São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 2000

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QUESTÃO AGRÁRIA
No Rio, presidente afirma que ofensiva do MST é "eleitoral"
FHC compara sem-terra a funcionários públicos

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Fernando Henrique Cardoso comparou de forma pejorativa os integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) a funcionários públicos, classificou a ofensiva atual do movimento como "eleitoral" e afirmou que não aceita chantagem de ninguém.
FHC disse ainda, no Rio de Janeiro, que a ameaça de invasão da fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG), que pertence a seus filhos, é uma ação política, e deixou claro que ele, pessoalmente, não irá negociar. "Eu não sou negociador com sem-terra. Eu sou presidente da República."
Ao criticar o MST, FHC acabou atingindo os funcionários públicos. Segundo ele, o MST poderia buscar recursos no Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar). "Por que não vão pegar dinheiro no Pronaf? Porque querem dinheiro permanente, como se fossem funcionários públicos no campo."
FHC criticou a exigência do MST de liberação de uma verba extra de R$ 2.000 para 110 mil famílias a fim de custear a safra deste ano. "Há milhões de brasileiros que também querem, que precisam de dinheiro, estão na terra e não estão fazendo chantagem, não estão ameaçando", afirmou.
O presidente disse que está "preocupado" com o desvio de dinheiro em assentamentos. "Estou preocupado também com o desvio de dinheiro, houve muito desvio de dinheiro em algumas cooperativas."
Para FHC, as últimas ações do MST pelo país, incluindo o acampamento em frente à fazenda de sua família, são eleitorais. Mas, na opinião do presidente, vão acabar prejudicando os partidos que, tradicionalmente, apóiam o movimento. "É um tiro no pé."
Sem recorrer a exemplos, ele afirmou que os partidos que normalmente dão sustentação ao MST não o estão apoiando agora. "Eles estão percebendo que o Brasil não quer desordem, quer progredir." Para FHC, "a transformação do MST em um movimento político que desafia a ordem democrática, desafia o presidente da República e que leva crianças, o que contraria o Estatuto da Criança, é uma irresponsabilidade".
Segundo ele, essa ameaça de invasão não é uma questão fundiária. FHC disse que ninguém pode ameaçar "autoridades constituídas". "Não se pode, em uma democracia, desrespeitar a autoridade constituída e chantagear: ou faz isso, que eu quero, ou eu entro na sua casa."
FHC afirmou ainda lamentar a "omissão do governo de Minas, que deveria estar tomando conta disso (a proteção da fazenda) em respeito à autoridade democraticamente constituída".
Ao ser questionado se defendia a prisão das lideranças do MST, FHC respondeu que "qualquer pessoa que desacate a autoridade constituída, pela lei, tem que ser objeto de um inquérito."
"A lei é a lei. E a democracia exige isso", afirmou ele. "Porque, senão, quem quiser alguma coisa vai obter pela violência."
Ele ressaltou que é normal que haja pressão. "Mas pressão é uma coisa. Desacato é outra", disse FHC, que afirmou que não irá ceder às recentes pressões do MST.
FHC se irritou ao ser questionado sobre as notas em jornais de que a fazenda teria sido subavaliada ao ser declarada no Imposto de Renda. "Não tem nada a ver. É mentira. É intriga. Acho isso um desrespeito, sinceramente. Até a sua pergunta acho um desrespeito", afirmou, sem responder.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, que acompanhava o presidente, disse que "não haverá diálogo enquanto o MST não recuar".
Segundo o ministro, para abrir as conversações, o MST deve deixar de lado as ameaças de invasão da fazenda dos familiares do presidente e de prédios públicos. "Faço um apelo ao bom senso."
Ele afirmou que o governo quer dialogar, mas que será "absolutamente inflexível no que diz respeito à chantagem ou à ameaça". Para ele, não há endurecimento do governo na decisão de solicitar a prisão de militantes do movimento. "Existe uma desobediência, um desrespeito à lei. Cumpre a autoridade pública solicitar que a Justiça se pronuncie."


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