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Uma família, três candidatos a presidente
DÉBORA YURI
DA REPORTAGEM LOCAL
Poderia ser um seriado
americano, com o mote
"tudo em família, nada em
família". Mas aconteceu
em São Paulo, na quinta,
entre familiares politicamente rivais. Sangue do
mesmo sangue, eles se dividem entre os presidenciáveis Lula (PT), Alckmin
(PSDB) e Heloísa Helena
(PSOL), a preferida.
O cenário: apartamento
em um condomínio no
Jardim Marajoara, bairro
de classe média alta na zona sul. A sinopse: a família
se reúne para ver o horário
eleitoral na TV à noite.
Carlos Augusto Ignácio
Rocha, 43, gerente de vendas, é o pai. "Tendo a votar
de novo no Lula, porque
não vejo outra opção. Fui
petista a vida inteira. O cara que foi PT nunca vai votar no PSDB, assim como
um corintiano jamais se
tornará palmeirense."
Começa o programa de
Lula, que fala em filé mignon ao som do jingle "São
milhões de Lulas povoando esse país".
André Luiz Ignácio Rocha, 35, administrador, é o
irmão caçula do pai, se manifesta: "Fiquei chateado
com o Lula, por tudo que
não foi cumprido, pelo
braço direito dele ter feito
o que fez e ele dizer que
não sabia de nada. Sou
Alckmin, um cara esclarecido. O problema dele é só
ser conhecido em SP". Ele
retruca quando Lula fala
em empregos e salários:
"É, dá pra ver pelo meu salário. E eu não estou conseguindo nada melhor".
Victor Leal Rocha, 21,
estudante de direito do
Mackenzie e estagiário, é o
filho primogênito. "Gostava tanto do Lula, ele chegou lá pelo povo, e me decepcionou. Hoje o PT é o
PSOL. Sou Heloísa."
Segue o programa de
Lula, e o pai o defende:
"Tudo isso que ele tá falando na TV é verdade". O primogênito retruca: "Tá, pai,
ele dá dez para os outros e
um pra gente". Ele estranha ver um jovem que vive
num condomínio fechado
usando o sujeito "a gente".
Veronice Aparecida
Leal Rocha, 41, professora,
é a mãe. "Sou Heloísa convicta, porque me senti
traída pelo PT quando começou a história da corrupção. Ela é mulher. Mulher sabe administrar melhor que homem."
Marcel Leal Rocha, 16,
estudante, é o filho caçula.
Voltando da academia do
condomínio, ele não sabe
quem são os principais
presidenciáveis. "Meu negócio é futebol." "Ele não
tirou o título e, quando fizer 18, vai votar por obrigação", explica o pai.
Platéia em silêncio para
ver a aparição da presidenciável mais popular da sala. O bordão na TV: "Coração valente, Heloísa presidente". "Já acabou?", reclamam após um minuto.
Alda Maria dos Santos
Leal, 59, dona-de-casa é a
avó. Seu marido, o comerciante Vanfrido dos Santos Leal, 66, o avô. Ambos
também são PSOL. A liderança da senadora, porém,
destoa do quadro eleitoral
retratado pelas pesquisas.
No último levantamento
Ibope, Heloísa tem 12%.
Lula lidera com 47%, e
Alckmin tem 21%.
Voltando à reunião familiar, quando Alckmin
entra em cena, o grupo se
dispersa em conversas paralelas. Alguém acha que o
tucano tem mais tempo na
tela que o petista. "É que o
programa do empolgante
Geraldo é enfadonho", ironiza o pai. No fim, tudo
acaba em pizza. Ou melhor: em minibaguetes recheadas de salame e queijo
para acompanhar a novela
de Manoel Carlos.
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