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JANIO DE FREITAS
O factóide
Há uma simpática e quase
promissora mensagem implícita na disputa eleitoral no
Rio: "o marketing que elege é
o mesmo que arruína".
Cesar Maia aderiu à moda
do marketing como nenhum
administrador público o fizera antes. Nos últimos cinco
anos, senão mais, estudou todos os trabalhos estrangeiros
tidos como importantes na
matéria, com dedicação especial ao marketing e marqueteiros políticos.
Prefeito do Rio até 97, só
agiu e falou em conformidade
com as técnicas de marketing.
Convicto de que a zona sul
funcionaria como alto-falante, Cesar Maia privilegiou-a.
Gastou barbaridades em mera
maquiagem do que não precisava desses cuidados -e muito mais impressões negativas
do que favoráveis às gaiatices
decorativas, cujos custos inúteis chegaram a absurdos como postes pagos a US$ 10 mil
cada.
Escolhido um ponto estratégico, entrada do túnel de Copacabana para o centro, ali
espichou por quase dois anos
uma obrinha para fortalecer-lhe a imagem de realizador-modernizante.
Com o engarrafamento resultante, em mais de um ano
de alto calor quase ininterrupto, o que o marketing
obrou foi muita irritação geral.
Mas TVs e jornais continuaram a dar-lhe o destaque mais
promocional. Efeito que atribuiu não só à sua compreensão com certos problemas empresariais, mas, sobretudo,
aos factóides. Ou seja, à técnica de marketing, na qual se
considera imbatível, que consiste em levar a mídia a tratar
como fato real o que é só invencionice, no caso, do próprio Cesar.
Encerrado o mandato, criou
todos os casos e todas as bobices ("Vou afastar os que dormem nas calçadas usando
creolina") para ter espaços,
que não lhe faltaram mesmo,
na mídia do Rio. Isso, enquanto levava seu marketing
ao interior do Estado.
Era natural que Cesar Maia,
para maior suficiência dos
marqueteiros, entrasse na disputa eleitoral como grande
favorito. Ainda mais que o
candidato de Marcello Alencar não mostrava cacife nem
para se eleger vereador. E Anthony Garotinho vinha de
duas administrações muito
elogiadas em Campos, mas
não tinha bases no restante
do Estado, nem, com seu jeito
pacífico e tranquilo, agressividade para conquistá-las na
marra.
A inversão do favoritismo
de Cesar Maia em provável
derrota para Anthony Garotinho já no primeiro turno, como constata o Datafolha, é a
superação do ilusionismo do
marketing político pelo trabalho consistente e respeitoso
com o eleitorado.
Eleição, adverte o lugar-comum, é decidida na urna.
Mas o marqueteiro Cesar
Maia parece já se considerar
batido: seu programa eleitoral
é feito só de agressão ao adversário, e isso é suficiente como indicação.
Cesar Maia deve estar se
descobrindo um factóide de
Cesar Maia. O que é lamentável, lembrando-se que foi excelente secretário estadual e,
por certo tempo, bom parlamentar. Mas talvez as ruínas
feitas pelo marketing político
não sejam irrecuperáveis.
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