
mais os compromissos. Da outra vez, o Blairo [Maggi] apoiou
o Lula. A gente até foi na balada
junto. Só que ele está falhando
com os produtores", diz o vice-presidente da Associação dos
Produtores de Soja de Mato
Grosso, Nadir Sucolotti.
Já a indústria do suco de laranja está entre os potenciais
doadores do PT. O setor tem interesses em decisões do Cade e
se relaciona mal com o PSDB
desde a desapropriação de um
terreno da Cutrale no governo
Mario Covas.
Colaboraram MALU DELGADO, da Reportagem
Local, e a Agência Folha
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