São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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Uma família, três candidatos a presidente

DÉBORA YURI
DA REPORTAGEM LOCAL

Poderia ser um seriado americano, com o mote "tudo em família, nada em família". Mas aconteceu em São Paulo, na quinta, entre familiares politicamente rivais. Sangue do mesmo sangue, eles se dividem entre os presidenciáveis Lula (PT), Alckmin (PSDB) e Heloísa Helena (PSOL), a preferida.
O cenário: apartamento em um condomínio no Jardim Marajoara, bairro de classe média alta na zona sul. A sinopse: a família se reúne para ver o horário eleitoral na TV à noite.
Carlos Augusto Ignácio Rocha, 43, gerente de vendas, é o pai. "Tendo a votar de novo no Lula, porque não vejo outra opção. Fui petista a vida inteira. O cara que foi PT nunca vai votar no PSDB, assim como um corintiano jamais se tornará palmeirense."
Começa o programa de Lula, que fala em filé mignon ao som do jingle "São milhões de Lulas povoando esse país".
André Luiz Ignácio Rocha, 35, administrador, é o irmão caçula do pai, se manifesta: "Fiquei chateado com o Lula, por tudo que não foi cumprido, pelo braço direito dele ter feito o que fez e ele dizer que não sabia de nada. Sou Alckmin, um cara esclarecido. O problema dele é só ser conhecido em SP". Ele retruca quando Lula fala em empregos e salários: "É, dá pra ver pelo meu salário. E eu não estou conseguindo nada melhor".
Victor Leal Rocha, 21, estudante de direito do Mackenzie e estagiário, é o filho primogênito. "Gostava tanto do Lula, ele chegou lá pelo povo, e me decepcionou. Hoje o PT é o PSOL. Sou Heloísa."
Segue o programa de Lula, e o pai o defende: "Tudo isso que ele tá falando na TV é verdade". O primogênito retruca: "Tá, pai, ele dá dez para os outros e um pra gente". Ele estranha ver um jovem que vive num condomínio fechado usando o sujeito "a gente".
Veronice Aparecida Leal Rocha, 41, professora, é a mãe. "Sou Heloísa convicta, porque me senti traída pelo PT quando começou a história da corrupção. Ela é mulher. Mulher sabe administrar melhor que homem."
Marcel Leal Rocha, 16, estudante, é o filho caçula. Voltando da academia do condomínio, ele não sabe quem são os principais presidenciáveis. "Meu negócio é futebol." "Ele não tirou o título e, quando fizer 18, vai votar por obrigação", explica o pai.
Platéia em silêncio para ver a aparição da presidenciável mais popular da sala. O bordão na TV: "Coração valente, Heloísa presidente". "Já acabou?", reclamam após um minuto.
Alda Maria dos Santos Leal, 59, dona-de-casa é a avó. Seu marido, o comerciante Vanfrido dos Santos Leal, 66, o avô. Ambos também são PSOL. A liderança da senadora, porém, destoa do quadro eleitoral retratado pelas pesquisas. No último levantamento Ibope, Heloísa tem 12%. Lula lidera com 47%, e Alckmin tem 21%.
Voltando à reunião familiar, quando Alckmin entra em cena, o grupo se dispersa em conversas paralelas. Alguém acha que o tucano tem mais tempo na tela que o petista. "É que o programa do empolgante Geraldo é enfadonho", ironiza o pai. No fim, tudo acaba em pizza. Ou melhor: em minibaguetes recheadas de salame e queijo para acompanhar a novela de Manoel Carlos.


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